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Workshop discute como formar florestas de alto rendimento

Bloco de discussões em workshop trouxe o assunto "Formação de florestas de alto rendimento" para o debate.


O segundo bloco de discussões do workshop "Manejo para Uso Múltiplo – A Árvore de Pinus do Futuro", promovido pela Apre e Embrapa Florestas, que aconteceu na tarde do dia 14/09, trouxe o assunto "Formação de florestas de alto rendimento" para o debate. Foram quatro palestrantes: Rosana Higa, pesquisadora da Embrapa Florestas; Yeda Malheiros de Oliveira, também pesquisadora da Embrapa Florestas; Mário Dobner, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Julio Arce, da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e Antonio Higa, também da UFPR.

Mudanças climáticas

A primeira palestra foi realizada por Rosana Higa, que abordou o tema "Florestas de alto rendimento e as mudanças climáticas: ameaças e oportunidades". A pesquisadora ressaltou que apesar de todas as discussões e acordos assinados por países sobre as mudanças climáticas, o mundo ainda continua emitindo mais CO2 do que deveria, e a maior parte das emissões está no setor de energia. "Para mudar esse cenário, o maior potencial de mitigação está na nossa área, o setor florestal", declarou.

Como opções para a mitigação, Rosana citou a prevenção de emissão, sequestro de carbono, com o aumento dos reservatórios de carbono existentes, e a substituição. Segundo ela, esses são os três pontos que devem ser trabalhados.

No caso do Brasil, apesar de as emissões terem aumentado entre a década de 1990 e 2000, houve uma redução significativa de 41% até aqui, deixando o país como o que mais cortou emissões de carbono.

Mas esse tema tem que ser contextualizado na política. Em 2020, o mundo terá um novo acordo, que substituirá o protocolo de Quioto. No Acordo de Paris, ratificado nesta semana pelo Brasil, uma das metas é reduzir, até 2025, as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005. Para isso, o Brasil terá que adotar medidas adicionais que são consistentes com a meta de temperatura de 2°C. Nesse cenário, o setor florestal também terá papel importante, e a pesquisadora citou algumas ações: fortalecer o cumprimento do Código Florestal no âmbito federal, estadual e municipal; fortalecer políticas e medidas com vistas a alcançar, na Amazônia brasileira, o desmatamento ilegal zero até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito estufa provenientes da supressão legal da vegetação até 2030; restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, para múltiplos usos; e ampliar a escala de sistemas de manejo sustentável de florestas nativas, por meio de sistemas de georreferenciamento e rastreabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas, para desestimular práticas ilegais e insustentáveis.

A palestrante citou, ainda, o documento publicado neste ano pelas Organizações das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que diz que "as florestas são o cerne da transição para economias de baixo carbono". Como justificativa para a afirmação, Rosana destacou que "as florestas e produtos florestais têm um papel fundamental na mitigação e adaptação, não apenas por seu papel duplo como dreno e fonte de emissões, mas também pelo potencial de uso mais amplo de produtos de madeira em substituição de produtos de uso intensivo de combustíveis fósseis" (FAO 2016).

A palestrante mostrou ainda a experiência de outros países com relação ao tema e também um estudo coordenado pela Embrapa.

"Plantações florestais: geração de benefícios com baixo impacto ambiental"

Depois da palestra de Rosana Higa foi a vez da pesquisadora Yeda Malheiros de Oliveira falar sobre o documento "Plantações florestais: geração de benefícios com baixo impacto ambiental", gerado a partir de um estudo solicitado pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) para a Embrapa Florestas, em parceria com suas associadas estaduais. O documento está na fase final de editoração e será lançado até o fim do ano.

De acordo com Yeda, o estudo foi idealizado para trazer informações sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos dos plantios florestais. Com os dados levantados, a proposta é que a publicação também sirva de subsídio para as discussões relacionadas às políticas de governo.

"Partimos da hipótese que as plantações florestais possuem valor além dos propósitos comerciais a que se destinam, tanto no âmbito econômico, quanto no âmbito ambiental. Também citamos que o Brasil é um país com vocação florestal", lembrou.

Para realizar o estudo, os pesquisadores da Embrapa analisaram três indicadores: impactos socioeconômicos (área plantada, renda e emprego, geração de divisas e bioeconomia e inovação); impactos ambientais (boas práticas, substituição do uso da terra, mudanças do clima, água, solos, segurança alimentar, biodiversidade e paisagem e serviços ambientais); e a relação das plantações florestais e a sociedade (certificação florestal e diálogos com a sociedade e participação em fóruns representativos).

