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Trigo passa a ser opção lucrativa para o Cerrado

Cultura começou a ser uma opção lucrativa para as lavouras e vem crescendo a cada safra.


Foto: Pixabay

O Cerrado brasileiro é conhecido pela sua potência na produção de soja, milho e feijão. Por ser uma região quente em boa parte do ano, é propícia para o cultivo de diferentes culturas ao longo do ano, além das de cobertura de solo. Mas não é só de soja, milho e feijão que vive a terra do centro-oeste. Há 15 anos, com o desenvolvimento da cultivar de trigo da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), a cultura começou a ser uma opção lucrativa para as lavouras e vem crescendo a cada safra.

O cultivo do cereal no Cerrado começou de forma irrigada e o método já virou tradição, além de ter uma alta produtividade. Na safra atual, a região centro-oeste aumentou a área para 161,9 mil hectares (ha), com uma produtividade estimada de 2,6 toneladas (ton), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a prática de sequeiro vem sendo a aposta dos últimos anos, já que há perspectiva para o rendimento médio do trigo ter uma redução em comparação à temporada anterior, especialmente pelas questões climáticas, entre elas, a irregularidade das chuvas, segundo a Conab.

O trigo de sequeiro chegou à região por influência dos produtores de Minas Gerais, onde o cereal estava sendo uma venda alternativa na safrinha. No centro-oeste, a cultura se encaixou, graças ao exemplo dos produtores mineiros. O sorgo, que antes era plantado no centro do Brasil, deu espaço para o trigo, que além de gerar uma nova receita, trouxe inúmeros benefícios aos produtores. O cereal virou mais uma alternativa de rotação de culturas, porque ele entra depois do término da janela de plantio do milho safrinha. Com a opção, o produtor não precisa deixar áreas descobertas durante o inverno, pois tem a opção do grão.

No Cerrado, o trigo traz vantagens indiretas para soja, milho e feijão. Como produtor, até brinco que "para colher uma boa soja, tem que plantar trigo". Por ser rico em fósforo e potássio, é um adubo para a terra e melhora a qualidade do solo, auxiliando no aumento dos níveis de matéria orgânica. E os benefícios de plantar a cultura na safrinha vão muito além. O cereal melhora o desempenho da lavoura, quebra o ciclo das doenças de solo que atacam a soja como, por exemplo, a rizoctonia, melhora o controle de ervas daninhas e reduz multiplicação dos nematoides. O cultivo de soja após o trigo traz resultados comprovados. A produtividade da soja após o cultivo do cereal é de cinco a oito sacas a mais.

Há três safras, aposto no trigo como protagonista da produtividade da minha lavoura, além de incrementar o meu ganho. No primeiro plantio, foram 300 hectares. Por causa do clima, ele não teve uma boa performance. Já no segundo ano, apostei em 1100 hectares. No período, a produtividade do cereal subiu, pois foi um ano sem muitas chuvas, mas com frio. O preço para comercialização também melhorou, acompanhando as commodities.

Neste ano, foram 900 hectares dedicados ao cultivo do cereal. Como teve a estiagem, em algumas áreas, a semente se desenvolveu e em outras não. O que deu disformidade na lavoura. Mesmo com a ocorrência, terei uma produtividade 1800 quilos por hectare, por causa do clima que foi seco e frio.

Potencial brasileiro

O trigo safrinha é potencial do Brasil para acabar com a dependência do cereal de outros países. Atualmente, o Brasil colhe cerca de 6 milhões de toneladas de trigo por ano. Essa produção não supre a demanda interna. Mas a expansão do cultivo já vem crescendo. Eu já vi mais trigo plantado neste ano que nos anteriores. Se o Cerrado plantar 2,5 milhões de hectares, é possível acabar com a dependência do trigo argentino.

A Bahia, principalmente no oeste baiano, na região de Luís Eduardo Magalhães, tem dedicado áreas importantes para o cultivo do cereal e que podem expandir ainda mais. Da safra passada para a atual, a área plantada de trigo passou de 3 para 6 mil hectares segundo a conab. Um exemplo concreto do crescimento da cultura naquela região é a abertura de um moinho. Antigamente, a produção tinha que escoar até Salvador, o que trazia alto custo para o produtor. Outra boa notícia que dá ânimo e incentiva os produtores é a reativação do moinho de Brasília (DF), fechado há seis anos. O trigo colhido no fim de julho seguirá direto para a indústria. Não preciso armazenar, outra vantagem para diminuir meus custos.

Na minha visão, os produtores estão animados e tendo segurança para cultivar o trigo, principalmente nas áreas de sequeiro. O grande fator que dificulta o crescimento no Cerrado é justamente o clima seco na maior parte dos anos. Além disso, a Embrapa e outras empresas fizeram um grande trabalho desenvolvendo cultivares adaptadas para o sequeiro e há ainda a chegada de novas opções, como o trigo HB4 que nos deixa ainda mais animados para expandir as áreas da cultura, que antes só era possível no sistema irrigado. O Cerrado está impactando e irá revolucionar a produção de trigo no Brasil, já que traz benefícios para outras culturas, para os produtores com nova alternativa de renda, para a população com geração de empregos e para o país, desenvolvendo um novo mercado e reduzindo a sua dependência.

Enviado por Hélio Dal Bello é engenheiro agrônomo e produtor no Distrito Federal desde 1978. É consultor de safras, integrante da COOPA-DF e presidente da Associação Brasileira de Consultores de Feijão (ABC Feijão)

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