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De volta a um passado indesejado


Amélio Dall’Agnol

Há dois eventos dos anos 80 que nós não gostaríamos rever nos dias atuais: erosão e inflação. O primeiro destes eventos prejudicava o agricultor, privando-o da porção mais valiosa do solo da sua lavoura, que era arrastada para o fundo do vale, assoreando rios, lagos e reduzindo a vida útil de barragens de hidrelétricas. O segundo evento prejudicava todo o mundo porque diminuía o salário do trabalhador que a cada mês comprava menos, porque o salário permanecia o mesmo, mas o preço dos produtos que comprava crescia diariamente. 

A erosão foi bastante controlada pela adoção do Sistema de Plantio Direto na palha (SPD) a partir dos anos 90 e a inflação descontrolada foi abatida com a adoção do Plano Real em meados dos anos 90.

Não se pretende neste espaço comentar a inflação, a qual chegou a rondar o inacreditável índice mensal de 80% no final do (des)governo Sarney. Vamos nos ater à análise da erosão do solo, a qual levava de roldão a melhor terra do patrão, o que resultava em queda acentuada da produtividade, aliada ao aumento do custo dos fertilizantes. Era notória a diferença de produtividade na parte alta de uma lavoura, em contraste com as partes mais baixas, antes da adoção do SPD, como consequência da menor ou maior erosão do solo.

Nos anos que antecederam a adoção do SPD, era prática generalizada dos agricultores prepararem o solo para os plantios de primavera, lavrando e gradeando o campo para promover o revolvimento do solo e o controle das invasoras, processo que resultava na pulverização do solo e exposição da terra nua à ação das chuvas torrenciais da primavera, prejudicando duplamente o agricultor: perdia pela erosão a camada mais fértil do solo a qual assoreava riachos e lagoas da propriedade e perdia em produtividade, pelo empobrecimento do solo.

A geração que conviveu com a erosão, sofrendo suas nefastas consequências, certamente está mais consciente e alerta para intervir e evitar o retorno desse passado que essa geração quer esquecer. Mas, e as gerações que vieram depois e que não testemunharam os rios de lama que escorriam pelas encostas da propriedade, levando morro abaixo os nutrientes e a matéria orgânica acumulada durante décadas? Por desconhecerem o tamanho da tragédia vivida pelos seus antepassados, a atual geração de produtores talvez não sinta a mesma necessidade de tomar medidas para evitar o retorno desse desastre, que parece estar efetivamente retornando.

A erosão pode ser controlada pela adoção do SPD, desde que bem feito, o que implica em adotá-lo respeitando os três princípios básicos que orientam a tecnologia: evitar o revolvimento do solo, realizar a rotação de culturas e manter o solo coberto com bastante palhada. Infelizmente, após um período de relativo respeito aos três princípios, atualmente vemos muitas lavouras retornando ao passado, com evidentes sinais de erosão em seus campos de produção. 

Um aspecto importante que não pode ser esquecido é que o SPD não é capaz de responder pela proteção do solo sozinho, temos que trabalhar junto com as práticas mecânicas de controle da enxurrada, como os terraços e as curvas de nível, particularmente nos tempos atuais de mudanças climáticas e chuvas intensas de curta duração.

A deterioração do SPD tem várias causas, dentre as quais podemos salientar: eliminação de terraços para facilitar o trânsito de máquinas gigantes; trafego intenso de máquinas com solo úmido (principalmente na safrinha de milho, aumentando a compactação); máquinas operando no sentido da declividade do terreno e; geração de pouca palhada, como consequência da falta de rotação de culturas ou com rotação, mas realizada de maneira equivocada. 

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