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As principais parasitoses que acometem bovinos leiteiros no meio-norte do Brasil. Parte 5 - Eimeriose e tristeza parasitária bovina


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Para finalizar esta série de textos sobre parasitoses (As principais parasitoses que acometem bovinos leiteiros no Meio-Norte do Brasil – Partes 1 a 5), todos publicados neste mesmo site, vamos abordar as principais enfermidades causadas por protozoários, na bovinocultura leiteira no Meio-Norte do Brasil: a eimeriose e a "tristeza parasitária" bovina.

A eimeriose é uma doença contagiosa causada por protozoários pertencentes a diversas espécies do gênero Eimeria. Ocorre em todos os animais domésticos, porém é mais comum em caprinos, ovinos e bovinos. É uma doença de grande importância em animais criados em regime de confinamento, sendo freqüente em rebanhos leiteiros. A importância da eimeriose está nas perdas econômicas decorrentes do baixo desempenho e morte dos animais.

A eimeriose pode atingir animais de qualquer idade, porém os mais jovens são mais acometidos, podendo adquiri-la logo após o nascimento. Os bezerros acometidos apresentam diarréia, perda de peso, falta de apetite, crescimento retardado, enfraquecimento e, às vezes, morte. Nos animais adultos a enfermidade não produz sintomas, porém estes atuam como disseminadores da doença.

As medidas sanitárias e de manejo mais importantes no controle da doença são:

- Limpeza e desinfecção das instalações, comedouros e bebedouros;

- Separação dos animais por idade;

- Evitar pastos úmidos e grande número de animais em pequenas áreas;

- Evitar estresse aos animais.

Deve-se dar preferência ao tratamento individual dos animais doentes. São recomendados os medicamentos a base de sulfas, por via oral, durante dois a três dias.

A segunda enfermidade decorrente de protozoários que vamos comentar é a "tristeza parasitária", também conhecida simplesmente como "tristeza". A tristeza parasitária, é uma das doenças mais importantes em bovinocultura de leite, ocasionando altos índices de mortalidade quando não tratada. Essa doença é causada pela associação dos protozoários Babesia sp. e da riquétsia Anaplasma sp., que parasitam as células vermelhas do sangue dos animais. Recentemente a riquétsia Ehrlichia bovis, que infecta os glóbulos brancos (leucócitos) do sangue dos animais, tem sido considerada como um agente agravante da "tristeza parasitária".

Os bovinos de origem européia são mais sensíveis, tanto aos carrapatos, quanto aos agentes da "tristeza parasitária'. Os bezerros até 60 dias de vida geralmente são mais resistentes à infecção do que os animais adultos, quando recebem o colostro adequadamente, de vacas imunes.

Os sinais clínicos freqüentemente encontrados são: febre, prostração, pelos arrepiados, anemia, falta de apetite (anorexia), icterícia, hemoglobinúria e emaciação (inchaço). Entretanto, estes sinais clínicos são encontrados também como manifestações de outras doenças e nem todos são evidentes em animais infectados por Babesia sp. e Anaplasma sp., o que pode dificultar o diagnóstico da doença.

A ocorrência de surtos de "tristeza parasitária" está relacionada principalmente à deficiência no manejo dos rebanhos, seja pelo uso incorreto dos carrapaticidas, pela introdução de animais de áreas livres de carrapatos em áreas infestadas ou pelas condições climáticas que inibem o desenvolvimento dos carrapatos por longos períodos, quando da ocorrência de secas prolongadas, por exemplo.

Em animais jovens, o retardo do crescimento determinado pela doença pode resultar em sérios prejuízos pela necessidade de descarte ou morte de animais. Em animais adultos é freqüente a esterilidade temporária, abortos, queda brusca da produção de leite e morte.

A eficácia no controle da "tristeza parasitária" depende do controle dos agentes causadores da doença e do controle do carrapato. A imunização dos animais pela exposição natural aos carrapatos é eficiente onde esta doença ocorre comumente. Desta forma, não se deve exterminar toda a população de carrapatos, mas ter o cuidado de mantê-los em uma quantidade razoável que não prejudique a produtividade e ao mesmo tempo estimule a imunidade dos animais à "tristeza". Segundo pesquisas recentes são necessárias cerca de 20 a 30 fêmeas de carrapato em bovino zebu e 40 em bovino europeu, para estimular a imunidade contra a "tristeza parasitária".

No tratamento da "tristeza" devemos considerar que esta doença é provocada por uma associação de Babesia e Anaplasma. A babesiose pode ser tratada por medicamentos derivados da diamidina e do imidocarb. Os anaplasmas são sensíveis às tetraciclinas. As tentativas de se produzir uma vacina contra a "tristeza parasitária" ainda não obtiveram êxito completo. Uma vacina contra a "tristeza" surgiu de uma tecnologia desenvolvida pela EMBRAPA-Gado de Corte e está disponível no mercado. A vacinação deve ser feita nos bovinos a partir dos três meses de idade sob a orientação de um médico-veterinário, pois necessita de uma série de cuidados para o seu manuseio eficaz.

Finalizando esta série de textos deve ficar claro que as ectoparasitoses e endoparasitoses são enfermidades altamente relacionadas ao manejo dos animais. Assim, no combate às parasitoses devem ser utilizados, de forma integrada e complementar, conhecimentos relacionados à biologia do parasita,  ao comportamento do bovino e às épocas ideais de combate, reduzindo-se ao máximo a utilização de produtos químicos que podem acarretar, além do fenômeno da resistência, poluição do meio ambiente.

Devemos considerar ainda que a utilização de produtos químicos em larga escala pode provocar danos à saúde do homem, se não respeitado convenientemente o período de carência do produto.

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