Muito além de tradições ou festividades, o cooperativismo e as feiras agropecuárias compõem uma engrenagem silenciosa — porém decisiva — da economia rural contemporânea. Brasil e Estados Unidos são exemplos de como essas estruturas, quando bem organizadas, geram escala, agregam valor e impulsionam desenvolvimento de forma integrada e sustentável.
No Brasil, o cooperativismo agrícola tem se consolidado como uma das principais estratégias de inclusão produtiva e fortalecimento da agricultura familiar e empresarial. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o país conta com aproximadamente 1.223 cooperativas agropecuárias, reunindo quase 1 milhão de associados e gerando mais de 207 mil empregos formais. Evidências empíricas mostram que a presença de cooperativas em municípios brasileiros tem impacto direto sobre a renda líquida dos produtores. Um estudo apontou ganhos médios anuais adicionais de até US$ 4,1 milhões por cooperativa, resultado da maior eficiência na gestão, acesso a crédito, negociação coletiva de insumos e escoamento da produção.
Nos Estados Unidos, onde o ambiente regulatório e o financiamento rural possuem maior maturidade, as cooperativas são igualmente relevantes. De acordo com o National Council of Farmer Cooperatives (NCFC), existem mais de 3.000 cooperativas agroindustriais no país, abrangendo cerca de 2 milhões de agricultores. A agropecuária norte-americana movimentou em 2023 aproximadamente US$ 517 bilhões em receitas — sendo US$ 267,4 bilhões de lavouras e US$ 249,6 bilhões de produtos de origem animal —, e responde por 5,5% do PIB nacional, empregando mais de 22 milhões de pessoas, o equivalente a 10,4% da força de trabalho. As cooperativas têm papel central nesse resultado ao democratizarem o acesso à armazenagem, à logística e à inserção em mercados globais.
O impacto das feiras agropecuárias, embora mais visível em seu aspecto cultural, é também marcante do ponto de vista econômico. No Brasil, ainda que os dados sejam mais fragmentados, eventos como o Show Rural Coopavel e Agroleite (PR), Expointer (RS), e Fenamilho (MG) movimentam anualmente centenas de milhões de reais em negócios, atraem milhares de visitantes e funcionam como hubs de inovação, relacionamento e formação técnica. São ambientes onde se concretizam negócios entre produtores, fornecedores, compradores, startups e agentes financeiros.
Nos Estados Unidos, a profissionalização e escala desses eventos tornam o impacto ainda mais tangível. A Eastern States Exposition, mais conhecida como Big E, gerou sozinha em 2024 um impacto econômico de US$ 1,167 bilhão na região nordeste do país, segundo estudo recente da ESE. Foram mais de 8.000 empregos temporários e permanentes, US$ 439 milhões em renda pessoal e um estímulo considerável ao turismo e ao comércio local. A Houston Livestock Show & Rodeo, considerada uma das maiores feiras agropecuárias do mundo, movimentou US$ 326,4 milhões em impacto econômico em sua última edição, número comparável ao legado financeiro do Super Bowl de 2017, realizado na mesma cidade.
Quando cooperativas e feiras se articulam, o campo deixa de ser periferia produtiva para ocupar o centro estratégico do desenvolvimento regional.
Esse protagonismo decorre da complementaridade entre os dois modelos. As cooperativas organizam a base produtiva, asseguram escala, reduzem riscos e impulsionam ganhos de eficiência. As feiras, por outro lado, ampliam a visibilidade das soluções e inovações tecnológicas, facilitam a conexão entre elos da cadeia e promovem dinâmicas de aprendizado e experimentação que dificilmente ocorreriam em ambientes tradicionais.
Em tempos de transição ecológica, pressões inflacionárias e reconfiguração das cadeias globais de suprimento, o papel dessas estruturas ganha ainda mais relevância. São elas que permitem ao produtor rural — especialmente o pequeno e médio — acessar mercados, se financiar com taxas competitivas, modernizar a produção e alcançar o consumidor final com maior valor agregado.
A combinação entre associativismo e exposição pública qualificada é, portanto, um diferencial competitivo. Seja nos cinturões agrícolas do Meio-Oeste norte-americano ou no coração do agronegócio brasileiro, está cada vez mais claro que investir em cooperação e visibilidade técnica é investir na resiliência econômica e na coesão territorial.
O cooperativismo e as feiras agropecuárias não são meros instrumentos de comercialização — são alavancas estratégicas de soberania produtiva e inteligência coletiva no campo.
