CI

Armazenagem na Propriedade Rural


Adriano Mallet
Nos anos 80 e 90 o Brasil tinha uma capacidade de armazenagem na propriedade rural na faixa de 3 a 5%, enquanto esses índices eram de 40% na França, 65% nos USA, 50 a 55% na U.E e 35% na Argentina. 
Esses países tinham e consideravam a produção de grãos como uma das principais divisas, item participativo da sua balança comercial e base de sustentabilidade de seu crescimento mundial, agregando maior valor à renda para o produtor no campo, e consequentemente, reduzindo o êxodo para as regiões urbanas. No Brasil, durante esse período, ocorreu o inverso.
Evoluímos para uma armazenagem do tipo coletores - intermediários e terminais - por sermos um país em crescimento modesto no Agronegócio e necessitarmos de soluções imediatas, de baixo custo e, por isso, compartilhada com os demais parceiros do campo.
A estimativa diz que a armazenagem no Brasil está distribuída da seguinte forma: 70% em Cooperativas, Armazéns Gerais, Cerealistas, Indústrias e Tradings; 2% Intermediários; 4% Terminais e 25% na propriedade rural.  
Destas relacionadas, nos últimos anos, a que mais cresceu foi a armazenagem na propriedade rural, passando de um percentual de 3% a 5% nos anos 80 e 90 para 25%, fato decorrente das linhas de créditos disponibilizadas e do reconhecimento das vantagens de investir neste segmento, com uma tendência de aumento anualmente observado. 
O Brasil reconheceu que a armazenagem na visão sistêmica do Agronegócio é o principal item da logística de escoamento da safra e fator de rentabilidade do produtor rural com o aumento da sua renda no campo. Ter sua própria armazenagem é a garantia de manter a “Identidade Preservada” do produto colhido no momento da comercialização.
Estamos salientando um item de importância tão elevado, que sempre que abordamos, reforçamos a vantagem da importância de saber e poder comercializar no momento mais oportuno para si a sua colheita.
Ter uma armazenagem na propriedade significa ao produtor poder guardar seu produto de forma correta, dentro dos novos conceitos de armazenagem e requisitos técnicos obrigatórios ou recomendados para a Certificação de Unidades Armazenadoras em Ambiente Natural (lei nº. 9.973 de 29 de maio de 2000), que prevê que a partir de 1º de janeiro de 2010 todas as unidades (pessoas jurídicas) devem estar adequadas e certificadas.
Existem muitas vantagens que podemos relacionar como a redução de custos de frete: sabemos que durante a safra, devido a demanda e nosso perfil de escoamento rodoviário, o frete tem seus preços elevados; também a cotação do produto (R$) tem uma tendência de baixa nesse momento; no que diz respeito à qualidade e  diferenciação ficam comprometidas, pois quando o produto é entregue para  terceiros, são igualados aos demais depositários, impedindo a agregação de valor pela qualidade; por último, os subprodutos decorrentes do processo podem ser beneficiados e comercializados aumentando a rentabilidade do conjunto.
Hoje um sistema de armazenagem está alicerçado em três módulos básicos: Limpeza (maquina de pré-limpeza), Secagem (secador de grãos) e Armazenagem (silos verticais e armazéns graneleiros). Para compor uma unidade de pequeno porte, respeitando a área plantada do produtor e sua região de atuação (sul, sudeste, centro oeste e outras), existem no mercado unidades com capacidade de estocar a partir de 5.000 sacos e que possibilitam, com as demais safras, ampliar para 10.000 sacos e acima, conforme o crescimento. Para algumas regiões a pequena unidade armazenadora inicia a partir de 100.000 sacos.
As de 5.000 sacos (custo estimado: R$ 19,00/ saca armazenada), podem ser estruturadas de forma a terem uma recepção, limpeza e realizar a secagem num sistema de Silo-Secador, através de chamada seca-aeração.
A partir deste conjunto, podem ser inclusos secador e silos verticais ou armazéns, incrementando e adequando o fluxo de processamento (t/h).
Independente da capacidade de estocagem em que o produtor investirá, o módulo de armazenagem deverá ser composto de 3 itens fundamentais para a conservação dos grãos, que não podem ser dispensados  pela importância de manter os seus ganhos quantitativos e qualitativos. São eles; monitoramento da massa de grãos (termometria), aeração (ventilação) e o sistema de exaustão, este último considerado item fundamental para conservação da safra armazenada.
