A Votorantim Celulose e Papel (VCP), que em junho adquiriu os 14,5 mil hectares da Fazenda Ana Paula, entre Hulha Negra e Aceguá, já tem um plano de utilização da área. A base florestal que a empresa pretende formar na propriedade terá de 8 a 9 mil hectares de eucaliptos, com o plantio de dois mil hectares por ano, iniciando a primeira fase do cultivo nas próximas semanas.
Para estes dois mil hectares iniciais, a VCP está fechando uma parceria com 10 agricultores da região, que irão cultivar neste verão soja e sorgo nas entrelinhas dos eucaliptos. O diretor florestal da VCP, José Maria de Arruda Mendes Filho, diz que o resultado da colheita será dividido entre os agricultores e a empresa, mas o percentual de cada parte ainda não está definido. Devido ao desenvolvimento do eucalipto, após três anos os grãos serão substituídos pelo pasto. A partir daí, o consórcio será realizado com atividades de pecuária.
Mendes Filho observa ainda que, na área da Ana Paula, existem cerca de mil hectares de acácia, que devem ser cortadas em 2009 para a substituição por eucaliptos. Também por meio de parceiros, a VCP pretende manter para este ano o cultivo que os antigos proprietários realizavam de 500 hectares de soja em pivô central e outros 500 hectares de arroz.
Os proprietários da Ana Paula venderam as terras para a Votorantim mas vão continuar utilizando parte da área para a criação de bovinos por meio de arrendamento. O número de animais irá diminuir progressivamente à medida em que a VCP aumente a extensão com eucaliptos. A propriedade, que contava com cerca de 14 mil animais das raças aberdeen angus e hereford, era considerada referência na produção de carne bovina de qualidade. Há dois anos o complexo agropastoril retomou a venda de cortes especiais com a marca Fazenda Ana Paula para o grupo português Sonae.
O programa será mantido porque hoje apenas 15% da carne sai da propriedade. O restante vem de mais de 70 pecuaristas parceiros que produzem seguindo os padrões da Ana Paula. Segundo Mendes Filho, parte do gado da Ana Paula já foi vendido, outros animais foram deslocados para outras áreas e a tendência é de que, por enquanto, entre 6 e 9 mil animais fiquem na propriedade.
Um dos motivos que levou o empresário do setor calçadista Ernesto Correa a se desfazer do empreendimento foi a proximidade com assentamentos do MST, que invadiu a propriedade há dois anos. Outro problema é o abigeato (furto de gado), questão em parte também atribuída a integrantes do movimento que vivem nas proximidades. A VCP, porém, prepara um plano para estreitar o relacionamento com os colonos.
"Somos uma empresa que precisa dar lucro, mas que também quer ser socialmente aceita", diz Mendes Filho. Para se aproximar dos assentados, a idéia é incentivar a agrisolvicultura em suas glebas, consorciando o plantio de eucalipto com a agricultura e a pecuária, ajudando a gerar renda para as famílias da região, em sua maioria vivendo em pequenas propriedades. "Nos próximos dias estaremos apresentando o programa chamado Poupança Verde para que essas famílias também trabalhem conosco", explica Mendes Filho, pregando que os novos vizinhos também "saboreiem uma fatia do nosso bolo".
No início do ano, a VCP anunciou que estava investindo R$ 100 milhões na compra de 40 mil hectares em 14 municípios da Metade Sul do Estado. Com a aquisição das áreas da Fazenda Ana Paula, a empresa é proprietária de aproximadamente 55 mil hectares no Rio Grande do Sul. Mendes Filho diz que existem negociações para a compra de novas áreas e que existe a possibilidade de comprar áreas no norte do Uruguai. Nos país vizinho, ressalta, o valor da terra "está mais em conta" em comparação com a região de Bagé. A idéia é decidir o que fazer com a matéria-prima só daqui a quatro anos. Entre as alternativas cogitadas estão uma fábrica de celulose e a exportação de toras e cavacos.
Crescimento
A VCP, uma das maiores empresas produtoras de celulose e papel da América Latina, teve no segundo trimestre de 2004 uma receita operacional líquida de R$ 763 milhões, um crescimento de 28% em relação a igual período de 2003 (R$ 596 milhões). A geração de caixa operacional (EBITDA) foi de R$ 342 milhões, 24% superior ao 2T03. A empresa também registrou uma nova marca de vendas de papel para o mercado interno, de 158 mil toneladas no trimestre. O resultado, o primeiro registrado pela VCP desde o início de 2003, reflete a melhora dos indicadores econômicos nacionais.
O lucro líquido, antes da equivalência patrimonial, foi de R$ 184 milhões, crescimento de 11% em relação ao mesmo período de 2003. A empresa tem quatro fábricas no estado de São Paulo, localizadas nos municípios de Jacareí, Luiz Antônio, Piracicaba e Mogi das Cruzes. A VCP administra ainda cerca de 115 mil hectares de áreas reflorestadas no País.
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