CI

A hormese na agricultura à luz dos novos conhecimentos



Luiz Alberto Silveira Mairesse

Os vegetais produzem seus metabólitos secundários, tanto de expressão constitutiva, quanto de expressão ativada. Se alguns compostos estão presentes em teores tão altos que podem ser até extraídos industrialmente, outros, certamente a grande maioria desconhecida, são biossintetizados em concentrações muito baixas. Entretanto, devido serem extremamente bioativos, tais compostos, mesmo em mínimas concentrações, podem agir diretamente sobre as células, ou mesmo indiretamente, interagindo com outras moléculas, como os fito-hormônios, desencadeando processos de defesa das plantas contra pragas ou mesmo incrementando outros caracteres importantes, relativos ao próprio rendimento das culturas.

A bioatividade de compostos em concentrações muito baixas ou sub-letais tem sido observada relativamente há muito tempo, mas as evidências em pesquisa agrícola surgiram a partir de biotestes com herbicidas, quando diversos autores notaram, ao determinar curvas de dose-resposta, que alguns produtos estimulavam determinados caracteres estudados em material reagente. Este fenômeno foi definido como hormese, ou seja, a propriedade de um agente tóxico em estimular um determinado caráter sob baixíssimas concentrações. Com o advento das modernas tecnologias, o interesse pela compreensão do fenômeno tomou corpo e de alguns anos para cá, diversos autores têm desenvolvido equações que explicam matematicamente a hormese. Certamente que uma equação não é suficiente para a compreensão de um fenômeno, mas a comprovação de sua ocorrência já é um primeiro passo para desvendá-lo.

A hormese pode ser explicada como uma adaptação evolutiva que atua para manter a capacidade reprodutiva sob variações ambientais. Como exige gasto de energia, nem todos os caracteres exibem hormese simultaneamente, e então, nem todos são estimulados, bem como outros caracteres podem até mesmo ser inibidos sob baixos níveis de agentes tóxicos.

Assim, caracteres importantes podem ser afetados negativamente por baixas concentrações de agentes bioativos, diminuindo a capacidade reprodutiva do organismo-alvo. Outros caracteres estimulados podem ser agronomicamente importantes. No primeiro caso se poderia adicionar uma nova opção de estratégia integrada à moderna proposta de Manejo Ecológico de Pragas. Em ambas as situações a descoberta dessas moléculas bioativas pode fornecer importantes subsídios às modernas química e biotecnologia. Derivados sintéticos de produtos naturais, em baixas concentrações, podem controlar pragas, interferindo na capacidade adaptativa das mesmas; outros podem agir como importantes bioestimulantes. Através da engenharia genética, microorganismos e plantas geneticamente modificados podem produzir tais compostos naturais, em teores que viabilizem a extração e industrialização. Identificados, seqüenciados e clonados os genes correspondentes, a transferência dos mesmos para plantas cultivadas melhorariam a resistência a pragas e os rendimentos, sem quaisquer riscos a saúde e ao ambiente, pelas concentrações extremamente baixas presentes na planta.

O projeto de avaliação da bioatividade de extratos vegetais, em andamento no Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), tem permitido detectar a presença de compostos potencialmente promissores como praguicidas, bioestimulantes e com efeitos horméticos, em diversas espécies vegetais. A integração que os pesquisadores estão buscando alcançar com outros departamentos, envolvendo as áreas de química, fisiologia vegetal e biologia molecular, tem avançado no sentido de se caracterizar e identificar os processos ao nível molecular.

Prospectar moléculas extremamente bioativas é como garimpar diamantes; e se é árdua esta tarefa, muito mais difícil é encontrar uma mina dessa pedra preciosa. Entretanto, o Brasil, como detentor da maior parcela da biodiversidade do Planeta, proporciona ao brasileiro dispor da "jazida" maior e mais rica em genes, com potencial de tornar este País um dos mais poderosos do mundo. Basta que os brasileiros acreditem e apostem, investindo na Ciência Brasileira.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.