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A Crise Financeira Internacional e o Futuro do Agronegócio


Eleri Hamer

Há mais de 3 anos, alguns especialistas do setor financeiro (alguns tachados de loucos) já alertavam para a bolha que a economia americana estava se transformando e por conseguinte a internacional. Pouco foi feito para contê-la e as estratégias de contingenciamento, tanto governamentais quanto empresariais, também foram escassas.
Assim mais uma vez, provavelmente assistiremos o sucesso daqueles que possuem estratégias de gestão definidas, atuam com escala e de forma organizada (grandes produtores e cooperativas profissionalizadas)...
Em agosto do ano passado (artigo 22), quando a crise do subprime eclodiu, escrevi que “a turbulência não afetaria o mercado agropecuário”. De fato, nada aconteceu de extraordinário, salvo alguns solavancos em relação à cotação do dólar e pequenas retrações de crédito, já previstas, mas nada de significativo.
O que aconteceu porém, é que, como dito, nada foi feito para neutralizar a origem do problema e à medida que as concessões de crédito podre foram se ampliando o eminente estouro também foi se expandindo. Na semana passada o tapete se tornou pequeno e a sujeira transbordou, com reflexos por todo o mundo.

Agora, embora o nosso Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes não acredite que a crise afete significativamente os mercados de commodities agrícolas, é de se esperar que com um rombo que pode chegar a US$ 1,3 trilhão (ninguém sabe ao certo, há especulações de US$ 500 bilhões até US$ 1,3 trilhão) o agronegócio brasileiro não passe incólume por ela.
O mercado agropecuário brasileiro, apesar do real ainda forte frente ao dólar, está vivendo um momento histórico, com ampliação e retomada iminente das exportações para a Europa e EUA, assim como vários países na pecuária, além do biodiesel, etanol, frutas, soja e demais produtos made in Brazil. Esse processo deverá ser crescente, salvo se nós jogarmos areia no próprio motor, o que espero sinceramente sejamos incapazes de fazer.
Mas para as safras 2008/2009 e 2009/2010 teremos que prestar ainda mais atenção do que já vínhamos fazendo. Refiro-me as essas duas, motivado pela interpretação de que a maioria dos analistas reconhece a necessidade de pelo menos dois ou três anos para que o mercado absorva totalmente a crise e restabeleça a confiança. Isso se realmente a origem da crise foi aplacada com a intervenção do banco central americano.
Essa consideração é parcialmente importante dado que a crise desencadeada a mais de um ano já sofreu diferentes ações governamentais, todas elas imprimindo um alívio momentâneo que era novamente abalado quando havia a percepção de que o problema não tinha sido removido completamente.

É interessante observar que dado o momento econômico que estávamos vivendo, de crescimento, mas desaceleração mundial, a crise financeira pode contribuir inclusive para que tenhamos crescimento nulo, principalmente nos próximos 2 anos. Fato condicionado principalmente pela redução da disponibilidade de crédito, particularmente nas economias emergentes, como o caso do Brasil.
Assim, para o agronegócio brasileiro, as conseqüências tendem a dois aspectos. Primeiro, a possível retração de crédito no curto prazo dado a redução do fluxo de capitais para cá, o que é um grande problema motivado pela escassez de liquidez que muitos produtores enfrentam desde a crise da agricultura deflagrada a partir de 2004.
Esse problema é individualmente relevante em função da concomitante alta dos preços e dos custos nos três últimos anos, o que de certo modo inviabilizou a recuperação financeira de muitos produtores.
Dito de outro modo, a oportunidade estará provavelmente para aqueles que conseguiram gerar liquidez e capacidade de autofinanciamento o que permitirá que produzam a um custo menor frente aos demais que plantarão com recursos de terceiros, a um custo financeiro elevado, motivado pela crise de confiança no cenário internacional.
De acordo com a maioria dos especialistas do setor, o dólar tende a se manter um pouco acima do que estava e um pouco abaixo do que está. Nos patamares que se encontra, dando pequenos solavancos, para cima ou para baixo, o que não influenciará significativamente nos preços.
A Segunda, é em relação a demanda mundial de alimentos que mesmo com uma pequena retração no crescimento mundial, continuará constante e a pressão sobre os preços das commodities agrícolas tende a se manter, embora um pouco menor que antes.
Assim mais uma vez, provavelmente assistiremos o sucesso daqueles que possuem estratégias de gestão definidas, atuam com escala e de forma organizada (grandes produtores e cooperativas profissionalizadas) e a sofreguidão dos que navegam ao sabor do vento e de forma isolada.

Uma boa semana de Gestão & Negócios.

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