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O poço é bem mais profundo



Argemiro Luís Brum

A guerra comercial imposta pelos EUA ainda não terminou e muitas lições surgem da mesma. Todavia, ela não deve levar ao esquecimento a realidade econômica brasileira. Neste aspecto, continua existindo uma aparente contradição: enquanto o desemprego oficial diminui, a inadimplência cresce entre os brasileiros.

Efetivamente, no último trimestre encerrado em junho, a taxa de desemprego caiu para 5,8%, a menor da série histórica iniciada em 2012. Um ano antes esta taxa estava em 6,9%. Isso significa mais brasileiros com renda. Como nossa demanda é reprimida, pois a maioria não consegue comprar tudo o que precisa, qualquer melhoria no volume geral desta renda gera maior demanda e, por consequência, pressão inflacionária.

Com esta última bem acima do teto da meta anual, o Copom, além de manter a Selic em 15% ao ano, sinaliza sua manutenção por longo tempo nestes níveis e, pior, não hesita em alertar para a possibilidade de voltar a aumentá-la se os preços internos não cederem. Mas isso não responde à contradição apontada no início deste comentário.

Em nosso caso, aumenta o volume absoluto da renda geral, por mais pessoas trabalhando, o que é positivo, mas a qualidade desta renda não melhora. Tanto é verdade que o rendimento médio mensal real, de todos os trabalhadores, sobe muito lentamente, estando hoje em apenas R$ 3.477,00, ou seja, 2,3 salários mínimos.

Como nosso país é muito caro, tal renda não permite alcançar um nível de vida adequado. Com isso, as pessoas se endividam fortemente e, sem educação financeira suficiente, logo atingem o estágio da inadimplência. Hoje são 77,8 milhões de pessoas inadimplentes, com uma dívida média de R$ 6.218,00, ou seja, quase o dobro de seu salário médio (incluindo aí os aposentados, cuja maioria ganha apenas um salário mínimo mensal), sendo que 27,5% desta dívida é feita com o cartão de crédito.

Ou seja, mais gente ganha um salário, porém, o mesmo é muito baixo em relação ao custo de vida que existe no país. Por sermos um país com alta concentração de renda, este quadro atinge 90% de nossa população. Os demais vivem em outro mundo. Aliás, segundo o Banco Central, no ano passado, 29.068 brasileiros possuíam US$ 654,5 bilhões fora do país. Isso equivale a mais de US$ 22,5 milhões para cada um deles ou, ao câmbio de hoje, mais de R$ 126 milhões por pessoa.

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