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Fake news no agro


Frederico Franco

Em uma pesquisa sobre o Holocausto, foi observado pela filósofa Hannah Arendt que as atrocidades não foram causadas por psicopatas, mas por pessoas comuns colocadas sob pressão extraordinária para se conformar. Desde então, aprendemos que a pressão pode ser tratada como alívio, pois os seres humanos são animais de rebanho. Nós sobrevivemos apenas em grupos altamente coordenados, mas individualmente somos projetados para pegar sugestões sociais, coordenar e alinhar nosso comportamento com aqueles que nos rodeiam. Pesquisas recentes mostraram que a desaprovação social provoca os circuitos de perigo do cérebro, a conformidade social acalma.

O conformismo está diretamente relacionado com normas e regras sociais do nosso dia a dia, seja no trabalho, vida social e na busca de informações. Então, muitas vezes usamos as redes sociais como ferramenta de atualização das notícias, demonstrando que a troca de informações são as alavancas da civilização, pois dados acumulados e compartilhados podem resolver problemas maiores, assim como o esforço físico acumulado pode mover obstáculos mais pesados.

Entretanto, ser conformista com todas as informações recebidas é um erro fatal, pois você estará em alguns momentos compartilhando mentiras, ou informações erradas, que foram distribuídas de forma intencional com o propósito na maioria das vezes de “transformar a mentira em verdade”. Exemplo disso é uma tragédia em uma ponte no Camboja, em 2010, resultando em mais de 350 mortes, que foi atribuída ao fato de que muitas das pessoas presentes não sabiam que é normal que uma ponte pendurada possa balançar ligeiramente. 

Nas zonas rurais, é normal encontrarmos aquelas popularmente chamadas de “vendas”, que ficam em locais estratégicos de diversas regiões agropecuárias do Brasil. Nesses locais, geralmente os produtores da região se reúnem para o seu “happy hour”, e também é aquele momento em que os produtores da região buscam notícias e também ficam sabendo das fofocas e informações das diversas pessoas que ali passam e deixam informações, criando assim uma “redação jornalística e de entretenimento” no meio da zona rural. Sendo assim, uma característica cultural, que ajuda na tomada de decisão do produtor, pois vamos dizer que ali acontece também um “brainstorming”, ou uma tempestade de ideias e dicas de técnicas agrícolas utilizadas pelos produtores.

Em contrapartida, ao receber essas notícias é preciso saber filtrar, e também ter bom senso ao divulgar informações particulares. Assim como nas redes sociais, temos também pessoas mal-intencionadas na divulgação ou na busca dessas informações. Exemplos disso são roubos em propriedades rurais, assaltos nas estradas vicinais, difamação errônea de pessoas e uso de técnicas erradas na produção, que aconteceram pelo fato dessa divulgação de boca em boca ter sido feita de forma irracional, pela conformidade da população local ao receber/divulgar e não analisar o impacto dessas informações.

Ao longo da história, informações ruins obtidas de pessoas mal informadas, iludidas ou malévolas foram responsáveis por muitas calamidades militares, financeiras e pessoais.

Portanto, a conformidade é parte do nosso hardware, facilitando nossa sobrevivência e trazendo-nos conforto. Por outro lado, como Hannah Arendt reconheceu, a tendência tem sido responsável por muitos problemas na humanidade. Então, vamos exercitar o senso crítico e tentar deixar de lado a ansiedade que o rápido compartilhamento das notícias nas redes sociais e na vida pessoal traz. 

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