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Como se estabelece a taxa de juros no Brasil?


Vinícius André de Oliveira

A taxa de juros sempre foi um assunto que causa certa angústia em qualquer economia. Nos países desenvolvidos e com economia mais estável e forte é por conta de seu nível muito baixo e que gera certos problemas, como baixo consumo e até desigualdade segundo o Prêmio Nobel de Economia Joseph E. Stiglitz. No Brasil o caso é o contrário. Temos aqui uma das mais altas taxas de juros e que provoca uma série de outros problemas, os quais não pretendo detalhar nesse momento. O objetivo dessa vez é tentar entender como é estabelecida a taxa de juros nos países, especialmente no Brasil.

Existem algumas explicações macroeconômicas que buscam explicar as motivações do nível da taxa local. A primeira pode ser a de que o nível de poupança é baixo. A taxa de poupança do setor público é inexistente, já que as contas públicas geralmente são deficitárias, ou seja, não existe superávit na maioria dos momentos. Já a poupança do setor privado não passa de 17% enquanto na China, por exemplo, a taxa é de 40% e nas economias desenvolvidas gira em torno de 25%. A segunda razão pode vir da Teoria Quantitativa da Moeda, que justifica o aumento da inflação pela quantidade de moeda em circulação. Quanto mais moeda, mais inflação. Isso tem como base o modelo IS-LM, modelo Keynesiano, desenvolvido por Hicks-Hansen, que basicamente demonstra que o excesso de demanda agregada sobre a capacidade instalada gera pressão nos preços e contrário baixa o nível geral dos preços.

Acreditava-se, até certo tempo, que o que influenciava a demanda agregada era a quantidade de moeda. Cabe aqui um parênteses para explicar o que é demanda agregada: é o total de bens e serviços que será adquirido em dado momento em todos os níveis de preços. É determinada pela quantidade de moeda em poder dos agentes econômicos.

Inacreditavelmente, os bancos centrais não controlam a base monetária, como retratado por ex-diretores do Banco Central do Brasil. As autoridades monetárias controlam a taxa de juros, fato que impacta diretamente na política monetária. Se os bancos centrais não conseguem controlar a base monetária isso significa dizer que não existe nada que funcione como âncora para a inflação, ou seja, a inflação é resultado do passado apresentado e das expectativas e movimentos aleatórios de oferta e demanda. O meio mais utilizado para a tentativa de controle é a taxa de juros. Aumenta-se a taxa com o objetivo de reduzir a demanda agregada. Porém, as expectativas devem ir no sentido contrário para que não ocorra uma recessão profunda da economia. Essa ideia, porém, foi derrubada por um novo pensamento que demonstra, ou pelo menos questiona, através de dados históricos, que não há ligação direta entre base monetária e inflação. Exemplo disso, é a economia dos Estados Unidos. O FED, banco central americano, aumentou sua base, à partir de 2008, de US$50 bi para mais de US$1 trilhão e com uma inflação decrescente no mesmo período, ameaçado por deflação a todo momento.

André Lara Resende, economista renomado no Brasil, PhD pelo MIT – Massachusetts Institute Technology, diz que apesar de todos esses fatos, a inflação é muito mais estável do que se imagina. Além disso, todos os métodos utilizados para manter a inflação, como plano de metas, por exemplo, não são determinantes o suficiente para estabilizá-la. Como não há ancoragem e como está basicamente baseada em expectativas – e sobre expectativas se tem pouco controle ou índice padrão para identifica-las com antecedência – existe segundo ele quase que uma vontade própria em seu comportamento e, portanto, quando a inflação está dentro da meta, é por conta do seu movimento natural. Todas as teorias, ortodoxas ou não ortodoxas, são controvertidas e a cada passo surge uma nova contribuição e uma nova verdade sobre o comportamento da inflação e sobretudo da taxa de juros.

Dito isso tudo, dá para concluir que uma das teorias que se aplica melhor no caso do Brasil é que por conta do nível de poupança ser baixo, tenta-se manter uma taxa de juros alta a fim de atrair mais poupadores. Além disso, pesa o fato de a política monetária ser fortemente baseada nessas teorias mencionadas, que são sempre questionáveis e que vão sendo testadas ao longo do tempo como que por tentativa e erro acreditando nos efeitos e na eficácia de suas medidas.

Acredito cada vez mais na relação que se estabelece entre psicologia social e economia como determinantes das variáveis macroeconômicas, por conta das expectativas do que em teorias quantitativas.

De qualquer forma, taxa de juros no Brasil ou em qualquer lugar do mundo é um assunto complexo e difícil de se determinar. A economia vai nos ensinando com o tempo.
    
    
 

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