CI

Vinhos brasileiros buscam espaço no exterior


A terra da cerveja e da cachaça prepara-se para conquistar as adegas de americanos, europeus e asiáticos. Com a melhora da qualidade das uvas e dos vinhos brasileiros nos últimos anos, algumas vinícolas começam a se voltar para o mercado externo.

Os números ainda são tímidos - foram 42 mil garrafas de vinho fino em 2002 -, mas o caminho está sendo traçado de forma bastante articulada. No ano passado, as vinícolas Miolo, Salton, Aurora, Casa Valduga e Lovara uniram-se para formar o consórcio "Wines from Brazil" e traçar estratégias conjuntas de marketing e promoção comercial.

"Os volumes são pequenos, mas significativos para preparar as empresas para começar a vender no exterior", afirma Eduardo Stefani, gerente do consórcio.

Stefani diz que a meta é aumentar as exportações em 50% ao ano nos próximos três anos.

O vinho brasileiro chega ao mercado externo na categoria "vinhos do Novo Mundo", fazendo concorrência com os da Argentina, Chile e até mesmo da Austrália. Como o vinho brasileiro é praticamente desconhecido no exterior, a construção de uma imagem de qualidade é um dos principais desafios do consórcio. "É um projeto de médio e longo prazos, pois estamos criando a imagem do vinho brasileiro a partir do zero", afirma Stefani. "Esta fase inicial é também o momento de adequação do produto e de prospecção de mercado."

Para o enólogo Sérgio Inglêz de Sousa, crítico da Wine Magazine, o vinho brasileiro tem enorme potencial para competir com os vizinhos do continente, mas antes será preciso aumentar a produção de uvas finas, chamadas viníferas. "Agora é o tempo de abrir mercado, fazer contatos, mas não podemos criar muita expectativa pois ainda não temos capacidade para atender uma demanda muito expressiva", diz Inglêz de Sousa. Ele acredita que em três a cinco anos haverá um aumento de 50% na produção de uvas viníferas, pois muitos vinhedos estão sendo reconvertidos para abrigar uvas de alta qualidade e novas plantações estão sendo feitas no sul do Rio Grande do Sul, região de Campanha, e também em Santa Catarina.

As vinícolas estão fazendo seus contatos. Sem capacidade para exportar volumes expressivos, a vinícola Miolo tem colocado seus produtos em restaurantes e casas especializadas nos Estados Unidos e na Europa. Os vinhos brasileiros também começam a participar de concursos internacionais, com algum sucesso. No ano passado, o Moscatel Terra Nova, da Miolo, ganhou a medalha de ouro em um concurso em Verona, na Itália, e o espumante Cave de Geisse, da Cave de Amadeu, localizada na região do Vale do Rio São Francisco, venceu o ouro em um concurso na Eslovênia. "No início o vinho brasileiro atrai pelo exotismo, mas logo a qualidade acaba sendo reconhecida", afirma Inglêz de Sousa.

Promoção comercial - Em seu primeiro ano, o consórcio "Wines From Brazil" participou de três feiras internacionais e contou com um orçamento de R$ 200 mil para promoção comercial, valor bastante modesto em comparação com o investimento argentino: R$ 1 milhão (US$ 350 mil). Para este ano, o consórcio espera dobrar esse orçamento, financiado em parte pela Agência de Promoção das Exportações (Apex), com uma contrapartida equivalente das empresas e também de algumas associações do setor, como a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).

Entretanto, como acontece com todo os programas de promoção da Apex desde o início do governo Lula, o "Wines From Brazil" está em fase de revisão e a verba só será liberada se o programa for renovado. Enquanto isso não acontece, o consórcio fez uma parceria com a Câmara de Comércio Italiana do Rio Grande do Sul para participar do Vinitaly de Verona, uma das maiores feiras do gênero, em abril. Para o segundo semestre, eles estão se preparando para feiras nos Estados Unidos e no Canadá. Além disso, as empresas querem trazer grandes compradores em setembro para a Abras, feira internacional de supermercados no Rio.

Como acontece com os demais setores exportadores, a carga tributária reduz a competitividade dos vinhos brasileiros. "No Brasil, 35% a 40% é tributo, enquanto na Argentina a tributação não chega a 20%", diz Stefani. Para discutir essas e outras questões ligadas à exportação e também ao mercado doméstico, está sendo formada em Brasília a Câmara Setorial do Vinho.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.