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Empresas Familiares – NOVOS CASES X LIÇÕES DE CASA (II)


Prof. João Mariano

A idéia de relatar "cases" é que os empresários que estiverem lendo este artigo, poderão fazer associações imediatas, com suas próprias situações e caminhos para solucionar seus problemas, ou mesmo ajudar amigos que estejam passando por isso.    Os casos são verdadeiros, todos aqui do interior de São Paulo e duas das empresas ainda se encontram operando, a fábrica de sofás, que encolheu de 40 funcionários para 5 e hoje sustenta a família (virou o emprego deles) e a fornecedora de refeições, que não se preparou para entrada de concorrentes mais competentes e agora tenta recuperar terreno.

CASE I.a) : empresário com apenas um filho, estudante de administração de empresas, em torno dos 20 anos, atuando na empresa, fabricante de barcos, em funções operacionais, na mesma sala do pai, numa mesa pequena, observando ele o dia todo...

O pai criador da empresa há cerca de 20 anos, vinha tocando do seu "jeito", empírico, já que não tinha formação escolar e havia aprendido o "ofício" em outros concorrentes, quando mais jovem.   Insistiu com o filho para que estudasse e este estava no 3º ano de administração de empresas. Estudava à noite e ficava de dia na empresa.  O pai concentrava o poder em si e apenas passava atividades operacionais mais simples para o filho, que ficava sentado numa mesa pequena perto da sua na sala da Diretoria.  A dele, uma mesa enorme e bem ao lado a do filho.   Ao perguntarmos como treinava seu filho, ele comentou, que ele  ficando ali perto, via como as coisas eram resolvidas e aprendia.  Comentamos que poderia enviar o filho para visitar os fornecedores de alumínio e outros materiais para os barcos, visitar os distribuidores e lojistas do setor. Ele retrucou que não, que era muito novo ainda, que era melhor ficar do jeito que tava na empresa.....Resultado, fechou cerca de três anos depois da nossa visita....

LIÇÕES DE CASA:

1. a preparação dos filhos na gestão familiar precisa ser adequadamente direcionada, a partir do momento em que tomar contato com as atividades operacionais e administrativas, o que recomendamos seja feito em torno dos 15 anos (no máximo), para que defina sua vocação em tempo hábil, sem iludir os pais ou a eles mesmos.

2. pais que acreditam que os filhos ficando sentadinhos ao seu lado estarão aprendendo, cometem um erro grave. Os adultos aprendem fazendo, experimentando, sofrendo as pressões da decisão.  Coloquem seus filhos para viajar, visitar fornecedores, clientes, lojistas, negociar preços e aprenderão  mais rapidamente como se comportar em cada situação.

3. os filhos também tem que se definir o mais cedo possível, se vão seguir a sua vocação e se ela é compatível com o que a empresa da família oferece. Caso decidam partir para experiências pessoais fora dos negócios da família, estarão possibilitando também que estes sejam profissionalizados, mesclando familiares com profissionais do mercado, uma das receitas mais produtivas existentes.

CASE II.a) : empresário fez o patrimônio da família, fundando vários negócios durante sua vida e o último foi uma fábrica de sofás.  Entrou com o capital e colocou os dois filhos mais jovens para tocar a fábrica. Um com 25 anos, como Diretor Comercial e outro de 22 , cuidando de bancos e coordenando a Expedição. Contratou alguns veteranos do mercado local para o escritório.