Ele proporciona ganhos pela eliminação da deterioração dos grãos e equalização da umidade e temperatura da massa, inibe o surgimento e crescimento das tradicionais pragas na armazenagem e produz ganhos (R$) com a redução de horas de ventilação.  Um silo ou armazém sem este sistema reduz a eficiência da aeração em até 60% e aumenta as perdas quantitativas (perda técnica) e qualitativas dos grãos.
Somando os ganhos proporcionados pela armazenagem na propriedade, percebe-se que o retorno do investimento nessa estrutura pode chegar antes da segunda safra. Guardando sua colheita, o produtor agrega valor na qualidade e na eliminação das taxas depositárias decorrentes da entrega do produto a terceiros. Essa eliminação chega a proporcionar ganhos de até 20%, além da oportunidade da comercialização no momento mais adequado (pré-plantio-colheita).
Analisando períodos anteriores e observando a cultura, o produtor poderá ter ganhos de até 20%. Caso contrário poderá reter a colheita até o momento da alta novamente, dominando a dança das cotações. Assim, incluindo os ganhos de frete, mais o aproveitamento dos descartes (impurezas, casca, etc.) e sua comercialização, ocorrerá uma rentabilidade extremamente positiva, a qual viabiliza o investimento em estruturas de armazenamento.
O aumento de percentual de produtores investindo em sua própria unidade não é decorrência somente da conscientização dos ganhos, mas, também, das linhas de crédito que os governos estadual e federal criaram para proporcionar essa alavancagem da capacidade de armazenagem instalada.
Com a safra 2008/ 09 de 133 milhões toneladas de grãos, o déficit de armazenagem chegará a 40 milhões de toneladas, conforme último levantamento da previsão de safra pela Conab. Com esse índice, acrescido ao conceito de que devemos ter 20% de capacidade de estocagem acima do volume colhido para viabilizar o escoamento e a comercialização da safra de forma equalizada e conquistar tranqüilidade para aguardar oportunidades de melhores preços (redução da pressão (R$) da alta demanda) podemos identificar uma enorme carência. Isso sem falar da existência de armazéns inadequados para receber e armazenar.
O índice de crescimento das safras, em condições normais, tem previsão de acontecer entre 3% a 5% ao ano. Já o de estocagem vem crescendo em patamares de 1,5% a 2,5% ao ano, o que demonstra que o déficit tende a crescer podendo chegar, em 2014/15, a 70 milhões de toneladas. A tendência brasileira é de crescer em volume de grãos (área e produtividade).
Desta forma o item armazenagem é estratégico para o País alcançar a sustentabilidade neste setor e ter um sistema de logística funcional, de tal forma que não tenhamos filas de caminhão na frente dos portões das unidades receptoras e filas de navios e trens nos portos marítimos.
Dentro dos cenários acima, o governo investiu em estudos de perspectivas de crescimento do Agronegócio e reconheceu a necessidade de criar crédito para estruturar uma rede sólida de capacidade de armazenagem em todos os segmentos, tanto na propriedade rural como também nas demais modalidades, respeitando suas finalidades de operação e objetivos.
Hoje, para incrementar, existem linhas de financiamentos onde se destacam: MODERINFRA, destinado a produtores rurais (pessoas física e jurídicas) e suas cooperativas, financiando investimentos fixos e semi-fixos relacionados com sistema de armazenagem; Programa de Incentivos a Armazenagem para Empresas Cerealistas Nacionais, PRODECOOP - Programa de Desenvolvimento Cooperativo para agregação de valor à produção agro-pecuária, FINAME AGRÍCOLA, FINAME ESPECIAL, BNDES AUTOMÁTICO, entre outros.
Vantagens - Uma instalação de armazenagem bem localizada fornece ao País uma solução estratégica para o sistema produtivo reduzir seus custos de forma global na cadeia do agronegócio, apresentando vantagens como:
- Comercialização da safra de forma parcial e no momento mais adequado, conforme a valorização da cotação.
- Eliminação de pagamento de taxas, quando da entrega do produto para depositar em terceiros.
- Redução de despesas com frete e diárias, decorrente de esperas em filas para entrega do produto.
- Qualidade de armazenagem, mantendo a Identidade Preservada dos grãos (redução das perdas quantitativas e qualitativas).
- Possibilidade de contratação de fretes em períodos de baixa demanda (entressafra), com melhor negociação com as transportadoras.
- Aproveitamento dos subprodutos, com a possibilidade de beneficiar ou comercializar os mesmos (impurezas, cascas e outros).
- Prestação de serviços de secagem a terceiros.
- Obtenção de linhas de crédito para investimento em estrutura de armazenagem e valorização do patrimônio.
- Ganho de prêmio por saca, decorrente de ter um produto de qualidade diferenciada para o processamento industrial, com ausência de fungos, pragas e outros.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.