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A problemática do trigo brasileiro


Mario Hamilton Villela
 Ao ler esta semana no encarte "Agrofolha" do Estado de São Paulo, de 5 do corrente mês, a reportagem versando sobre o título "Brasil volta a liderar importação de trigo", fui levado a proceder a presente reflexão aos meus leitores.
 A matéria mencionada registra que o País vive de altos e baixos no setor e exemplifica dizendo que em 2004 a produção foi de 60% do consumo e neste ano não chega a 20%. Diz mais adiante, o Brasil precisa tomar uma decisão política. Assumir se quer ser produtor ou importador. Caso contrário, o ano que vem, estaremos tendo as mesmas discussões sobre esse segmento de nosso agronegócio.

A reportagem destaca, também, uma afirmativa de Benani Bacalcuk, pesquisador da Embrapa Trigo, que diz: " o que vai desenvolver a triticultura é a adoção de uma política estimuladora, com previsibilidade e consistência , na qual o produtor confie".
 Reportando-me ao nosso Rio Grande, isso me faz lembrar a situação dessa lavoura nos idos de 1980?1981, portanto, há quinze ou dezesseis anos, quando s e dizia que a produção de trigo no Estado tinha sido um desastre, e a média por hectare não passava de 700 quilos, rendimento aquém da metade que se esperava, e as estatísticas mostram que essas médias baixas vinham acontecendo já há alguns anos. Vejam o que mostrava, na época, o "Anuário 1978" do IBEGE: 1978 – 1.210 kg; 1977 – 452 kg; 1976 – 900 kg e 1975 – 650 kg. Nesse mesmo período, a grande produtora de trigo, a Argentina, também se queixa da safra de 1980, onde obtinha um resultado de 1.100 quilos e esperava algo acima de 1.700 kg. Tudo isso, na época foi atribuído às adversidades climáticas ocorridas no Rio Grande que atingiram também a Argentina. Na ocasião, os produtores gaúchos se consolavam, pois os nossos vizinhos, grandes produtores e tradicionais exportadores mundiais, igualmente tinham ido mal na sua safra.
A verdade é que, no Rio Grande, o clima de um modo geral não é favorável ao cultivo do trigo, embora, esse cereal tenha atraído a atenção dos nossos produtores. O nosso clima é classificado como subtropical, enquanto o da Argentina, na área produtora, o clima predominante é temperado, o ideal par a triticultura. Como se sabe até podemos cultivar trigo com algum sucesso desde que se cultivem variedades testadas pela pesquisa e adaptadas à nossas regiões climáticas.
 Pelo que se vê, para resolver o problema da manchete da reportagem caracterizada, a produção de trigo no Brasil, primeiramente, deve ser direcionada com ênfase e incentivos adequados a regiões climáticas mais favoráveis, como as destacadas pelo também pesquisador da área da Embrapa, no cerrado brasileiro, Márcio Só e Silva, que diz: "dando condições de apoio e estímulo ao produtor da região a área produzida com esse cereal poderia atingir e 4 a 5 milhões de hectares". Só nessa região, teríamos uma nova fronteira agrícola desse importante cereal, tão necessário ao dia-a-da da mesa do brasileiro. Um outro registro destacável apresentado por esse pesquisador é o de que: "o trigo irrigado na região tem uma produção média de 4.200 quilos por hectare contra apenas 1.500 quilos do de sequeiro".

 Resumindo, urge, que novo Governo Lula, que com a Bolsa Família, até aqui, ajudou a ampliar e muito a demanda de arroz e feijão no consumo interno do País, também, estimule a triticultura, minimizando nossa dependência da Argentina, pois, hoje, segundo a mesma reportagem, as exportações argentinas são responsáveis por 95% do produto que o Brasil busca no mercado externo. Deve ser implantada no País uma política clara, séria e competente para o soerguimento da triticultura, É muito triste para um país agricultável de dimensões continentais como o nosso, como os mais variados tipos de clima e solo, ter hoje, essa pecha negativa de liderar as importações mundiais de trigo. No final do biênio 2006/2007, estaremos importando 15 milhões d toneladas de trigo, de acordo com as estimativas da CONAB e Embrapa. Isso é lamentável e muito triste para todos nós!  

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