CI

DELIVERY


Paulo Lot Calixto Lemos

Hoje, quase tudo que se precisa denominar ou nomear utiliza-se palavras ou expressões da língua inglesa. Especialmente produtos, idéias e serviços que passaram a existir apenas de alguns anos pra cá. Os exemplos são muitos e a despeito dos puristas, acredito que existe uma razão para ser assim. Afinal os Estados Unidos da América são atualmente, um “império” talvez mais influente do que foi a própria Roma antiga. Além de ser, muitas vezes, a maior potencia militar do planeta, os EUA são também a maior potencia tecnológica, política e cultural que o mundo conhece. Novos produtos, novas idéias, novos conceitos são originados a todo o momento, de cabeças que pensam e falam em inglês. Então nada mais esperado e natural que sejam literalmente copiados pelo resto do mundo, pois além do mais, a própria falta de tempo ou de recursos lingüísticos para uma tradução apropriada, nos obriga a isso.

Esta breve introdução se presta unicamente para dizer que o que tenho a contar hoje ainda é do tempo da “entrega a domicilio” e não do atual “delivery”. Ainda é do tempo da “cerveja do fim de tarde” e não do “happy hour”. Ainda é do tempo em que o banco do Brasil funcionava na praça da matriz, onde é hoje a agencia II do banco Itaú. Ainda é do tempo em que a maioria dos funcionários do BB era composta de gente antiga, conhecida pelo nome (ou pelos apelidos do “Biscatão”). Ainda é do tempo que existia o famoso bar do Zé Feio, localizado em frente a agencia do B.B, onde todas as tardes, tais funcionários (do continuo ao gerente), se tornavam cidadãos comuns, apreciadores da estupidamente gelada cerveja do bar do Zé Feio.

Mas como diz o ditado: “quem conta um conto aumenta um ponto”. Então vamos lá: Tudo corria às “mil maravilhas” até que um novato “dedo-duro e puxa-saco” foi até a superintendência do banco enredar a respeito do gosto pelas geladas que esta infeliz vizinhança estava provocando nos colegas de Passos. Acredita-se que tal fofoqueiro falou bem mais do que era preciso, pois não é que enviaram um inspetor regional, exclusivamente, para apurar in loco tão difamatória denuncia?

Pois bem, o tal inspetor planejou tudo com cuidado. Primeiro não comunicou a ninguém sua vinda, segundo chegou a Passos somente à tardinha, após o expediente, para que não mudassem a rotina devido a sua presença. Porem, mal sabia ele que “onde corre o pau também corre o machado”. Afinal, era tempo de “guerra fria” e ditadura militar. Olheiro e agente duplo era o que mais rolava no pedaço.

Assim, foi direto ao bar do Zé Feio. Chegou, entrou, esperou e nada... Nenhum simples funcionário do banco aparecia por lá... Até que se cansou e indagou a um freqüentador que lhe pareceu mais confiável:

- Por favor, o senhor saberia me informar onde se encontram os funcionários do Banco do Brasil?

Com a fala meio embolada, Pedrão apenas respondeu:

- Ora, hoje eles estão fazendo hora extra!

Decepcionado com a informação, o inconformado regional “ferrador” foi até o banco verificar a razão de toda aquela “eficiência”. Entrou na agencia, não encontrou ninguém nas mesas ou nos caixas... Ninguém nas salas internas ou na sala da gerencia... “Mas como” – pensou – “se a porta do banco está aberta?”. Ouviu então, algum ruído vindo da cozinha, que dava para uma área externa, tipo quintal. Foi até lá, e de mansinho abriu a porta... E para sua satisfação constatou a balburdia. As tais horas extras eram na verdade horas extraordinárias de uma animada festa, com direito a faixa de “seja bem vindo” e regada a muitas “noivas”, com certeza originárias do decantado bar!

“Então é isso!” – Pensou mais uma vez – “onde já se viu fazer festas na agencia do banco? Vou pregar uma peça nesse pessoal que eles nunca mais vão se esquecer!”.

Foi então até o botão de alarme, que era para estar conectado direto com o batalhão de policia e apertou... – “Vou fazer com que a policia leve todo mundo de camburão! Hehehehehe”. – pensou alto o famigerado...

Não passou mais que 30 segundos para que o nosso “Caxias” ouvisse o barulho de um tropel de gente chegando – “que policia mais eficiente!” – pensou. Mas para seu espanto o tropel era na verdade composto por convidados e voluntários do bar do Zé Feio, para onde o alarme fora desviado para avisar, que adentrando o banco carregando caixas e mais caixas das famosas “noivas” estupidamente geladas, acompanhados de outros tantos que sem mais delongas já colocaram o arregalado inspetor nas costas o levando de roldão para o quintal, gritando e cantando:

- O gerentão é bom companheiro!

- O gerentão é bom companheiro!

- Por isso ele mereceeeeee!!!

- Cerveja o ano inteiro!

Diante de tal recepção, fazer o que?

Paulo Lot Calixto Lemos

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.