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PORQUE SOMOS ODIADOS?


Paulo Lot Calixto Lemos

Ainda no ano passado, antes que a guerra contra o Iraque fosse deflagrada, Robert Bowan, tenente-coronel reformado, ex-combatente no Vietnã e atualmente bispo da igreja Católica na Florida, enviou a seguinte carta ao presidente dos EUA, George W. Bush:

Sr. Presidente, conte a verdade ao povo americano a respeito do terrorismo. Se os mitos sobre o terrorismo não forem desfeitos, então a ameaça continuará até destruir-nos completamente. A verdade é que nenhuma de nossas milhares de bombas nucleares pode proteger-nos dessa ameaça. Nenhum sistema “Guerra nas Estrelas” poderá proteger-nos de uma arma nuclear trazida num barco, avião, valise ou num carro alugado.

Nem uma arma sequer do vosso vasto arsenal, nem um centavo sequer dos US$270.000.000.000,00 (isso mesmo, duzentos e setenta bilhões de dólares) gastos por ano no chamado “sistema de defesa” pode evitar uma bomba terrorista. Isto é um fato militar.

Como tenente-coronel reformado e freqüente conferencista em assuntos de segurança nacional, sempre tenho citado o salmo 33: “um rei não é salvo pelo seu poderoso exercito, assim como um guerreiro não é salvo pela sua enorme força”. Sendo assim, a reação obvia é? Então o que fazer? Não existe nada que possamos fazer para garantir a segurança do povo americano? Existe. Mas para entender isso é preciso dizer a verdade sobre porque somos o grande alvo do terrorismo.

Sr. presidente, o senhor não contou a verdade ao povo americano. O senhor disse que somos alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos ao redor do mundo. Que absurdo Sr. presidente! Somos alvo dos terroristas porque, na maior parte do mundo, nosso governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvo dos terroristas porque somos odiados.

E somos odiados porque nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos paises agentes do nosso governo depuseram lideres popularmente eleitos, substituindo-os por militares ditadores, marionetes desejosas de vender seu próprio povo a corporações americanas multinacionais? Fizemos isso no Irã, quando os Marines e a CIA depuseram Mossadegh porque ele tinha a intenção de nacionalizar a industria do petróleo. Nós o substituímos pelo Xá Reza Pahlevi, armamos, treinamos e pagamos a sua odiada guarda nacional, a Savak, que escravizou e brutalizou o povo iraniano para proteger os interesses de nossas companhias de petróleo. Depois disso, será difícil imaginar porque tantos iranianos nos odeiam? Fizemos o mesmo no Chile, no Vietnã, e é claro, em varias republicas da América latina e da África. Mais recentemente fizemos isto no próprio Iraque, com o mesmo Saddan Hussein.

Apoiando e “comprando” tiranos como esses, que vedem e brutalizam seu próprio povo em prol dos nossos interesses econômicos, o que é que o senhor acha que obteremos em retorno? De país em país, nosso governo obstruiu a democracia, sufocou a liberdade e pisoteou os direitos humanos. É por isso, e por nada mais, que somos tão odiados ao redor do mundo.

O povo do Canadá, da Noruega ou da Suécia desfrutam também da democracia, da liberdade e dos direitos humanos. O senhor já ouviu falar de embaixadas canadenses, norueguesas ou suecas serem alvos de bombas terroristas?

Enfim, nós não somos odiados porque, como o senhor diz, praticamos e defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Somos odiados porque nosso governo nega isso aos paises do terceiro mundo, cujos recursos são cobiçados por nossas corporações multinacionais.

Esse ódio que semeamos virou-se contra nós para assombrar-nos, na forma de terrorismo, e no futuro, terrorismo nuclear. Uma vez dita a verdade sobre o porque desta ameaça existir, e sendo ela entendida, a solução torna-se óbvia.

Nós precisamos mudar nosso modo de agir. Alterar drasticamente nossa política externa.

Em vez de mandar nossos filhos e filhas para matar árabes, para que possamos ter o petróleo que existe sob suas areias, deveríamos manda-los para reconstruir sua infraestrutura, fornecer água limpa e alimentar suas crianças.

Em vez de continuar a matar milhares de crianças iraquianas, por causa de nossas sanções econômicas, deveríamos reconstruir suas estações de tratamento de água, suas usinas elétricas, seus hospitais e tudo mais que destruímos.

Em vez de treinar terroristas e esquadrões da morte, deveríamos fechar a Escola das Américas, em vez de sustentar a desestabilização e o assassínio ao redor do mundo, deveríamos abolir a CIA e empregar o dinheiro que ela consome, em agencias de assistência humanitária.

Resumindo, deveríamos ser bons em vez de maus. Quem iria nos deter? Quem iria nos odiar? Quem iria querer nos bombardear?

Essa é a verdade, senhor presidente. É isso que o povo americano precisa ouvir.

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