Temos assistido no transcorrer deste ano a algumas das mais dolorosas cenas que podemos ver, como brasileiros, em nosso país: enormes desastres espalhados pelo país das mais diversas naturezas, primeiro em maio com as enchentes no estado do Rio Grande do Sul, e, agora com as queimadas nos mais diversos estados de nossa federação. As cenas que vemos hoje em estados tão diversos como Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Amazonas, e tantos outros ferem e machucam a qualquer pessoa que compreenda toda a extensão desta tragédia.
No entanto, existe um aspecto sombrio nisto tudo, o uso feito pela política rasteira de partidos, organizações não governamentais, alguns políticos, dentre outros para atacar o agronegócio no meio de uma tragédia desta magnitude. Afora o fato de se basearem em uma premissa falha, pois o agronegócio brasileiro é considerado o mais sustentável do mundo pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima [UNFCCC], cujo órgão técnico em 2021 fez esta declaração. Curiosamente, a palavra da ONU só é considerada quando útil aos seus discursos
Mas, para além das declarações temos algo ainda mais sólido: a realidade. O agronegócio ocupa 30.2% do território nacional com todas suas atividades, ou seja, cerca de 66,3% ou 631.758.477 hectares estão cobertos por vegetação nativa. Segundo a EMBRAPA, portanto dados governamentais, a área dedicada a preservação ambiental do Brasil corresponde a área de 28 países da Europa, em regra utilizada como referência pelos críticos do agronegócio.
Frente a estes dados, de imediato vem o segundo argumento mentiroso: o agronegócio é sinônimo de fome. Em regra, vem acompanhada do sub-argumento de que: só a pequena propriedade rural pode alimentar a população. Começando pelo argumento central, chega a ser risível ouvir ou ler algo assim, pois o agronegócio brasileiro, de acordo com estudo da EMBRAPA validado por organizações internacionais, alimenta 800 milhões de pessoas, ou, em torno de 10% da população mundial.
Este volume que o Brasil alimenta no mundo também confirma sua sustentabilidade, pois apesar do volume produzido seu impacto ambiental é reduzido em relação a diversos outros países. Apesar disso, surge outro argumento curioso contra o agronegócio: o agro exporta toda a produção e cobra caro do mercado interno. Nova falácia. Se considerarmos todo volume e diversidade exportada pelo Brasil, a media de todos os produtos exportados pelos nossos produtores é de 20% da produção. Em outras palavras, 80% fica no país.
No que se refere a pequena propriedade rural, é verdade que elas auxiliam, e muito, na sustentabilidade alimentar de nosso país, mas é curioso pensar que elas não integrem o agronegócio. Nunca vi nenhum pequeno produtor rural entregar gratuitamente seus produtos [nem deve!]. É muita miopia econômica pensar que o agronegócio é composto só de grandes produtores rurais. O pequeno produtor rural é uma parte, não apenas integrante, mas fundamental do agronegócio.
Superados estes argumentos vamos falar sobre a demonização oficial perpetrada por alguns agentes públicos/políticos. Recentemente foi noticiado que o governo teria a pretensão de “tomar” as terras dos proprietários que foram vitimas das queimadas. Esta ideia tola, parte da premissa que o “agro criminoso” teria colocado fogo nas próprias terras, mas não percebe que: primeiro, mais de noventa por cento dos produtores rurais JAMAIS fariam algo assim, pois vivem de suas produções, e, qualquer dano a terra é um prejuízo a si mesmo, e, segundo qualquer pessoa que entrou um dia em uma propriedade rural sabe que a recuperação do solo é um processo lento e que demanda muito trabalho antes de voltar a produzir.
Além disso, existe um aspecto subjetivo que uma pessoa que fala algo assim nunca irá compreender: é muito comum que o produtor rural venha de uma longa tradição de sua família naquelas terras, em muitos casos são terras em que seus avós, pais e ele próprio trabalharam nela. Não é algo que um burocrata de escritório vá compreender.
Este aspecto subjetivo você irá ver nos pampas gaúchos, no pantanal do Mato Grosso, no interior de Goiás ou no Amazonas. O produtor rural, seja de um hectare ou de mil, tem um vínculo com a terra que nenhum burocrata, sindicalista ou político que não seja do campo irá entender. E, nunca irão conseguir fingir, nem adianta tentar. Então, “tomar” estas terras, “meter a mão” nelas é, na realidade, punir a vítima dos incêndios. É punir quem sofre diretamente pelos efeitos das queimadas.
Ah, mas também foi pensado em multar esses proprietários em R$ 635 milhões. Falar em multar de forma genérica os proprietários recai no mesmo problema anterior. Está punindo quem está sofrendo os efeitos das queimadas. Ao demonizar o agronegócio o governo está focando seus esforços em punir quem sofre os efeitos das queimadas, que já perdeu toda sua produção, em muitos casos seu gado, e, ainda irá ter que pagar uma pesada multa por ter sua propriedade queimada.
No caso das queimadas é fundamental que o governo descubra os verdadeiros criminosos que fizeram este absurdo e cobre deles todos os danos ambientais, e, inclusive os danos sofridos as propriedades do agronegócio em decorrência das queimadas. Ao invés de atacar o agronegócio, o governo deveria se articular para junto com o mesmo recuperar o mais rápido possível as áreas queimadas.
No entanto, pela experiencia que temos aqui no sul, se não fosse pela CNA e pela ação do SENAR e sua ação em 120 municípios do estado teríamos hoje mais de 5.200 sem alimentos para os animais ou máquinas para desobstrução de localidades em uma ação que vai até o final de outubro, segundo a FARSUL. Essa atitude por parte do governo e de certos setores da sociedade de demonizar o agronegócio irá ter severas consequências econômicas no médio prazo, mas este é tema para outro momento.