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Agricultura bandida


Aroldo Gallon Linhares

Nas discussões sobre o, assim chamado, novo Código Florestal, foram ressaltadas questões, aliás, muito pertinentes, relativas ao desmatamento e à preservação da água no ambiente rural. Nesse, as áreas de preservação permanente ficaram bem determinadas. Em contrapartida, pouco foi falado, além de que o problema no meio urbano, conforme a proposta do legislativo, vai ser tratado em diferentes esferas de responsabilidade. Alguém espera uma política séria a partir disso?

É certo que, com o desenvolvimento da agricultura brasileira, desmatou-se de forma indiscriminada, invadiram-se áreas ribeirinhas e fontes de água potável, provocou-se erosão, isto é, cometeu-se uma série de práticas condenáveis.

A cobrança sobre a agricultura tem sentido e, em muitos casos, problemas estão ou já foram solucionados. Além disso, os estragos provocados nas áreas rurais podem ser revertidos a custos não excessivos, e a natureza, em curto espaço de tempo, pode se refazer.

 Embora a legislação não venha a obrigá-los, mesmo pequenos produtores poderão abrir mão de uma pequena faixa para proteção dos recursos hídricos em suas propriedades. É só ter um pouco de consciência social. Seus netos se orgulharão disso.

Perdeu uma bela oportunidade a bancada ruralista. Ao invés de defender o atraso, conforme foi interpretado, poderia ter contribuído em favor da política ambiental, mostrando-se mais sensível à importância do problema. Poderia, se quisesse, ter proposto medidas corretivas, compensatórias, prazos, qualquer coisa para que não houvesse prejuízos imediatos aos produtores que precisam proteger as margens dos cursos d’água.

 A ameaça de falta de alimento por causa disso é um blefe que poucos convence. Na opinião do autor, os integrantes da bancada não foram muito inteligentes perante a opinião pública.

Por sua vez, os ambientalistas mais radicais vão ter de entender a necessidade de se compatibilizar produção agrícola com a proteção ambiental. Escassez de alimentos, quando ocorre, torna-se um problema político muito sério numa sociedade urbanizada.

Por que não se tocou no vespeiro representado pelas consequências que o crescimento populacional provoca sobre os recursos hídricos que se situam em nossos aglomerados urbanos ou por eles passam?

A calamidade é grande, como nos mostra o noticiário, a cada enchente, com áreas de rios, riachos e arroios tomadas pela necessidade de uns ou pela ganância de outros, ou seus leitos virados em puro esgoto. E tudo isso ocorrendo com o beneplácito de nossas autoridades.

A insensibilidade demonstrada pela maioria dos administradores mostra que, se não houver uma regulamentação forte de obrigação, pouco será feito para corrigir o problema em nossos meios urbanos. No máximo, são tomadas algumas medidas paliativas quando o problema cai no noticiário da televisão.

Assim, malha-se a agricultura, a bandida, mas ela vai deixar de ser a vilã quando nos dermos conta de nossa irresponsabilidade quanto ao que ocorre com os recursos d’água em nossos aglomerados urbanos. As futuras gerações não deveriam receber essa triste herança e por ela certamente irão pagar muito caro.

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