Um dos filhos realmente tinha muita habilidade comercial, adquirida vendendo produtos alimentícios de porta em porta, mas se revelou uma negação na gestão dos resultados financeiros e organização administrativa.  Gostava de negociar, de visitar clientes, sabia conversar bem, mas depois furava as entregas e também acaba atrasando com seus fornecedores.   O mais jovem,  fazia o expediente dos bancos normalmente, mas não se aventurava a assumir maiores responsabilidades, além de acompanhar os carregamentos de sofás para os clientes e o recebimento das matérias primas.  A empresa tinha cerca de 40 funcionários, um layout deficitário, em dois níveis com mais de 3 metros de diferença, gerando escadas e atravancando o fluxo de materiais entre marcenaria (parte da madeira, que era toda feita na fábrica) e parte da montagem e acabamento dos sofás.   Os modelos não tinham um estudo, mas bastava viajar e ver uma novidade, que copiavam na hora.  Ás vezes o tiro dava errado, o produto encalhava, aí o pai abriu uma loja na frente da fábrica, que era numa avenida à beira da rodovia, para desovar os encalhados.  Tinha um volume muito alto de devoluções, em função da despreocupação com a qualidade.   Com o tempo, foi encolhendo, parou de atuar junto às lojas e hoje fabrica somente por encomenda e para sua própria loja, com apenas 5 funcionários.  O irmãos se casaram e colocaram as esposas também na empresa.  Estava  se tornando uma "vaca leiteira" com tetas insuficientes para toda a família...

LIÇÕES DE CASA:

 1. um tipo de habilidade, como a comercial, não leva uma empresa sozinha ao sucesso, se não houver complementos de igual competência nas áreas administrativa financeira, fiscal-tributária, custos. É preciso buscar a capacitação mais completa para exercer a função de executivo principal num negócio, mesmo que seja numa pequena fábrica de sofás.

2. as funções precisam ser definidas e deve existir um sistema de cobrança, seja do pai, que poderá ter a função ingrata de ser o "chato", o "carrasco", mas que irá exigir que seja feito, que as coisas sejam cumpridas.  

3. a preocupação com a qualidade deverá ser uma constante, desde o início das atividades da empresa, como uma bandeira que todos defendem, até mesmo como parâmetro de sobrevivência no mercado. O desleixo com a qualidade, associado com a displicência nas funções e falta de capacitação  podem encolher uma empresa em pouco tempo.

CASE III.a) : o empresário criou uma empresa de alimentação industrial e após se aventurar na política da cidade e diretorias de clubes, resolveu atuar em outro segmento, entregando a empresa ao filho e filha, para que tocassem, interferindo apenas em momentos mais críticos.

O filho se formou em administração e tem 25 anos, atuando na área administrativa da empresa, mas sem vocação para área comercial, que o pai fazia muito bem, embora seu sucesso estivesse mais relacionado com a convivência dos empresários clientes, em meios sociais,clubes, associações e outras entidades.   Resolveu atuar em outro segmento, imobiliário e montou uma imobiliária na mesma cidade.  A filha, 23 anos, nutricionista, cuidava da parte operacional e da qualidade das refeições.  Por uma questão de concorrência e preços, andaram perdendo alguns clientes no mercado local, o que fez com que o pai tivesse que fazer várias visitas, tentando reverter algumas quebras de contrato.  Conseguiu alguns, mas teve dificuldade em outros, que alegavam uma queda na qualidade da comida, que as pessoas tinham enjoado do tempero deles e queriam experimentar novas opções.  A filha,  atuando internamente e sem vocação comercial se limitava a tomar conta dos ingredientes e das cozinheiras.  O filho, não tinha vocação comercial, apenas social, nas badalações locais e festas.   A empresa  começava a sentir a força de novos concorrentes mais competitivos...

LIÇÕES DE CASA:

1. qualquer empresa que dormir no ponto, seja na preparação dos herdeiros e sucessores ou com relação aos concorrentes, poderá sair do mercado, encolher, ter problemas financeiros. É preciso investir sempre, principalmente, quando se trata de refeições, em que pequenas diferenças de sabor, de apresentação, sofrem críticas e influências do público-alvo. 

2. a preparação dos filhos, deverá ser mais abrangente o possível, para cobrir talentos que estejam deixando o negócio, sejam do próprio pai ou de executivos.  Uma alternativa é colocar profissionais externos, capacitados, bem remunerados, que possam cobrir as deficiências de formação dos filhos e ao mesmo tempo que atuam, recuperando a empresa, também estarão treinando os mesmos.


3. o mercado não perdoa empresas que não apresentem alta qualidade nos serviços e produtos, já que entendem isso "como obrigação" e não como "diferencial" nos dias atuais. Loco, se não houver um grande esforço da família, até mesmo abrindo espaço para profissionalizar com executivos,  os resultados poderão ir minguando e complicar a vida da empresa. 

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