
Na Amazônia Brasileira a expressão “várzea” é empregado para definir áreas sujeitas a inundações periódicas causadas pela enchente dos rios. Essas áreas, em geral, distribuídas nas margens dos rios, anualmente estão sujeitas a inundações, através das quais são registrados aportes de sedimentos, particularmente nos chamados rios de “água barrenta”, a exemplo do Rio Amazonas. Devido a isso, os solos das áreas de várzea são caracterizados, na maior parte, por apresentarem alta fertilidade, formadas pela deposição de sedimentos ricos em minerais carregados em suspensão nas águas barrentas. Por apresentarem boa fertilidade natural os solos de várzea podem ser cultivados na época das vazantes.
A exploração agrícola nestas terras marginais inundáveis vem sendo praticada na Amazônia há muito anos. O cultivo das espécies é variado, porém a exploração com culturas para a produção de alimentos é a que sobressai , haja vista predominância da classe do agricultor familiar.
Estado do Amapá, especificamente, é sugerido que existem em torno de seiscentos mil hectares de áreas inundáveis, a maioria, com grande possibilidade de ser incorporada ao processo produtivo do estado. Todavia são poucos produtores ribeirinhos que exploram este ecossistema como forma de tirar o maior proveito da fertilidade natural apresentada pelas áreas. Algumas dificuldades, como difícil uso de sistematização nas áreas, grande infestação de invasoras (principalmente a partir do segundo ano de exploração) e dificuldade de acesso, tem contribuído para desestimular o pequeno produtor em cultivar este ecossistema.
Visando encontrar alternativas de aproveitamento econômico para a exploração das áreas de várzeas com culturas agrícolas, a Embrapa vem desenvolvendo pesquisas ao longo dos anos no Estado do Amapá. Os resultados evidenciaram a grande viabilidade de cultivos de várias espécies vegetais, entre elas o milho, arroz, sorgo forrageiro, sorgo sacarino, sorgo granífero, gramíneas forrageiras e a mandioca, sendo essa a cultura de maior expressão sócio econômica para o setor produtivo primário agrícola do estado. Os resultados ora disponíveis são basicamente direcionados à pequenos produtores pois é totalidade desta classe que exploram às várzeas com fins agrícolas.
No que diz respeito as cultura de milho e arroz os dados de produtividade médias por hectare mostram uma superioridade significativa em relação ao desempenho que se obtém em terra firme, ecossistema onde predomina a exploração das duas gramíneas No caso do milho obtém-se produtividades de até oito vezes superior ao plantio convencional adotado pelos produtores locais. Para este bom desempenho, contribuem, entre outros fatores, o uso de sementes de elevado potencial produtivo e plantio em épocas apropriadas. Para o arroz, além da superioridade produtiva obtida em área de várzea, a qualidade das sementes ou grãos torna-se um fator fundamental que poderá incentivar o produtor a explorar a sua propriedade com esta espécie.
Levando-se em conta que no Estado do Amapá a cultura de maior significado econômico e social para setor agrícola é a mandioca, a pesquisa da Embrapa tem desenvolvido trabalhos com esta espécie, visando levar ao agricultor ribeirinho uma outra opção de diversificar a sua unidade produtiva. Para o êxito da exploração das várzeas do Amapá com a cultura da mandioca é imprescindível o produtor ter conhecimento da forma de inundação periódica da área, época ideal para efetuar o plantio, dispor de variedades que sejam precoces, resistentes ou tolerantes à podridão das raízes e apresentar boa produtividade de raiz. Para o Amapá a Embrapa já dispõe de variedades que podem ser utilizadas neste ecossistema e com respostas significativas em termos de produtividade.
Outras cultura também, conforme resultados de pesquisa, podem oferecer grandes possibilidades de cultivo. Entre elas destacam-se , melancia, algumas espécies de hortaliças e o feijão. No caso desta última espécie as produtividades obtidas superam de maneira significativa às obtidas em terra firme, além de conferirem sementes ou grãos de superiores qualidades. Para o produtor ribeirinho alcançar pleno sucesso na exploração das várzea com a cultura do feijão é importante semear na época apropriada e utilizar uma cultivar de porte ereto e ciclo precoce.
Na Amazônia, o ecossistema de várzea de um modo geral, e em particular no Amapá mostra-se como uma grande opção de produção de alimentos, sem a necessidade, em primeira instância de se utilizar adubos químicos, o que por si só onera os custos de produção no estado. A boa fertilidade natural apresentada por seu solos , refletindo diretamente em boas produtividades , torna-se uma fator de incentivo à exploração deste ecossistema, principalmente para a produção de alimentos.