CI

VIVO OU MORTO


Paulo Lot Calixto Lemos

Toda esta região que engloba a maioria das cidades do sudoeste mineiro, até meados do século XIX, fazia parte ainda do estado de São Paulo e pertencia à grande comarca de Jacui. Sim, Jacui já foi nossa “capital”, é uma das cidades mais antigas deste então sertão mineiro/paulista. Ainda hoje existe lá o casarão que foi “casa da moeda”. Era onde todo dinheiro regional era forjado e cunhado! Diz o folclore que o imperador Dom Pedro II, em suas andanças pelo Brasil, foi seu mais ilustre hospede, e que o nome Jacui nasceu desta visita. Explico: em 1.800 e “abobrinha”, hospedado na casa do coronel mais importante do lugar, o imperador esperava para saborear o café que estava sendo coado, mas como o café nunca que saia o coronel bronqueou:

- Côa logo este café Defonsina, que nosso imperador tem pressa!

Ao que a criada Defonsina prontamente respondeu:

- Já “cui” coroné!

O imperador, homem muito culto e letrado, adorou a resposta e caiu na gargalhada. A cidadela passou então a ser chamada oficialmente de Vila do Jacui.

Mais recentemente houve um movimento que visava tornar toda esta região como parte do estado de São Paulo novamente. Ao que um conhecido político de Jacui, compenetrado reclamava:

- Esta historia vai fazer um “mar” danado prá gente. Eu, por exemplo, não “se dou” de jeito maneira com o “crima garoento” de São Paulo.

Bem, esta pequena “introdução” já nos dá uma idéia de como Jacui era e sempre foi um local pitoresco, habitado por gente simples, mas gente muito trabalhadora e de bom coração.

Com o progresso que passou a viver após a visita do imperador, Jacui, estava em vias de inaugurar sua praça matriz juntamente com sua bela igreja paroquial, que tinha como santo padroeiro um tal São Carlos Borromeu. Ocasião em que todos os coronéis, fazendeiros e capitalistas estavam reunidos na casa paroquial tratando dos preparativos para a inauguração, quando o padre em tom grave, falou:

- Senhores, temos algo urgente e de extrema importância a fazer. Como sabem, São Carlos Borromeu não é um santo comum, uma imagem sua é muito difícil de ser encontrada e, a “inauguração” de uma paróquia desta importância, sem a imagem de seu padroeiro seria um desastre. Portanto proponho que se nomeie agora mesmo uma comissão, para que vá a cidade de São Paulo encontrar e trazer uma imagem bem grande do nosso santo.

Todos concordaram com a pertinência da colocação do Monsenhor. A comissão foi então nomeada com os nomes mais importantes da época e, em poucos dias a comitiva estava na estação ferroviária de Guaxupé, de partida para a capital de São Paulo.

Em São Paulo, depois de muita procura encontraram enfim uma loja que diziam possuir todo tipo de santo. Chegando lá procuraram diretamente o dono da loja, e o incumbido das negociações foi logo indagando:

- Meu senhor, somos enviados do Monsenhor da paróquia matriz da cidade de Jacui, estamos à procura de nosso santo padroeiro – São Carlos Borromeu – viemos de muito longe e esperamos que o senhor nos atenda.

- São Carlos Borromeu... Preciso verificar... Um minutinho, por favor.

Passado algum tempo, o dono da loja volta com a noticia:

- São Carlos Borromeu é um santo pouco procurado, mas por sorte temos sim o vosso santo, e mais! O temos “VIVO” ou “MORTO”, como vão querer leva-lo?

Silencio geral... Um olhava para cara do outro embasbacado, ninguém ousava responder... Até que um deles tomou a iniciativa:

- Esta questão é da mais importante, vamos nos reunir aqui fora, e num minutinho lhe traremos a resposta...

A comitiva se reuniu ali mesmo na calcada, e depois de muita prosa e confabulação voltaram com a resposta:

- Senhor proprietário, o padre não nos disse como deveríamos levar o santo, então decidimos leva-lo vivo, se for preciso matamos ele lá mesmo!

Arregalado, mais que depressa o dono da loja entregou logo o santo “VIVO”, cobrando baratinho, baratinho...

Paulo Lot Calixto Lemos

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