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Torrefadoras de café desaprovam proposta de cartelização


A proposta do deputado federal Carlos Melles (PFL/MG), que quer criar uma frente parlamentar entre os países da América Latina e do Caribe, com objetivo de estabelecer políticas comuns para sustentação dos preços, está sendo desacreditada entre as indústrias do setor. Além de ser considerada de difícil aplicação, a criação de mais uma entidade internacional concorreria diretamente com a Organização Internacional do Café (OIC), que trata, atualmente, das questões do setor, tanto do ponto de vista dos países produtores quanto dos importadores do grão.

"A OIC é a entidade que representa o café na elaboração de ações e projetos e seu fortalecimento faz com que não haja necessidade da criação de nenhuma outra frente", afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café. O executivo lembra ainda que, no Brasil, a existência do Conselho Deliberativo de Política Cafeeira (CDPC), faz o papel de definição das estratégias do setor.

A proposta apresentada pelo deputado, e que será entregue oficialmente à OIC em setembro, tem como objetivo reduzir a volatilidade dos preços do café e melhorar a renda dos produtores. "Temos que fazer um ordenamento da oferta mundial e proporcionar uma distribuição mais eqüitativa dos ganhos", afirma Melles.

A criação da frente parlamentar tem como objetivo direto proteger o agricultor que, segundo Melles, fez seu papel investindo em tecnologia e aumentando a produtividade. "Acho louvável a idéia de se proteger o cafeicultor, mas o mercado capitalista exige transparência nas ações e eficiência na produção. O esforço vale a pena, mas a missão é quase impossível", afirma Américo Sato, sócio-diretor do Café Floresta.

Livre mercado

O deputado, no entanto, defende que o governo crie regras para intervenção no mercado. Segundo ele, o setor produtivo não quer a volta do antigo Instituto Brasileiro do Café (IBC), mas, sim, regras para proteção. "Nos dez anos de livre mercado nenhum elo da cadeia produtiva registrou lucro", diz Melles.

No sentido oposto, o presidente do Café Damasco, Guivan Bueno, lembra todas as tentativas feitas para se regular o mercado de forma artificial nos últimos 100 anos não tiveram resultados positivos. "O diálogo é extremamente importante e sempre deve existir, mas a economia de livre mercado é a melhor reguladora", diz Bueno, que também é presidente da Abic.

Outro ponto que pesa contra a proposta do deputado é o fato de a confiança entre os produtores ter ficado arranhada depois do fracassado plano de retenção mundial, em 2000. Na época, os países produtores se comprometeram em reter parte de suas produções para elevar os preços internacionais, mas apenas o Brasil cumpriu o trato, perdendo espaço no mercado. "A criação dessa entidade vai gerar apenas gasto de energia, tempo e dinheiro", diz Bueno.

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