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Os desafios da educação agrícola


Mario Hamilton Villela

Em fins de novembro, dentro dos trabalhos da 62º Semana Oficial de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, promovida em Vitória (Espírito Santo), no período de 28 a 30 de novembro, pelo Sistema CONFEA/CREA, falei  aos participantes sobre o tema “Sistema Educacional no Brasil, A Educação Profissional e o Compromisso Social – ênfase na área de Agronomia”.
 Inicialmente, mostrei que o perfil do profissional de Ciências Agrárias de hoje é muito diferente do de 20 anos atrás. Naquela época, o profissional era dependente das atividades governamentais. O mercado existente era apenas a pesquisa, o ensino e a extensão. Formava-se um profissional capaz de produzir com competência da porteira para dentro, ou seja, com um perfil tipicamente de empregado. Na atual década, o profissional tem uma formação muito mais abrangente, atua com competência dentro de todo o complexo do agronegócio, isto é, antes da porteira e depois desta. Um profissional com visão de toda a problemática agrícola, possuidor de sólidos conhecimentos universalizados, com espírito de livre iniciativa, características empreendedoras, mais capacidade na tomada de decisão, possuidor de enorme responsabilidade ética e social.
 O profissional hoje concebido deve ser dotado de uma formação continuada (educação permanente) desenvolvida dentro da atividade profissional, com um contato bem mais vivenciado e íntimo com o seu ambiente de trabalho. Só a teoria sem a vivência não constrói o profissional demandado pelo atual conjuntura de mercado notadamente globalizado.
 Destaquei, ainda, que nossas Faculdades de Ciências Agrárias devem abrir-se mais para a comunidade num verdadeiro, conluio uma com a outra, cumprindo dessa forma com o seu verdadeiro compromisso social e provocando as mudanças sociais, econômicas e técnicas necessárias. Hoje, o ensino das Ciências Agrárias tem razoável qualidade no Brasil, embora ainda existem muitos desafios e ajustes para permitir a formação de profissionais mais qualificados, por exemplo, a necessidade de os Cursos formarem cidadãos com visão mais ética e humanista. É preciso que haja conscientização de que o mercado, hoje, é o todo e não mais a região onde cada um é formado. O profissional tem de conhecer as variadas realidades do País e da importância da construção de uma grande rede de intercâmbios e estágios, não só dentro do País, mas também com o exterior. 
 Enfatizei a relevância do agronegócio no Brasil e o seu enorme potencial; não deixei de registrar os óbices e as mazelas ainda existentes em nossa realidade rural brasileira, como os baixos índices de produtividade em muitos cultivos, e o acentuado poder de concentração da terra. Aludi também os paradoxos entre o conservadorismo e o desenvolvimento desenfreado; o primeiro ainda muito acentuado e o outro, o mais devastador possível. Para eliminar esses contrastes se torna premente uma política de prioridades para a ciência e tecnologia, a educação em seu sentido lato e, obviamente, voltada para o dois aspectos do segmento agrícola: o agronegócio e a agricultura familiar (fortificação da classe média) que melhor respondam à noção de sustentabilidade. Para tal, urge que se implante políticas sérias e duradouras de valorização do profissional qualificado, possuidor do mais amplo conhecimento e com um efetivo compromisso social com a sua comunidade e com o País.
  Mostrei que dentro de um mercado liberalizado e focado pela globalização, o nosso egresso tem que ter a capacidade de saber mudar rumos, conhecer a cadeia produtiva como um todo, ser competitivo e saber desenvolver potencialidades.
 Retratei, ainda, no final, que o Sistema Universitário da Educação Agrícola Superior Brasileira ainda é jovem (1909), de qualidade variável, com muitos pontos vulneráveis, embora com outros positivos e, portanto deve ser repensado. 

     

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