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Carne de frango saudável, nutritiva e livre de hormônios


Karina Ferreira Duarte

1. Introdução

 

Existe consenso por parte de consumidores, médicos e nutricionistas, de que a carne de aves é mais saudável que a carne bovina. Isso está associado ao fato de que a primeira  contém menos gordura saturada, apontada como a grande responsável por problemas cardíacos. Ao contrário de outras carnes, a carne de aves possui pouquíssima gordura entremeada, sendo que a maior parte dela se localiza embaixo da pele. Por isso, o consumidor aprendeu a retirar a pele do frango, geralmente após o preparo, uma vez que assar, cozinhar ou fritar a carne com pele deixa a mesma mais tenra e saborosa.

Além de saudável, é  um alimento altamente nutritivo. Uma porção de 100 gramas de filé de peito sem pele contém apenas 110 kcal e 23 gramas de proteína, sendo que com essa quantidade o consumidor estará satisfazendo 46% de suas necessidades diárias desse nutriente.

A maior parte da carne de frango é produzida em grandes empresas integradas ou cooperativas, às quais adotam práticas de manejo e controles rígidos de produção a fim de produzir uma ave sadia e não estressada. O frango é criado em galpões construídos e equipados para prover condições ambientais ideais para melhorar o bem-estar e o conforto das aves que são alimentadas com rações balanceadas, à base de milho, farelo de soja, minerais e vitaminas. A nutrição das aves é uma ciência altamente desenvolvida e sofisticada, sendo que o conhecimento existente, hoje, nessa área, é bem mais avançado que na própria nutrição humana.

 

2. Abate e processamento

 

O abate de aves é realizado em frigoríficos altamente tecnificados, sendo cada vez maior  o grau de automação das operações de abate e processamento. As práticas de higiene empregadas na manipulação da carne são extremamente rígidas. Boa parte das indústrias adota programas de redução de riscos e de controle de pontos críticos, bem como outros procedimentos sugeridos pelo Codex Alimentarius, órgão da FAO, encarregado de elaborar as normas para a produção de alimentos.

Durante o abate e o processamento, existe a inspeção sanitária realizada por médicos veterinários do governo. No Brasil, mais de 70% das aves abatidas são inspecionadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). O restante, conta com a inspeção de veterinários dos governos estaduais ou municipais. De acordo com a legislação em vigor, para ser exportada ou  comercializada fora do estado de origem, a carne deve ser inspecionada pelo SIF. Além de todo esse rigor na produção, como a carne de aves não é consumida crua, o risco de intoxicação alimentar devido à contaminação bacteriana é praticamente zero, uma vez que o calor do cozimento, da fritura ou do processo de assar elimina a maior parte das bactérias eventualmente existentes.

Por isso, notícias cada vez mais frequentes na imprensa sobre problemas com a qualidade do frango brasileiro têm deixado produtores, técnicos e cientistas perplexos com o grau de desinformação de alguns setores da sociedade.

Um frango atinge o peso de 2300 gramas com 40 dias de idade. Isso é fruto de um intenso trabalho de seleção e melhoramento genético realizado nos últimos anos, bem como do manejo e da nutrição balanceada. Essa velocidade de crescimento não tem nada a ver com a utilização de hormônios, como pensam muitas pessoas. Além de ser proibido no Brasil, o uso de hormônios é totalmente inviável, pois não há tempo hábil para que haja efeito nas aves, devido ao seu ciclo de vida curto.

 

3. Produto de qualidade

 

Infelizmente, essa confusão toda surgiu com o termo promotor de crescimento, utilizado na avicultura para designar alguns produtos que às vezes são empregados na alimentação das aves. São os antibióticos ou outros antimicrobianos que, colocados na ração, têm como objetivo diminuir a flora bacteriana indesejável existente no aparelho gastrointestinal. Com isso, melhora o aproveitamento do alimento ingerido e a saúde das aves, não interferindo em nada a saúde humana.

Portanto, o consumidor pode ficar tranqüilo. O controle de qualidade das empresas e do governo é extremamente rígido a fim de garantir a oferta de um alimento saudável e seguro. A carne de frango produzida  no País tem qualidade e é um produto saudável e indispensável na mesa do brasileiro. Continuando com preço acessível a todas as camadas da população, a carne de frango estará ajudando a criar gerações de brasileiros melhores alimentados e nutridos.

 

4. O mito do hormônio na carne de frangos

 

A avicultura comercial brasileira é formada pelos setores de aves de reprodução, de produção de ovos de mesa e de produção de carne. Os frangos de corte são tecnicamente produzidos para alcançarem um peso médio de 2,5 kg em 42 dias, com uma conversão de 1,8 kg de alimento por kg de ganho de peso. As poedeiras por sua vez devem produzir 320 ovos com conversão alimentar de 1,40 kg de ração por dúzia de ovos produzidos. Nos frangos, o limite do desempenho no ganho de peso e na eficiência alimentar parece estar próximo do limite, uma vez que há implicações com os sistemas cardio-pulmonar e ósseo das aves para aumentar a eficiência. Em poedeiras há espaço para melhorias tecnológicas na produção, a qual está próxima de um ovo por dia. Embora ainda sejam necessários alguns ajustes nos sistemas produtivos, o sucesso da produção de aves dos últimos 40 anos foi conseguido com muito esforço de pesquisa na ciência animal. Os números refletem a alta qualidade genética dos plantéis, nutrição adequada às necessidades de crescimento, monitoramento, profilaxia e controle de doenças, e ambiência que permite melhorar as condições de manejo onde são criadas as aves. Com tecnologias inovadoras nessas áreas é que chegamos aos excelentes desempenhos das aves.

