Fico observando nos noticiários as fortes chuvas no Sul e Sudeste. Casas destruídas, lavouras castigadas pelo granizo e o caos urbano. Não quero aqui buscar culpados ou blindar empresas, mas proponho uma reflexão sobre a dificuldade de ser empresário de produção de bens e serviços em tempos de mudanças climáticas.
O cenário em São Paulo, recentemente, foi emblemático: bastaram duas horas de um evento extremo para que milhões ficassem no escuro. Questiono: qual a capacidade real de uma empresa — seja de energia ou de logística — em manter equipes em standby para um desastre imprevisível? Quantos caminhões e técnicos são necessários deixar de prontidão para atender o imponderável? Sem uma força-tarefa integrada, a solução rápida é uma utopia.
Gostaria de trazer duas reflexões: a história de que "privatiza que melhora" tem se mostrado, em muitos casos, um engodo. Os exemplos estão aí, para o bem ou para o mal. Mas a questão central aqui não é política, e sim operacional. Antes do ciclone extratropical, com ventos de 100 km/h, a maioria das casas tinha energia. Duas horas depois, o cenário era de guerra: centenas de árvores e postes derrubados, quilômetros de fios rompidos e milhões de pessoas sem energia.
Quem pode prever quando, onde e com qual intensidade esses eventos virão? Jogar a culpa apenas na empresa é a parte fácil. O papel do poder público não deveria ser o de ajudar a reduzir o caos de forma emergencial e planejar metas contratuais para a troca da fiação aérea pela subterrânea nos grandes centros, por exemplo?
De quem é a culpa de eventos climáticos extremos? Até que ponto as empresas podem ser responsabilizadas pela falta de agilidade em resolver seus efeitos? O mais fácil é criticar, mas o correto é compreender. Sei que estar do lado de quem paga e não tem o serviço é cruel — perdemos carnes, fechamos restaurantes, deixamos de carregar carros elétricos... o prejuízo dói no bolso de todos.
No Agro, o sentimento é o mesmo: o produtor planta na hora certa, faz o manejo perfeito, mas vê o granizo ou a seca destruírem tudo em minutos. Polêmico, né? Mas tem um ditado chinês que gosto muito: "Nunca julgue um homem antes de andar duas luas com os sapatos dele". Ou, na nossa boa filosofia de boteco: "É fácil falar de mim, difícil é ser eu!".
Em tempos de mudanças climáticas, é fácil apontar culpados sem assumir nossa parcela de responsabilidade coletiva.
Um forte abraço e boas festas.