CI

Uma nova ameaça aos cítricos



"Morte súbita" já infectou 327 mil plantas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. O novo vírus da tristeza pode ser uma das causas da morte súbita dos citros (MSC) - que mata rapidamente as plantas de variedades tardias. "A nova linhagem da tristeza dos citros deve ser uma provável desencadeadora da doença", acredita Renato Beozzo Bassanezi, engenheiro agrônomo e pesquisador do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitros). Segundo Bassanezi, tanto a tristeza como a morte súbita são enfermidades de combinação. A MSC é uma doença da laranja-doce enxertada sobre o limoeiro-cravo. No caso da tristeza, o enxerto é sobre a laranja azeda. O engenheiro agrônomo comenta que "as duas têm sintomas parecidos."

No mapeamento realizado por pesquisadores observou-se que a distribuição das duas doenças é idêntica nos pomares. A MSC e a tristeza apresentam velocidades compatíveis de destruição da planta. A tristeza dos citros iniciou-se no Brasil, em 1937. "Em 13 anos, 9 milhões de plantas morreram" diz Bassanezi. À época, havia 11 milhões de plantas no estado de São Paulo. A tristeza é disseminada por pulgões ou por mudas contaminadas. "Se constatada a nova tristeza, o problema é grave", assegura Bassanezzi.

A planta com MSC pode morrer em alguns meses ou até mesmo em semanas. A doença foi detectada por técnicos do Fundecitrus, em fevereiro de 2001. O primeiro foco foi observado no município de Comendador Gomes, no estado de Minas Gerais, em talhões da variedade Valência enxertada sobre limão-cravo. A planta tinha 12 anos de idade. De acordo com Bassanezi, um levantamento realizado pelo Fundecitrus, de junho a agosto deste ano, identificou que já existem 327 mil plantas infectadas.

A doença está espalhada em pomares de 12 municípios do sul do Triângulo Mineiro e no norte do estado de São Paulo. Altair, Barretos, Colômbia, Guaraci e Olímpia são as cidades paulistas mais atingidas. O município de Colômbia foi o que apresentou maior contaminação: são 21 mil plantas infectadas de um total de 1,9 milhão de árvores. Só no estado de São Paulo, cerca de 85% dos citros são enxertados sobre o limoeiro-cravo. "A MSC está se expandindo ao poucos", afirma o engenheiro agrônomo.

Segundo Bassanezi, já existe um decreto da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, que impede a comercialização das mudas e borbulhas para regiões que não têm a doença. "É importante que a muda não saia da região doente, porque se for implantada em Limeira, por exemplo, a doença é transmitida", alerta. Já existem cerca de 30 pesquisadores de dez instituições nacionais e estrangeiras estudando a mais nova enfermidade.

O pesquisador comenta que desde o final de 99, em um pomar de cinco mil plantas, 10% delas estavam doentes. Em fevereiro de 2001, o índice havia subido para 86% de plantas mortas. "A doença é um risco potencial, pois as plantas morrem e deixam de produzir", completa. Segundo Bassanezi, os primeiros sinais do mal foram observados com a perda do brilho da folha. "Fica opaca, amarelada, como se estivesse necessitando de água", diz. Há ligeira desfolha, com poucas brotações novas e ausência das internas. Além de uma quantidade expressiva de raízes mortas. O ponto crucial é a coloração amarelada na casca do porta-enxerto, ou seja, uma degeneração dos vasos do floema - que, na prática, impede a passagem de seiva para a raiz.

Devido a essas observações, os pesquisadores imaginaram, primeiramente, que seria o declínio- uma outra doença de citros, que ainda não tem causa conhecida. Mas os estudos mostraram que as duas doenças apresentaram diferenças. A MSC, por exemplo, absorve água, apresenta o amarelamento da casca, além de não formar broto no interior da planta, como acontece com o declínio. "Com as diferenças, descartamos a possibilidade do antigo declínio ser um desencadeador da MSC."

Os pesquisadores também procuraram por fungos que pudessem atacar as raízes; bactérias no floema da planta e um viróide - vírus sem capa protéica. Nada foi localizado, garante o pesquisador. "Atuamos por eliminação; ainda não há certeza sobre um agente causador da súbita", afirma Bassanezi. Ele está preocupado com a temporada de chuvas de verão, que normalmente dá-se em meados de novembro. "Há previsão de aumento da doença com o início da chuva", diz.

Em abril, os pesquisadores vão realizar um novo levantamento sobre o mal. Por enquanto, a recomendação é que os citricultores produzam mudas em viveiros selados, evitem a plantação sobre o limoeiro-cravo, pois em um pouco tempo a planta morre. Além de evitar o transporte de mudas para regiões que não foram afetadas. Os produtores também devem diversificar o plantio do porte-enxerto-como de tangerina Cleópatra e Sunki e o citromelo Swingel, em substituição ao limoeiro cravo.

Esses porta-enxertos são tolerantes à morte súbita. "A mudança do porte-enxerto é um método de controle da doença", garante Bassanezi. Os pesquisadores estudam a possibilidade do porta-enxerto volkamericano também ser tolerante à morte súbita.

Soraia Haddad

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.