Ao fim da apresentação, Carlos Mendes, diretor executivo da Apre, comentou que a proposta da Ibá é que o setor florestal tenha um documento que mostra à sociedade e ao poder público o que é o setor florestal. "Esse estudo servirá para mostrar que a atividade florestal estar na lista de atividades potencialmente poluidora é uma incoerência", declarou.

Desbaste pelo alto

A terceira palestra da tarde abordou o tema "Desbaste pelo alto – uma alternativa para o Pinus taeda". Mario Dobner Jr, professor da UFSC, disse que o setor florestal tem diversificação da produção, e ressaltou que uma árvore pode gerar vários produtos. Para o manejo de multiprodutos, existem duas ferramentas: desbaste e poda. Segundo ele, para preços mais valiosos, a melhor opção é o desbaste. E dentro do desbaste, são duas opções: seletivo por baixo (o mais utilizado, por ser muito fácil) ou seletivo pelo alto (algo muito praticado na Europa).

O professor explicou que no desbaste seletivo pelo alto, faz-se a seleção de árvores potenciais pela dominância, qualidade e distribuição. Em seguida, remove-se as árvores concorrentes. "O objetivo do manejo é que as árvores cresçam de forma positiva, produzindo toras mais valiosas. O desbaste seletivo pelo alto traz maior potencial de crescimento diamétrico, maior eficiência no uso do espaço produtivo e melhores resultados econômicos", destacou.

Para justificar essa afirmação, Dobner mostrou aos presentes detalhes de um estudo que monitorou florestas em Santa Catarina ao longo de 30 anos. O levantamento concluiu que esse tipo de desbaste possibilita dobrar o resultado. "Por isso, essa pode ser uma alternativa para os produtores", concluiu.

Planejamento para o manejo

O penúltimo palestrante do dia, Julio Arce, professor da UFPR, fez uma apresentação sobre "Planejamento de sistemas manejo", e explicou que o manejo é uma forma de fazer a gestão da floresta para tirar algo a mais dela. Além disso, ele falou sobre o planejamento, que é fundamental no setor florestal.

"O manejo pode levar a extremos inimagináveis. A primeira pergunta que devemos fazer é quais produtos florestais queremos. Por de ser apenas um produto ou múltiplos produtos; temos muitas opções para escolher o que plantar, como plantar e como manejar. Mas uma vez que escolhermos o caminho, a opção para o que temos que colher já não é tão ampla, então os próximos 15 anos têm que ser muito bem planejados", salientou.

Para realizar o manejo florestal, o trabalho deve ser dividido em três etapas. O primeiro passo é identificar e classificar as áreas florestais, para destacar áreas contínuas e áreas dispersas. Em seguida, para cada área identificada é preciso fazer uma prescrição de regimes de manejo. A terceira etapa é pensar na simulação de crescimento e produção.

No fim da palestra, Arce afirmou que o planejamento estratégico é fundamental, e deve ser feito também em três níveis: definir estratégias, escolhendo como, onde e o que plantar; definir o objetivo e as restrições; e fazer fluxos de informações. "Depois do estratégico, passa-se para o planejamento tático e operacional. O tático é para médio prazo, enquanto que o operacional é de curto prazo. É preciso ter em mente que pensar previamente nos próximos anos ajuda muito", finalizou.

Melhoramento genético

Para encerrar o primeiro dia do workshop Apre/Embrapa, Antonio Higa, professor da UFPR, fez uma palestra sobre "Melhoramento genético como ferramenta para aumento da produtividade". Segundo ele, o melhoramento de pinus começou na década de 1970. Os resultados foram surpreendentes e já em 2000 foi possível perceber que o material da primeira geração propiciava ganhos de volume de 50%.

Para realizar um programa de melhoramento, o pesquisador disse, sinteticamente, que primeiro escolhe-se a população. Depois, devem-se selecionar algumas árvores e fazer o cruzamento entre eles. Em seguida é o momento de pegar a semente e plantar.

"Existem várias formas de melhoramento, o que vai diferenciar são as estratégias. Não existem estratégias erradas, mas, sim, aquelas que vão dar melhor resultado", garantiu.

Ele também ressaltou a importância do melhoramento genético na formação das florestas plantadas que existem hoje, onde obteve-se um grande salto de produtividade e qualidade nas florestas, com os programas instalados desde a década de 70. Higa mostrou também como estávamos certos no caminho para o futuro, com a utilização de material genético adequado na formação das florestas.

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