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O coronavírus e a soja


Argemiro Luís Brum

No momento em que a Covid-19 nos leva para uma nova recessão econômica, alguns setores tiram vantagens da crise. Neste caso, e no curto prazo, encontramos a soja (exceção feita, infelizmente, ao Rio Grande do Sul, onde a seca causou uma quebra ao redor de 50% da safra), na medida em que seu preço no Brasil disparou neste início de ano.

Em relação a 2019, nesta mesma época, o balcão gaúcho passou, na média, de R$ 69,93/saco para os atuais R$ 90,85 e os lotes de R$ 73,00 para R$ 96,50, atingindo preços nominais recordes. Em todo o Brasil os ganhos ficaram, no período, entre 30% a 37%. O motivo deste forte aumento está especialmente no câmbio, já que em Chicago o bushel da soja, para o primeiro mês cotado, fechou em US$ 8,55 neste dia 06/04 (um ano atrás valia US$ 8,99).

E os prêmios em nossos portos, embora melhores (hoje na média de US$ 0,51/bushel, contra US$ 0,20 um ano atrás), estão normais. O recuo em Chicago, está ligado a redução dos negócios mundiais, e muito ao quadro de importante oferta futura a partir de um aumento de 10% na área a ser semeada com soja nos EUA, segundo a intenção de plantio anunciada em 31/03. Enquanto isso, o Real se desvalorizou 36%, passando, no período, de R$ 3,86 por dólar para os atuais R$ 5,25, sendo este o elemento central do aumento nos preços internos da soja.

Tanto é verdade que, se o câmbio tivesse ficado nos níveis de um ano atrás, mantidas as cotações atuais em Chicago e dos prêmios, o balcão gaúcho estaria pagando hoje, em média, R$ 65,50/saco, ou seja, 28% a menos do que está hoje. Nota-se que a desvalorização do Real pouco está atrelada ao coronavírus. De fato, o Real já havia se desvalorizado bastante até o dia 16/03 do corrente ano, momento em que a pandemia se cristalizou em nosso país.

Naquela data, o câmbio fechou em R$ 4,94, com uma desvalorização de 28% sobre abril/19. Assim, o coronavírus seria responsável por “apenas” uma desvalorização de 8 pontos percentuais em nossa moeda. Isso nos remete à tendência futura. Tudo indica que, passado o forte da pandemia, os mercados reajam um pouco e o câmbio retroceda, porém, neste último caso dificilmente para os níveis de um ano atrás.

Simplesmente porque a saída de dólares do país está muito forte desde o início de 2019, puxada por algumas indecisões da equipe econômica e pelo completo destempero político do presidente Bolsonaro e seus seguidores mais próximos. Além disso, o recente atrito (mais um) com a China, aponta para as grandes dificuldades futuras que teremos no comércio exterior, onde a soja tem um espaço importante. Assim, mais uma vez, os produtores de soja correm grande risco de fazer a nova safra com altos custos, sem garantia de recuperá-los quando da comercialização na colheita de 2021. Vale, portanto, olhar com atenção a possibilidade de venda futura da oleaginosa na busca da melhor média possível. 

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