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Sustentabilidade ambiental e economia: o desafio da COP30


Fabiano Daniel De Bona

       Com o mundo envolvido em guerras e turbulências políticas, o ano de 2025 vagarosamente se encaminha para o final e, antes do apagar das luzes do mesmo, ter-se-á em meados de novembro em Belém (PA) a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes – COP30). O lugar da COP é emblemático, pois está no coração da Amazônia brasileira, o propalado “pulmão do mundo” (de fato, vamos combinar que a fotossíntese da floresta faz o processo inverso à respiração do pulmão!), que também sofre com as consequências da mudança climática global.

          Certamente a realização da COP30 em 2025 no Brasil será um desafio muito grande. Os desafios não serão de logística, como explanado pela mídia diariamente, mas sim relacionados a percepção humana de que muitas nações têm enfrentado problemas econômicos graves em um mundo visivelmente impactado cada vez mais por fenômenos climáticos anormais.

          Trata-se de uma árdua responsabilidade para os líderes mundiais, uma vez que políticas econômicas para reduzir a pobreza, fome e derrocada da economia nem sempre podem ser associadas a políticas ambientais sustentáveis. O fato é que para nações com economias fortes, industrializadas e com renda per capita alta, toda e qualquer política ambiental será factível e terá apoio maciço da população, pois de “barriga cheia” se quer descansar “na sombra da árvore, com ar puro e um remanso de água cristalina beijando os pés”. Por outro lado, aos líderes de nações com sérios problemas econômicos, com pobreza crescente e com defasagem na qualidade de vida resta a dura tarefa de negociar ações ambientais que talvez não sejam suficientes para barrar a escalada da mudança climática, visto que ações mais assertivas ambientais nesse momento aleijariam o poder de reação econômico do País.

          Claro que grande parte da agenda econômica do País pode ser ligada positivamente a agenda econômica, mas “nem tudo são flores nessa história”. Pergunte para parte dos agricultores brasileiros que viram seus lucros diminuírem e as dívidas aumentarem nos anos recentes se eles deixarão de utilizar a mesma dose de herbicidas, adubos químicos ou pesticidas nas suas lavouras visando diminuir a contaminação ambiental e a emissão de carbono. Certamente a resposta será não. Essa resposta aparentemente errada não quer dizer que o indivíduo é um ser humano despreocupado com o planeta e a sustentabilidade, mas é simplesmente a resposta de um pai ou mãe de família que precisa pagar suas contas, alimentar os seus e conseguir sobreviver na sua profissão.

          Não há dúvidas de que cuidar da questão climática é primordial para a sobrevivência do planeta e todos os esforços devem ser feitos para conscientizar as pessoas disso. No entanto, salienta-se que a fórmula não é fácil. Por mais que o ser humano tenha escalado vertiginosamente o gráfico da racionalidade, ainda somos essencialmente animais quando o assunto é a sobrevivência da espécie e, essa parte do Homo sapiens, depende muito da sua força, que não é muscular, mas econômica. Portanto, deseja-se que as discussões climáticas da COP30 sejam permeadas por acordos econômicos que visem melhoras a vida das pessoas em todas as nações desse mundo. Certamente será mais fácil cuidar desse planeta azul lindo quando as exigências mínimas de abrigo e comida para todo e qualquer ser humano estejam atendidas.

 

Fabiano Daniel De Bona

Pesquisador da Embrapa Trigo

[email protected]

             

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