Venezuela garante exportação recorde de lácteos pelo Brasil
Nos primeiros sete meses do ano, o Brasil exportou um total de US$ 291 milhões em produtos lácteos
Quando se compara com o ano passado, é possível ver o enorme salto nas vendas. De janeiro a julho de 2007, a Venezuela havia comprado apenas US$ 8,8 milhões. Quer dizer, as exportações para o país vizinho cresceram 1.502%. Em 2007, o Brasil vendeu US$ 65,4 milhões à Venezuela. Em 2006, haviam sido US$ 34,5 milhões.
Jacques Gontijo, presidente da cooperativa Itambé, empresa brasileira que mais exporta lácteos à Venezuela hoje, admite que sem aquele mercado as vendas brasileiras do produto ao exterior "seriam um pouco menores". Mas o Brasil exportaria a outros países, afirma. Outros importadores dos lácteos nacionais são países africanos e Cuba.
Os embarques brasileiros de lácteos para a Venezuela ganharam corpo no fim do ano passado, quando o país vivia uma crise de escassez de alimentos. Na ocasião, o governo Chávez chegou a pagar cerca de 100 viagens de avião para transportar leite em pó brasileiro à Venezuela, tamanha a urgência pelo produto.
A Venezuela produz 1 bilhão de litros de leite por ano, mas tem uma demanda para 2,5 bilhões de litros, informa Gontijo. Nova Zelândia e Argentina sempre forneceram leite para a Venezuela, mas desde o fim de 2007, o Brasil vem ocupando espaço dos dois países.
Enquanto a Argentina tem dificuldades para atender à Venezuela por conta de restrições auto-impostas às exportações de alimentos, a Nova Zelândia - cujo principal exportador é a cooperativa Fonterra - deixou de embarcar leite à Venezuela por preferir não vender a governos. As importações de alimentos pelo governo venezuelano são feitas por meio da PDVAL, subsidiária americana da petrolífera PDVSA. Tais produtos são comercializados com preços subsidiados na rede de varejo Mercal.
A dependência de um mercado na exportação é uma preocupação, reconhece também Gontijo. Mas a perspectiva é de que os venezuelanos continuem a demandar o produto brasileiro. Segundo ele, a Venezuela já faz cotação de preços para embarque no primeiro trimestre de 2009. A estimativa é de que neste ano, o país compre 70 mil toneladas de lácteos do Brasil, 40% do que necessita importar.
O bom relacionamento entre os governos Lula e Chávez tem contribuído para o Brasil vender mais ao país, admite o presidente da Itambé. Mas não é só isso. "Ele [Chávez] também tem bom relacionamento com os Kirchner e não adiantou", diz referindo-se à presidente argentina Cristina Kirchner.
O secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, comemora a expansão das vendas para a Venezuela, mas adverte para os riscos de uma excessiva dependência do vizinho. "Os lácteos são a bola da vez. Em todo evento internacional que participamos, há sempre uma procura grande em relação a esses produtos. Nossos parceiros querem ampliar as compras", diz. "Mas Venezuela e Argélia, por exemplo, são mercados de risco, por questões de instabilidade política".
Porto compara a situação dos lácteos com a "russodependência" nas exportações de carne suína. "A concentração que ocorreu com os suínos para a Rússia se repete agora com os lácteos para a Venezuela", diz. Por isso, o governo tenta consolidar a abertura do mercado do México. Os mexicanos prometeram derrubar as barreiras aos lácteos brasileiros, mas a burocracia dos astecas tem dificultado essa expansão. Uma fábrica da Itambé já foi vistoriada pelos mexicanos, e a expectativa é começar a embarcar ao país em dois meses, segundo Jacques Gontijo.
Para Marcelo Costa Martins, assessor técnico da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o país ampliou as vendas à Venezuela por uma questão "de oportunidade de mercado". Ele diz que há grande demanda mundial por lácteos, assim, mais do que a dependência da Venezuela, o que preocupa é o câmbio, que pode dificultar o aumento das exportações.