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Trigo da Ucrânia fica mais caro com suspeita de fungo


Ministério retém parte de carga em portos de Fortaleza e Salvador. Com a retenção nos portos de Fortaleza (CE) e Salvador (BA) de parte carregamento de 82 mil toneladas de trigo provenientes da Ucrânia, está se fechando para os moinhos de trigo das regiões Norte e Nordeste a única janela pela qual se podia importar o grão mais barato que os US$ 219 - com frete - cobrados pela tonelada do produto argentino. Isso porque a constatação da existência de um fungo (Alternaria triticina) no produto ucraniano levou o departamento de defesa e inspeção vegetal do Ministério da Agricultura a fazer exigências que elevam o custo final da matéria-prima e tornam o negócio pouco atraente.

Em relação ao trigo que já desembarcou dos navios e apresentou o problema, os técnicos do Ministério da Agricultura determinaram a necessidade de tratar o grão com defensivo agrícola; submetê-lo a análise laboratorial; e (dependendo do resultado) só então liberar para processamento nos moinhos. Em relação a outras 120 mil toneladas adquiridas por empresas do Norte e Nordeste e que ainda estão por chegar, a desinfestação terá que ser feita a bordo dos navios.

"Não há problema nenhum com o grão, que é de excelente qualidade e não representa nenhum risco ao consumo. A preocupação é que o fungo venha eventualmente a afetar a lavoura brasileira, diminuindo a produtividade, por exemplo. É uma questão de precaução, uma vez que só num dos porões dos navios, que trazia 10% do volume contratado pelos moinhos da região, foi detectada a ocorrência do fungo no trigo", afirma José Honório Tófoli, presidente da Associação dos Moinhos de Trigo do Nordeste Norte do Brasil.

Sem vantagem

Na prática, segundo ele, as providência retiram o ganho de cerca de US$ 20 que o produto ucraniano representava em relação à tonelada do trigo argentino. "Além do tratamento químico do grão, os navios agora precisam demorar mais tempo nos portos e pagam por isso. Acabou a vantagem do trigo ucraniano". Embora o grão norte-americano pudesse chegar ao Nordeste a US$ 199, essa alternativa está descartada pela incidência da Tarifa Externa Comum (TEC), que onera em 11,5% produtos comprados fora do Mercosul. Em Chicago, os preços futuros do trigo subiram 30% em 12 meses.

"Como o governo não se dispõe a rever a questão do trigo no âmbito do Mercosul e, por outro lado, em função do preço ou fitossanidade é inviável importar de países, resta apenas contar com um eventual recuou do dólar após as eleições presidenciais e a nova safra argentina - a partir de janeiro de 2003", diz Tófoli, que também é vice-presidente do Grande Moinho Cearense.

Para este ano, no entanto, o prejuízo já estaria consolidado - o Ceará, por exemplo, que tradicionalmente importa 850 mil toneladas por ano ou cerca de 8,5% do total nacional, em 2002 vai reduzir o consumo em cerca de 6%.

Consumo menor

"Se o dólar não aliviar e a safra argentina ficar abaixo da expectativa, é difícil prever o que vai acontecer no próximo ano", diz Tófoli. A única pista é que permanecendo o cenário atual os preços da farinha de trigo e derivados devem continuar subindo, podendo impor retração de até 30% no consumo.

Ainda não ocorreu queda no consumo porque os moinhos não estão repassando todos custos. "Em janeiro, a tonelada custava R$ 286 e esta semana alcançou R$ 858,5. Um aumento de 200,16% no grão, mas só repassamos 105% para a farinha de trigo no período". Os estoques estão segurando os maiores reajustes.

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