A retrospectiva econômica global recente traz lições importantes para o setor agropecuário, que talvez tenha sentido os movimentos macroeconômicos antes mesmo de eles virarem manchetes. Entre 2024 e 2025, o agro operou em um ambiente mais complexo: custos financeiros elevados, preços internacionais mais voláteis e um cenário climático cada vez menos previsível. Ainda assim, mostrou resiliência — característica que será decisiva em 2026.
O ciclo de juros altos nas principais economias teve impacto direto no campo. Crédito mais caro pressionou margens, especialmente em atividades intensivas em capital, como grãos, pecuária confinada e produção florestal. Ao mesmo tempo, a desinflação global ajudou a aliviar alguns custos de insumos, como fertilizantes e defensivos, após os picos registrados no início da década. O resultado foi um ajuste fino: menos euforia, mais gestão.
No mercado internacional, a demanda seguiu firme, mas longe de ser linear. A China continuou sendo um grande comprador de alimentos, porém com crescimento mais moderado e maior seletividade. Países do Oriente Médio e do Sudeste Asiático ampliaram importações, reforçando a importância da diversificação de destinos. Já a fragmentação geopolítica trouxe um efeito ambíguo: abriu espaço para produtores competitivos, mas elevou riscos logísticos e comerciais.
Outro ponto central da retrospectiva foi a volatilidade climática. Eventos extremos deixaram de ser exceção e passaram a fazer parte do planejamento. Secas, enchentes e ondas de calor impactaram safras em diferentes regiões do mundo, influenciando preços e estoques globais. Para o agro, isso reforçou uma mensagem clara: produtividade futura dependerá tanto de tecnologia quanto de adaptação climática.
Nesse contexto, a tecnologia ganhou ainda mais protagonismo. Agricultura de precisão, biotecnologia, uso de dados e inteligência artificial avançaram do discurso para a prática, ajudando produtores a reduzir custos, otimizar insumos e gerenciar riscos. Porém, a adoção não é homogênea — e esse descompasso tende a separar, em 2026, quem ganha eficiência de quem perde competitividade.
Olhando para frente, algumas reflexões se impõem. A primeira é que o agro estará cada vez mais exposto ao ambiente macroeconômico global. Câmbio, juros internacionais e decisões de política monetária seguirão influenciando preços, crédito e investimentos no campo. Gestão financeira deixará de ser diferencial e passará a ser requisito básico.
A segunda reflexão diz respeito à sustentabilidade. Pressões regulatórias, exigências de rastreabilidade e compromissos ambientais continuarão avançando, não apenas por demanda externa, mas também como condição de acesso a mercados e financiamento. Produzir bem não será suficiente; será preciso provar como se produz.
Por fim, 2026 tende a consolidar um agro mais profissional, menos dependente de ciclos favoráveis e mais orientado por estratégia. Em um mundo de crescimento moderado e riscos elevados, o setor que sempre lidou com incertezas terá uma vantagem: quem já aprendeu a conviver com o imprevisível sai na frente.
A grande questão não é se o agro continuará relevante — isso é dado. A questão é quem estará preparado para competir em um cenário global onde eficiência, informação e gestão valem tanto quanto a chuva no momento certo.