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Trigo avança para o Brasil Central


Cereal segue o mesmo caminho da soja e do algodão e expande do Sul em direção ao Cerrado. A exemplo da soja e do algodão, que se expandiram da região Sul em direção do Brasil Central, o trigo parece seguir o mesmo caminho. Os bons preços do mercado internacional e as condições climáticas favoráveis ao cultivo estão estimulando grandes produtores do Centro-Oeste a produzirem o cereal. Neste ano, foram plantados 45 mil hectares de trigo irrigado na região, área 50% maior que a semeada no ano passado. "A área cultivada ainda é pouco representativa, mas tem enorme potencial para crescer", diz o pesquisador Márcio Só e Silva, da Embrapa Trigo, do Rio Grande do Sul. "Com as limitações de área para plantio no Paraná, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o Centro-Oeste tem tudo para se transformar em uma fronteira agrícola para o trigo no Brasil", diz.

As lavouras de trigo do Centro-Oeste estão avançando graças ao clima quente e seco no inverno. "A instabilidade climática na região Sul do País é muito grande, com a ocorrência de chuvas e geadas no inverno. No Centro-Oeste, o clima é mais previsível nesta época do ano", diz Paulo Magno Rabelo, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, o desenvolvimento de cultivares adaptados à região vem permitindo o avanço da cultura.

O grande diferencial do plantio no Centro-Oeste é a tecnologia. O trigo "durum" é cultivado em grandes fazendas em sistema de pivôs de irrigação. Com isso, sua produtividade é de 4,8 toneladas por hectare, 2,4 vezes maior do que a média brasileira. "Tudo indica que área de trigo irrigado pode facilmente quintuplicar de tamanho nos próximos três anos, para 200 mil hectares", prevê Silva. Os bons preços do trigo irrigado proporcionam um lucro de, no mínimo, R$ 800 por hectare, superior aos R$ 570 por hectare obtidos com o cultivo da soja no Centro-Oeste.

Nem mesmo o milho safrinha intimidou o cultivo do trigo. A saca de trigo, negociada hoje a R$ 32, vale 2,3 vezes mais que a saca de milho, negociada nos leilões de opção do governo a R$ 14.

Enquanto a área cultivada com grãos no Brasil deve ser 6,1% maior que a da safra passada, o trigo crescerá em ritmo mais acelerado. Neste ano, o cereal será cultivado numa área 15% maior, de 2,3 milhões de hectares. A produção estimada é de 4,5 milhões de toneladas de trigo, 55,7% superior à registrada na safra anterior.

Para o produtor, o grande estímulo para plantar é o preço, que não tem decepcionado. A tonelada do trigo argentino - referencial para o Brasil - que era negociada a US$ 145 em maio de 2003, foi cotada a US$ 156 neste ano, uma valorização de 7,6%. Desde 2000, a alta acumulada é de 22,8%.

De olho nos preços, o produtor rural Alberto Copetti, de Santo Ângelo, interior do Rio Grande do Sul, aumentou a área cultivada em 50%, para 90 hectares. Copetti diz que costumava plantar trigo como cultura preparatória à soja - sua "palhada" é utilizada no plantio direto durante o verão.

Com um custo de produção estimado em R$ 735 o hectare e perspectiva de vender a safra por um preço entre R$ 30 e R$ 32 a saca, seu lucro projetado é de R$ 550 por hectare plantado. "Neste ano, pela primeira vez em muito tempo acho que vou ganhar dinheiro com o trigo", diz o agricultor, que no ano passado teve prejuízo graças às geadas que ocorreram na fase de desenvolvimento e reduziram sua produtividade pela metade.

Para a indústria, o aumento da área cultivada chega em boa hora, uma vez que o País importa quase 60% de seu consumo, estimado em 10,5 milhões de toneladas. "Com a alta do dólar, fica mais caro importar. Por isso, temos todo o interesse de que o plantio aumente no Brasil", diz Adriano Campos, executivo do grupo La Fonte, que administra moinhos de trigo no Nordeste do País.

Para Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, apesar dos bons preços o triticultor deve ficar atento à safra argentina. "Se a Argentina colher uma supersafra, os sonhos brasileiros irão por água abaixo", diz.

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