Frequentemente, nos deparamos com artigos de mídia que colocam a indústria avícola brasileira sob suspeita na questão da presença de hormônios na carne de frangos. Em geral, os questionamentos são feitos por autores tecnicamente leigos sobre a produção de aves, mas que com seus artigos procuram repassar suas visões para um considerável público. Com o objetivo de esclarecimento técnico, entendemos que precisam ser explicados claramente a esses autores, editores de revistas, jornalistas, profissionais liberais formadores de opinião e leitores em geral, que é errado assumir que os frangos necessitam de hormônios exógenos (externos e adicionais ao fisiológico) para apresentarem um bom desempenho produtivo. As razões para a desconformidade que podemos citar são: 

a) os hormônios de crescimento são substâncias protéicas, que se eventualmente fossem usados nas dietas não teriam efeito farmacológico, pois seriam quebrados/destruídos pelas enzimas proteases do sistema digestivo das aves. Portanto, seria economicamente inviável usá-los nas dietas das aves, pois não teriam efeito e teriam um custo a ser computado na produção. Também, os hormônios não podem ser injetados, pois seria muito difícil administrar doses para aproximadamente cinco bilhões de aves e ainda, a administração parenteral de hormônio para efeito no crescimento deve ser diária. Seria uma tarefa extremamente estressante para as aves, consumidora de mão de obra e dispendiosa; e portanto, inviável ao extremo;

b) o maior ganho de peso e eficiência das aves é devido ao somatório dos resultados de 40 anos de pesquisas em seleção genética, determinação de exigências nutricionais e balanceamento de cada nutriente e energia das dietas, ambiência adequada com controles de temperatura, umidade do ar e ventilação das instalações, monitoria e controle de doenças da produção e zoonóticas e, adequado manejo da produção, transporte e transformação do frango em carne.

 

Outro aspecto polêmico que tem sido referido na mídia é sobre uma certa competitividade entre a produção orgânica com a produção industrial de frangos. Entendemos que há espaço para produção e mercado para ambas as alternativas; sendo que, a primeira pode ser considerada como a produção para nichos específicos de mercado e, a segunda, como geradora e responsável primária do beneficio econômico e social que conhecemos. A polêmica criada, porém, traz viés conceitual sobre o que tecnologicamente está correto. Tanto uma como a outra alternativa de produção são viáveis desde que esclarecidos os aspectos de que ambas devam primar por sistemas de garantia de qualidade do produto, atendendo normas semelhantes de segurança dos alimentos. Para isso, a produção orgânica deve ser profissional e ser certificada por entidade independente. Não se deve deixar de mencionar, que a produção orgânica, via de regra, é mais cara e portanto, terá um preço maior no mercado consumidor. Trabalhos de preferência do consumidor demonstram que os consumidores diminuem proporcionalmente a disposição de comprar alimentos com apelo orgânico, quando o preço aumenta. A opção para mercados específicos e diferenciados deve ser vista como normal e cabe ao consumidor optar pelo produto da qualidade que deseja e do preço que está disposto a pagar. Todos desejam alimentos saudáveis e o Ministério da Agricultura procura através de suas normas, direcionar a produção animal para a conformidade com o Codex Alimentarius. Portanto, esclarecemos aos leitores que na indústria animal, além dos controles oficiais, outros programas independentes de segurança dos alimentos são conduzidos para garantir a segurança dos alimentos. Entre esses, os de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC), ISO´s, EurepGAP, boas práticas de fabricação (BPF) e/ou boas práticas de produção (BPP), os quais continuarão a ser usados na cadeia produtiva industrial, com a auditoria de organizações certificadoras internacionais, acreditadas e/ou pelo INMETRO/MAPA, com o objetivo de aplicação de procedimentos para a redução de riscos químicos, biológicos e físicos associados à segurança dos alimentos cárneos e ovos.

A atenção futura em pesquisas na avicultura deverá concentrar na melhoria ambiental, ambiência dos sistemas de produção de aves, saúde animal, melhoria nos ingredientes e processos para produção de rações, explorando-se ao máximo o potencial genético das aves, sem descuidar-se do bem-estar das aves de produção. Ainda, para a segurança dos alimentos de origem animal, com menor risco a saúde humana, são necessárias ações relativas a implementação de boas práticas de produção nas granjas (sistemas recomendados de produção), nas fábricas de ração (atendimento de normas para a garantia da qualidade das rações), no transporte e abate e na análise de perigos e pontos críticos de controle na indústria de transformação e distribuição.

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