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BUNDINHA MOLE HEIM?!


Paulo Lot Calixto Lemos

Na qualidade de marido, minha intenção não é, nem nunca foi, encorajar nossas esposas para que façam o mesmo... Antes, devemos encarar este episodio como um aviso, para que pensemos muito antes de tecermos algum comentário a respeito delas. Senão vejamos:

Glorinha acordou as seis da manhã, arrumou as crianças, levou-as ao colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático no marido, de trocarem recomendações, afazeres e reclamações.

Como sempre, antes de sair brigou com a empregada, que desta vez manchou seu vestido de seda lindo, saiu apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em local proibido enquanto ia, por um minuto, tirar dinheiro no caixa eletrônico. Fez ainda um supermercado rápido e foi para o trabalho.

No caminho do trabalho, batucava o volante de tanta ansiedade, enquanto aguardava a boa vontade de outros motoristas, estacionados no meio da rua, despejando dezenas de crianças barulhentas na porta de escolas. E pensava quando teria tempo para fazer as unhas e pintar o cabelo, antes que se transformasse numa senhora de cabelos grisalhos.

Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma loira escultural que, segundo soube, era a nova contratada para o cargo que ela, Glorinha, fez de tudo para conseguir. Pensou: “será que abdômen definido conta mais ponto do que meu excelente currículo e meus vários anos de dedicação?”. Mas logo à tardinha esqueceu a “gata”, pois no meio de uma reunião recebeu uma ligação do colégio avisando que Carminha, sua filha mais nova, estava com dor de ouvido e febre.

Tentou em vão achar o marido, pra variar o telefone dele estava fora de área. Resolveu então, ela mesma ir ao colégio, mas antes teria que ter um encontro com um novo cliente, que se revelou um chato de galocha, neurótico, desconfiado, mal casado, e que infelizmente, seria a pessoa com quem teria que negociar durante os próximos meses.

Saiu esbaforida, e no momento em que dava partida na ignição, ouviu alguém gritar: oh tia, o pneu do carro tá furado! Respirou fundo... Pensou em tudo que ainda teria que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor. Abandonou a encrenca do carro avariado, pegou um táxi e foi apanhar as crianças no colégio.

Quando chegou em casa, descobriu que tinha esquecido, no escritório, a droga da pasta com o relatório que precisava ler até o dia seguinte... Telefonou para o celular do marido na esperança que ele pudesse pegar os malditos documentos no escritório. Pra variar: “após o sinal deixe seu recado que retornarei assim que puder”. Fula da vida, conseguiu após inúmeros telefonemas, que um motoboy fosse até o escritório e lhe trouxesse a porra da pasta.

Tomou um “banho de gato”, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos, e finalmente botou os monstrinhos para dormir...

Lá pelas nove da noite, chega o maridão completamente irritado, destilando seu péssimo humor, reclamando de tudo e mais um pouco. Jantaram em silencio.

Enquanto o marido cochilava em frente da TV, Glorinha já na cama, lia o tal relatório. Leu a metade e logo começou a cabecear de sono. Adormeceu... De madrugada, o maridão acorda todo acesão, querendo jogo! Como aquelas “investidas” estavam cada vez mais raras no casamento deles, Glorinha resolveu fazer um ultimo esforço e atende-lo. Deram uma rapidinha, meio mais ou menos, e quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma leve apalpadela no seu bumbum acompanhada do seguinte comentário:

- Tá ficando com a bundinha mole, heim Glorinha! Deixa de preguiça e comece a se cuidar mulher!

Glorinha olhou para o abajur de metal que ficava na cabeceira da cama, olhou para a cara de bobo do marido, e se viu martelando a cabeça dele até que seus miolos ficassem espalhados pra tudo quanto era lado! Depois se imaginou pulando no seu tórax até moer todas as suas costelas, e com um alicate de unhas, se viu arrancado todos os seus dentes! Não satisfeita, se viu ainda dando-lhe um chute no saco com tanta violência, que faria dele um eunuco para o resto da vida!

Ufa... Já mais apaziguada, tentou então, usar uma técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: “Como controlar emoções negativas”. Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou:

- “Não vale a pena, não estamos nos EUA! Aqui eu nunca encontraria uma advogada feminista, carésima, que fizesse minha defesa alegando que assassinei meu marido cega de tensão pré-menstrual”.

Resolveu então, agir com sabedoria:

No dia seguinte NÃO levou as crianças na escola, NÃO trocou reclamações com o marido, NÃO brigou com a empregada e NEM fez supermercado rápido. Foi direto pra uma academia e malhou por duas horas seguidas. De lá foi pra um cabeleireiro, pintou os cabelos de acaju e as unhas de vermelho. Ligou para o cliente chato, disse tudo que achava dele, da mulher dele, e do quanto seu projeto era idiota.

Aguardou, hospedada num spa 5 estrelas, os resultados de sua péssima conduta fazendo uma massagem estética, que jura eliminar em dez sessões, toda gordura localizada, enquanto ouvia seu celular tocar sem parar, em cujo bina só aparecia o nome do seu marido, que desesperado tentava localiza-la para descobrir a razão do seu sumiço.

Pacientemente não atendeu, e como vingança é um prato que se come frio, mandou, simplesmente, um lacônico recado para a caixa postal dele:

- A bunda ainda está mole, só volto quando estiver dura. Um beijo da preguiçosa...

(Extraido e adaptado do livro "Este sexo é feminino" de Patricia Travassos)

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