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Segundo semestre: continuam incertezas (I)


Argemiro Luís Brum

A recuperação da economia nacional, passado o primeiro semestre de 2021, exige uma análise muito cautelosa, sem euforias. Contrariamente ao que disse o presidente da República, em um erro crasso de conta, nosso crescimento não será de 9% no biênio 2020-2021. A ciência econômica ensina que, após cairmos 4,1% em 2020, no maior tombo anual em muitas décadas, mesmo que o crescimento do PIB venha em 5% neste ano, o máximo que teremos conseguido, na média do biênio, será um crescimento ao redor de 0,5%, talvez 0,8%.

Ou seja, em linha com o crescimento médio da década perdida entre 2011 e 2020, que foi de 0,3% anual. E abaixo do pífio crescimento médio que vínhamos tendo entre 2017 e 2019, que foi de 1,2% anual, após a brutal recessão de 2015 e 2016. Ou seja, para voltarmos a este nível pífio ainda precisaremos de 2022, em tudo correndo bem. O segundo ponto a ser observado está no fato de que socialmente a economia, com esta pequena recuperação, não está conseguindo dar respostas suficientes à população. O desemprego beira os 15%, sendo que o desemprego total, considerando os desalentados e demais categorias de desempregados e semidesempregados, fica próximo a 30%.

Em terceiro lugar, e em paralelo, apesar do auxílio emergencial, que é temporário, houve uma significativa queda na renda da população, muito causado pela pandemia efetivamente. Mas também porque a geração de empregos não deslancha. Ao mesmo tempo, a inflação dispara no país, chegando próxima dos piores níveis desde que o Plano Real foi lançado, em 1994. Tudo indica que o IPCA oficial possa se aproximar dos 10% nos próximos dois meses, sendo que a inflação real junto a grande maioria da população, está ao redor de 25% ao ano. Ou seja, o poder aquisitivo da Nação recua fortemente. Em quarto lugar, isso provoca um aumento do endividamento geral, sendo que hoje cerca de 70% das famílias brasileiras estão nesta situação. Este é o maior nível dos últimos 11 anos. O agravante é que grande parte acaba caindo na inadimplência (temos hoje 10,8% das famílias brasileiras neste quadro, sendo que isso representa 30% das pessoas, ou seja, 62,6 milhões de brasileiros). (segue)

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