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Quando a água virar petróleo


Alexander Silva de Resende

Em tempos de oscilação na bolsa, por questões que vão desde o coronavirús até a instabilidade econômica mundial, o valor de mercado da Petrobras, no dia 26 de fevereiro de 2020, era de cerca de 350 bilhões de reais. O Brasil detém hoje, (em números não muito atuais, de 2012), a 13ª posição entre os países com maior reserva de petróleo já identificada, com cerca de 25 bilhões de barris, ante a um total de 1,5 trilhão de barris no mundo. Ficamos atrás de países como a Venezuela (1ª – 300 bilhões de barris), Arábia Saudita (2ª – 266 bilhões de barris) e Canadá (3ª – 174 bilhões de barris).

Embora nossas reservas de petróleo tenham destaque no cenário mundial, nossa reserva de água chama ainda mais atenção: 12% de toda a água superficial do planeta encontra-se em rios e lagos brasileiros. Esses valores nos colocam na liderança mundial desses recursos no mundo. E, talvez justamente por termos muita água, a tratamos de forma tão displicente.

Para ilustrar, nosso primeiro problema é que onde tem mais gente, tem menos água: a região Sudeste por exemplo, segundo dados do IBGE e da Agência Nacional de águas (2010), possui cerca de 87 habitantes por km2 e somente 6% dos recursos hídricos do País. Enquanto na região Norte, temos cerca de 4 habitantes/ km2 e quase 70 % de todo o recurso hídrico.  

Nosso segundo problema é que além de termos mais gente e menos água no Sudeste, boa parte está misturada ao esgoto, ou seja, é uma água em quantidade e qualidade, comparativamente inferior, que as existentes na região Norte.

Vemos as ruas de capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, constantemente sofrendo com enchentes. Nas grandes cidades, a chuva forte encontra grandes áreas impermeabilizadas, impossibilitando a infiltração da água no solo. Isso acarreta no fato de que as cidades dependem unicamente dos sistemas de drenagem criados pelos homens, que muitas vezes, estão assoreados, com acúmulo de lixo e outros resíduos sólidos.

Por outro lado, São Paulo e Belo Horizonte possuem cerca de 7.000 habitantes por km2. Isso significa que temos muita gente concentrada que precisa que a água chegue até eles e em contrapartida geram muito esgoto, também de forma concentrada.  

Como resolver essa questão? Precisamos de um código ambiental urbano!

O código florestal (que possui claro foco em áreas rurais) é conhecido e debatido na sociedade. Mas quando falamos de qualidade de água, a coleta e o tratamento universalizado de esgoto nas cidades é algo que precisa ser priorizado, para que o código florestal possa ter sua efetividade maior.

A crise da geosmina no abastecimento de água do Rio de Janeiro, trouxe esse debate à tona. O sistema que forma o rio Guandu, encontra com o rio dos Poços, com alta carga de esgoto e que reduz de forma significativa a qualidade da água a ser tratada pela Cedae, aumentando o custo de tratamento.

Precisamos enxergar nossa abundância de água, assim como enxergamos lá atrás o petróleo... A água é um bem que se cuidado e explorado da forma correta trará muita riqueza! Se não entendermos isso, continuaremos reclamando de tudo e de todos e nos conformando com a falta de desenvolvimento.

Um forte abraço a todos.

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