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Ainda sobre a crise no campo


Mario Hamilton Villela

             Já escrevi diversos textos sobre a difícil problemática que vive o campo na atual conjuntura. Vejo-me obrigado, novamente, a abordar esse assunto. Primeiro em função das medidas preconizadas pelo novo Pacote Agrícola, ou seja, as deliberações lançadas pelo Governo para tentar minimizar a crise no campo. Procurarei, aleatoriamente, destacar algumas e analisá-las brevemente.
 Apesar de tudo, está faltando, ainda, algo concreto para que se obtenha a sustentação dos preços dos produtos agrícolas, isto é, o que o nosso produtor rural mais almeja.
 O alongamento das dívidas de nossos agricultores, como medida emergencial é importante, mas paliativa. Há, inclusive, o apoio da agricultura familiar, pois beneficia também pequenos e médios produtores. Mas será que só isso resolve? Nossos agricultores, especialmente, os do Sul do País, vêm acumulando prejuízos, em função de aspectos já conhecidos e analisados, com certeza, em três safras consecutivas. O Governo tem que se aperceber que a crise que viceja e ronda o campo é muitíssimo grave. A situação jamais será solucionada só com a injeção de novos recursos, muito menos com a simples prorrogação das dívidas. A verdade é uma só: os preços de nossos produtos têm que melhorarem e muito. Isso só irá acontecer no momento em que o Governo se conscientizar que tem que mudar, entre outros pontos, sua política cambial. Isso não acontecendo, com a devida urgência, serão essas medidas momentâneas, pois, logo ali adiante, talvez já na próxima safra, os mesmos problemas estarão se repetindo e com maior gravidade.
 Convém lembrar o que o próprio Ministro da Agricultura tem frisado: “o setor precisa e muito de investimentos estruturais, para só assim diminuir o Custo Brasil, mas para isso tem que se incluir a revisão da carga tributária sobre a produção agrícola, que está muito onerada, reduzir o déficit graneleiro, melhorar o nosso sistema portuário e também as nossas estradas para facilitar o escoamento de nossa produção”. Por que não saem ações de profundidade para contemplar todos esses aspectos de vital importância para o desenvolvimento do segmento e tão oportunamente levantados pelo Ministro?  O que falta para tal? Espera-se que, agora, com as mudanças ocorridas no Governo, o Ministro da Agricultura fique com mais força e possa concretizar um pouco de suas louváveis intenções. O Pacote Agrícola sinaliza isso. Vamos aguardar para ver o desenrolar final dessa evolução. Talvez esteja, finalmente, chegando a hora da implantação no País de uma política agrícola e agrária duradoura. Ficam aqui esses questionamentos para meditação.
 Como se não bastasse toda essa problemática difícil, o campo enfrenta outra preocupação que se avoluma e o intranqüiliza: as invasões que, paradoxalmente, se acentuam  num cenário de extremas dificuldades.
 Luta, então, na atual conjuntura, o homem do campo, o empreendedor rural, com dificuldades climáticas cíclicas graves, falta de preços para os seus produtos que desorganizam todo o seu processo produtivo, escassez de recursos para investimentos básicos, além de tantas outras mazelas. Apesar de tudo isso, é obrigado a conviver com a insegurança e o medo provocado pelas ameaçadoras e constantes invasões. Está, também, na hora de o Governo, que procura minimizar (com o Pacote Agrícola) um aspecto da realidade rural, também, encontrar políticas alternativas, sérias e rigorosas para o problema fundiário e dar um basta definitivo nesses grupos que a margem da lei, atemorizam o campo.

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