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A tendência inflacionária e a Selic


Argemiro Luís Brum

A inflação de março surpreendeu positivamente ao vir menor do que fevereiro. O IPCA do mês passado chegou a 0,71%, fato que trouxe o acumulado de 12 meses para 4,65%. Este percentual é o mais baixo desde janeiro de 2021 e ficou abaixo do teto da meta, para este ano, que é de 4,75%. Diante disso, a pressão para que se reduza o juro básico (Selic) aumenta. Especialmente agora em que o arcabouço fiscal já está conhecido e aceito por grande parte do mercado (ainda falta passar pelo Congresso Nacional). Assim, é fato que as condições começam a ficar reunidas para uma baixa da Selic no país. Porém, há um longo caminho para que se garanta uma estabilidade estrutural nos preços. Em primeiro lugar, mesmo que a inflação continue a baixar neste primeiro semestre (no simples cálculo matemático, entre abril e junho deverá sair do cálculo índices mensais muito elevados, do ano passado, e ingressar, em princípio, índices menores deste ano), teremos ainda forte pressão dos preços administrados, em especial na virada do semestre. Particularmente na área dos combustíveis, remédios, gás e energia elétrica. Em segundo lugar, entre julho e setembro do ano passado o IPCA mensal destes três meses foi negativo. Dificilmente isso se repetirá neste ano, fato que levará, no cálculo, à saída de índices negativos e à entrada de índices positivos. Com isso, o acumulado de 12 meses voltará a subir. Feitos os cálculos, a tendência média é de que o ano de 2023 termine efetivamente com uma inflação oficial entre 6% e 7%. Portanto, bem acima do teto da meta. Além disso, nada garante que os chamados núcleos inflacionários se mantenham em recuo no segundo semestre, condição para garantir um recuo estrutural da inflação. Em tal contexto, o que se pode esperar do Copom, em suas próximas reuniões, é a indicação de leve recuo na Selic, deixando para trás a ameaça de novos aumentos. Ou seja, se houver recuo nos juros, o mesmo deve ser mínimo. Esse recuo poderá começar entre as reuniões de maio e agosto, com maior probabilidade nas reuniões de junho ou agosto. Será um recuo cauteloso, ao redor de 0,75 ponto percentual até o final do ano, salvo surpresas mais positivas pelo lado dos preços no país. Com isso, a Selic terminaria 2023 em 13%. Será um começo, que pode gerar uma boa tendência para 2024, porém, ainda é cedo para se ter garantias.   

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