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Aspectos importantes da fisiologia da fêmea bovina para o incremento da eficiência reprodutiva em rebanhos leiteiros


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

 

Parnaíba, PI, 06 de dezembro de 2006 - O manejo reprodutivo ineficiente pode ocasionar redução na lucratividade da pecuária de leite, visto que baixos índices reprodutivos levam à diminuição na produção de leite total, ao longo da vida reprodutiva da fêmea. Considerando que o ideal é uma vaca parir a cada 12 meses e ser uma boa produtora de leite, em quantidade por dia, ter persistência de lactação e longevidade produtiva, o conhecimento de aspectos relacionados à sua fisiologia reprodutiva, como puberdade, ciclo estral, gestação e parto, têm grande importância na eficiência reprodutiva na propriedade leiteira.

A puberdade na fêmea tem início quando a mesma apresenta o primeiro estro com ovulação, sendo influenciada, dentre outros fatores pelo nível nutricional sob o qual foram mantidas as bezerras após o desmame. Em termos médios, estima-se seu aparecimento em fêmeas bovinas de raças européias entre os 9 e 12 meses de idade, e nas raças zebuínas, mais tardias, a puberdade pode surgir fisiologicamente até os 24 meses. Em fêmeas mestiças, europeu-zebu a puberdade ocorre normalmente entre 12 e 20 meses.

Com fins de utilização de novilhas para a reprodução, deve ser observado não apenas o primeiro estro, mas também, a maturidade sexual, associando-se o desenvolvimento corporal da fêmea a possíveis dificuldades de parto e condições de nutrição, de modo que a novilha mantenha-se crescendo e ganhando peso, e assim chegue ao parto em boa condição corporal. Em novilhas mantidas em condições intensivas, como geralmente ocorre em pecuária leiteira, é comum o aparecimento da puberdade muito antes da maturidade reprodutiva.

Percebe-se então, que a puberdade é apenas o início da vida sexual da fêmea. Uma vaca cíclica deve a cada 21 dias, em média, manifestar estro. Este período pode variar fisiologicamente entre 17 e 24 dias, tendo as novilhas intervalo menor que as vacas de mais idade. Nos bovinos, o ciclo estral compreende quatro fases: proestro, estro, diestro e metaestro. Estas fases são de grande importância, tendo cada uma delas particularidades que, se observadas, podem incrementar a eficiência reprodutiva do rebanho.

O proestro caracteriza-se por manifestações comportamentais que normalmente passam despercebidas ao homem, sendo, no entanto, perceptíveis ao touro ou rufião. Neste período, a fêmea monta as companheiras, mas não se deixa, ainda, montar. Durante a segunda fase do ciclo estral, o estro, também conhecido por cio ou calor, a vaca ou novilha aceita a monta, que é o sinal característico desta fase.

A duração do estro varia de 10 a 30 horas, dependendo, dentre outros fatores, da raça, idade (novilhas tendem a ter o estro mais curto), condições sanitárias, temperatura ambiente e tipo de manejo. Em zebuínos, o cio é bastante curto, em torno de 3 a 5 horas; já nas raças européias persiste, em média, de 6 a 18 horas. Os mesmos sinais do proestro (inquietação, cauda erguida, micção e mugidos constantes, tendência a agrupamento, vulva edemaciada, diminuição do apetite, redução da produção de leite) estão presentes, só que de forma mais acentuada, o que permite ao homem identifica-los com maior facilidade. À medida que se aproxima o final do estro, os sinais vão diminuindo.

A identificação do cio deve ser uma das tarefas prioritárias na propriedade, devendo o rebanho de fêmeas ser observado no mínimo duas vezes por dia, no início da manhã e no final da tarde. A grande maioria das fêmeas entra em cio à noite tendo seu estro detectado na manhã seguinte (em torno de 60 a 70%). Como regra geral, as fêmeas cujo cio foi observado pela manhã devem ser cobertas à tarde do mesmo dia e as fêmeas cujo cio foi identificado à tarde, devem ser cobertas na manhã do dia seguinte. Esta prática decorre do fato de que a ovulação em bovinos ocorre quando a fêmea não mais aceita a monta, em geral, 6 a 12 horas após o final do estro, ou seja, quando a fêmea já se encontra em metaestro.

A correta identificação de animais em estro é imprescindível para a obtenção de um intervalo de partos próximo de 12 meses e, consequentemente, incrementar a eficiência reprodutiva do rebanho, já que maior número de fêmeas identificadas em estro ocasiona aumento no número de vacas gestantes e, então, um maior número de fêmeas em lactação. A falha na identificação do cio é um dos grandes problemas em fazendas de gado leiteiro que utilizam inseminação artificial ou monta controlada.

Após o metaestro a fêmea entra em inatividade sexual ou diestro, que dura aproximadamente 14 dias. No final desta fase, caso não haja gestação, o ovário começa a sofrer influência hormonal dando início a novo ciclo estral. Caso tenha ocorrido fertilização a fêmea torna-se gestante.

Em bovinos, a duração da gestação é de aproximadamente 285 dias (9,5 meses), podendo variar fisiologicamente em 15 dias para mais ou para menos, dependendo da raça, idade da vaca, tamanho e sexo do bezerro, dentre outros fatores. O diagnóstico de gestação deve ser efetuado a partir dos 40 dias da monta ou inseminação. Em uma propriedade bem manejada é possível a realização do diagnóstico de gestação, através do toque retal ou ultra-sonografia, em datas estratégicas, não apenas para constatar a prenhez, mas também para diagnosticar causas de falhas na reprodução em tempo hábil, podendo-se corrigi-las e evitar prejuízos.

O parto constitui-se no evento reprodutivo de maior importância em uma propriedade leiteira visto que a lactação é desencadeada pelo mesmo. Duas semanas antes da época prevista para o parto, a fêmea deve ser colocada em um piquete maternidade para que possa ser facilmente acompanhada e auxiliada durante a parição. À medida que o parto se aproxima, a fêmea torna-se inquieta, deixa de se alimentar, afasta-se dos outros animais do piquete e demonstra um comportamento de "construção de ninho". O homem só deve interferir no parto em casos extremamente necessários, sendo preferível que apenas observe o seu transcorrer.

Após o parto, a própria vaca deve "cuidar" de sua cria, novamente o homem tendo papel apenas de coadjuvante, para que a fêmea não rejeite o seu filhote. O comportamento normal da vaca logo após o parto compõe-se de corte do cordão umbilical com os dentes, retirada dos restos de placenta com lambidas vigorosas que também estimulam a respiração e o funcionamento do trato gastrintestinal para a liberação do mecônio (primeiras fezes) e estimular a cria a mamar, facilitando o acesso às tetas. Quando a vaca não dá a devida atenção à cria, o homem deve interferir e substituí-la nos primeiros cuidados com o bezerro.

Após o parto, o útero necessita de algum tempo para retornar ao seu tamanho normal e se preparar para novo ciclo reprodutivo. Este período de tempo pode variar em condições normais de sanidade de 30 a 45 dias. É devido a este período necessário de repouso do trato genital da vaca que o período de serviço não deve ser inferior a 45 dias.

 Considerando a breve discussão suscitada neste texto, percebe-se a importância do conhecimento da fisiologia da fêmea bovina no incremento da eficiência reprodutiva das propriedades leiteiras. Infelizmente, poucos criadores têm consciência deste fato e permanecem incorrendo em erros que muitas vezes ocasionam a menor lucratividade na pecuária leiteira, erros estes que poderiam ser evitados pelo conhecimento adequado da fisiologia reprodutiva da vaca.

 

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