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Tradição inspira produtores de ca­fé


Mes­mo re­cla­man­do da ­atual cri­se, Os­car Ta­kas­hi ad­mi­te: ‘‘Fui cria­do com o ca­fé, te­nho ­amor por ­ele’’
O apego à tradição familiar é o que leva pequenos produtores da região de Lerroville, distrito na região sul de Londrina, a manter centenas de pés de café em suas propriedades. Eles afirmam que enfrentam grandes dificuldades ao comercializar o produto com as torrefadoras. O valor da saca, em torno de R$ 220,00, não lhes garante o ganho necessário.

O produtor Oscar Takashi, que cultiva um total de 22 alqueires junto com a família, calcula que cada saca tem um custo entre R$ 180,00 a R$ 190,00. ""Na hora de vender ficamos à mercê da torrefadora", afirma. Segundo Takashi, os compradores usam uma série de argumentos para desqualificar o produto. "Quando o dólar sobe, eles dizem que a bolsa de mercadorias caiu e vice-versa. Nunca o mercado está a nosso favor", critica. Este ano, a justificativa é a chuva. "Eles (compradores) nem avaliam o café; dizem que o café é "chuvado" e já colocam o preço lá embaixo", queixa-se.

"O ganho fica com o intermediário porque o consumidor acaba pagando um preço alto", avalia. Do outro lado, os produtores relatam a pressão dos custos. Mauro Vieira da Silva, que cultiva 4 alqueires, cita a escassez de mão de obra, que cobra um valor muito acima do correspondente ao valor da venda.

Segundo o produtor, os trabalhadores exigem atualmente R$ 7,00 por quilo de café colhido, que não passaria de R$ 3,50 se o trabalho fosse remunerado de acordo com o valor recebido pela saca. "Se a gente for pagar menos, simplesmente não encontra ninguém para trabalhar", afirma.

Com as dificuldades, os produtores optam por trabalhar sozinhos e contratar mão de obra somente na colheita. "Eu e minha mulher é que damos conta do recado", diz José Ramos de Nadai, que tem 5 alqueires. Em 2008, ano de safra cheia, Nadai colheu 600 sacas de café em coco. "Agora, não tenho produção, só cata", afirma.

A cafeicultura faz parte da história das famílias Takashi, Silva e Nadai. "Fui criado com o café, tenho amor por ele", declara Takashi. "Criei meus filhos na propriedade, eles foram ensinados a cultivar e até fazer mudas. Não vou abri mão disso", afirma Nadai.

Mauro Silva tem o mesmo sentimento. Ele chegou a tentar a vida na cidade, mas a tradição de agricultor o fez retornar. Porém, Silva sabe o que representa financeiramente esta opção. Segundo ele, se tivesse na zona urbana atuando como cobrador de ônibus, atualmente teria um salário de aproximadamente R$ 720,00. "Minha renda aqui não chega à metade disso", calcula.

As propostas que vêm sendo aventadas para a solução dos problemas do setor não atingem os produtores de Lerroville. "Ouvimos falar em leilões do governo federal que iriam pagar cerca de R$ 300,00 a saca. Mas não temos condições de oferecer o produto que querem", diz Takashi.

Segundo ele, os custos para a produção do café para os leilões não compensa. O produto tem que ser padronizado, a sacaria deve ser especial e o produtor ainda gasta para levar o café até os armazéns. "A gente teria que vender pelo menos 100 sacas e para atingir o padrão, precisaríamos de 200 sacas. Isto é completamente inviável", diz Silva.

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