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Conjuntura não favorece redução de juros


Argemiro Luís Brum

Diante de uma inflação brasileira que não cede, somada a um quadro recente de novas complicações no cenário financeiro dos EUA, onde dois bancos acabam de quebrar, não há ambiente para a redução da Selic no curto prazo. Quanto à inflação, a mesma voltou a acelerar em fevereiro, fechando o mês em 0,84%, contra 0,53% em janeiro. Se o acumulado em 12 meses registrou pequena baixa, ficando em 5,6%, ainda está bem acima do teto da meta que, para este ano, é de 4,75%.

Além disso, este acumulado vem baixando porque nos três primeiros meses do ano passado a inflação nacional foi muito elevada. Logo adiante o cálculo se reverte, e o acumulado passa a subir igualmente. Soma-se a isso o fato de que, desde outubro passado, a média do IPCA é de 0,59%. Nesta balada, o ano de 2023 pode encerrar com uma inflação acumulada na casa dos 7% anuais, conforme cálculo do economista Marcelo Portugal (ZH, 11-12-03-23, p.14). Ou seja, mais elevada do que em 2022, que ficou em 5,79% e muito acima da meta.

Por outro lado, notícias procedentes dos EUA confirmam que o juro básico, por lá, continuará subindo. E agora com um novo componente preocupante: na última semana dois bancos importantes quebraram naquele país. Um deles, o SVB, com US$ 175 bilhões de clientes submetidos a saques futuros contingenciados, incluindo o de empresas brasileiras. Em síntese, afora os fatos externos, no interior do país as dificuldades continuam: por enquanto, o combate ao déficit fiscal está na promessa; o mercado financeiro não está otimista (basta olhar os juros futuros); a inflação tem tendência de alta; e os juros estadunidenses continuam subindo. Assim, dificilmente o banco central brasileiro, via Copom, irá ceder em sua política de juros. A não ser que tenha motivos muito fortes.

O principal deles poderia vir no anúncio oficial do novo arcabouço fiscal, no qual estará embutida uma nova âncora de gastos públicos (teto de gastos), além de um possível embrião da reforma tributária. Lembrando que na próxima semana teremos nova reunião do Copom. Pelo sim ou pelo não, o fato é que não há mágica, e o banco central não pode tomar atalhos, pressionado por desejos políticos, devendo aguardar por um ajuste fiscal robusto (esperando que ele venha) para então rever sua política de juros.

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