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Venda antecipada evita prejuízo maior

Em menos de cinco meses, as oscilações provocadas pelo clima e pela crise financeira levaram à desvalorização de até 50% na soja e no milho


A venda escalonada, que impediu que muitos agricultores americanos fossem obrigados a negociar sua produção na baixa, pode ser a salvação da lavoura também no Brasil. Na crise, a melhor receita para uma boa safra é planejar bem os custos e aproveitar os picos para travar preços, aconselha o analista Gabriel Gabriel Pesciallo, da consultoria brasileira AgRural nos EUA.

“O produtor tinha que estar vendido. Foi um erro não ter negociado mais quando a soja estava a US$ 14”, concorda Alvaro Ancêde, um brasileiro que está à frente do The Laifa Group, uma corretora norte-americana que atua na Bolsa de Chicago. “A safra norte-americana já está praticamente definida e será boa, mas não há dúvida que teremos recessão. Resta saber a profundidade da crise”, completa. Na sua avaliação, a soja vai oscilar entre US$ 9 e US$ 10 até o final de 2008.

“Com o crédito secando, os mercados de commodities tendem a se descolar dos fundamentos e seguir o comportamento dos ativos financeiros, que são mais voláteis”, explica Emily Scott, analista de soja do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Desde junho, os fundos de investimento têm se retirado do mercado de commodities, o que causa muita oscilação de preço, com baixas expressivas, completa Richard O’Meara, analista de milho do Departamento de Agricultura dos EUA.

Mas os picos do meio do ano também tiveram motivos fundamentais, pondera o analista do USDA Keith Menzie. “Aconteceram na época das enchentes”, recorda. No final de junho, após as chuvas que inundaram lavouras no Meio-Oeste, a soja alcançou US$ 16,58 o bushel (27,2 quilos) e o milho foi a US$ 7,5475 o bushel (25,4 quilos) na Bolsa de Chicago.

Após um período de forte retração, as cotações voltaram a subir em setembro, depois que o USDA cortou as estimativas para as safras de soja e milho dos EUA por causa das chuvas do início de junho e da estiagem de agosto. Resultado: a soja, em uma breve explosão de preços, foi a US$ 14,90 e o milho subiu para US$ 5,62. De lá para cá, com a crise financeira e novas reavaliações da safra norte-americana – desta vez para cima – os dois grãos fincaram o pé no terreno negativo. Desde o pico de junho, já perderam metade do seu valor. A soja desvalorizou-se 46% e o milho perdeu 47%.

Negócios na Bolsa aumentaram 20% em 2008

Em 2008, o volume de contratos negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) já aumentaram 20%, segundo dados da própria bolsa. No total, são hoje 14 milhões de contratos por dia, 850 mil de commodities agrícolas e metálicas. “A relação entre oferta e demanda é mais volátil atualmente, e isso se reflete nos preços”, afirma David Lehman, economista-chefe e diretor- executivo da bolsa. O crescimento do comércio global, os baixos estoques de alimentos, o etanol de milho e a depreciação do dólar foram, de acordo com o executivo, alguns dos fatores que levaram à explosão de liquidez.

Historicamente, segundo Lehman, o volume de produto negociado no mercado futuro é maior que a disponibilidade física. “Esse é um comportamento normal do mercado porque todos os elos da cadeia fazem hedge (proteção de preço) em bolsa. Não quer dizer que vai faltar produto”, esclarece o executivo.

A movimentação normal da CBOT seria o equivalente cerca de quatro safras mundiais de milho e dez de soja. No ano passado, foram negociadas na bolsa nove safras e meia de milho e 20 vezes o volume de soja produzido no planeta.

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