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Dia Mundial da Terra: governança responsável dos recursos naturais


Antonio Carlos Moreira

Antonio Carlos Moreira*

 

O empresariado, como ator político, surgiu na classe agrária exportadora, início do século 20, quando ainda o clientelismo era tônica nas decisões. Com sua ascensão às metrópoles, se constituiu o grande empresariado nacional; por sua vez, a industrialização atrairia os investimentos do capital internacional.

Porém, as mudanças na estrutura do estado pós-governo militar (1964-1985) suscitam na sociedade novas formas de mediação política. A sociedade civil, mais participativa na grande concertação pela democracia, criou diversas entidades e organizações não-governamentais.

No setor empresarial, estruturou-se a representação corporativa nas esferas institucionais e voltadas para pesquisas em temas trans-setoriais, de acordo com Virgilius de Albuquerque, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da FGV. Por meio dessas representações, ampliou sua atuação no legislativo e no processo de mudanças políticas que culminou na Carta Constitucional, promulgada em 1986.

 

Vão-se presidentes da República e ministros; ficam os negócios

Entidade de classe tende a atuar politicamente menos preocupada com o olhar crítico do mercado e da opinião pública. Já as empresas são mais atentas às decisões tomadas pelo consumidor – afinal, ele é voz soberana no sucesso ou na ruína de marcas, produtos e serviços.

Ou seja, para as companhias importa menos a próxima eleição, muito mais lhes preocupam sua reputação no mercado. A lógica é: vão-se presidentes da República e os ministros; ficam os negócios. Com desafios estruturais internos permanentes – sem considerar as marés de altas e baixas no cenário da economia internacional.

 

Consumidores engajados em defesa do meio ambiente

Se pouco importa para a burocracia estatal e não são discutidos em reuniões ministeriais, para os gestores corporativos chamam atenção estudos como o realizado pela Ipsos global, pouco antes da pandemia.

Foram entrevistados 10 mil consumidores em nove países, como Estados Unidos, China, Inglaterra, Índia e Brasil. Entre os brasileiros, 39% se engajam em campanhas contra marcas e produtos que possam causar impactos ambiental e na saúde das pessoas.

Notícias como o aumento, em 27%, da devastação na Mata Atlântica nos últimos dez anos, ou de que na Amazônia, em março último, o desmatamento acelerou 279% – foram derrubados 274 quilômetros quadrados da floresta em um único mês – provocam ativismo, com a força de compartilhamentos nas redes sociais. E acabam justificando a indignação desses consumidores diante dos desatinos contra a Terra e as comunidades que mais necessitam dos recursos naturais para a sobrevivência.

 

O alerta dos investidores internacionais

 Dia 23 de junho do ano passado, gestores dos trinta maiores fundos internacionais de investimentos – cujos ativos somam astronômicos US$ 4 trilhões – divulgaram mundialmente carta-aberta endereçada ao governo brasileiro. No documento, invocaram as autoridades brasileiras a impor controle contra a alta do desmatamento na Amazônia.

Os investidores alertam que a perda de biodiversidade e as emissões descontroladas de carbono, decorrentes da queima da floresta, representam um “risco sistêmico” para seus portfólios. “Além dos problemas ambientais, regras de compliance limitam ou impedem o investimento em países que desrespeitem ou menosprezem questões ambientais”. 

A se julgar pela forma como a questão ambiental continuou sendo conduzida no Brasil, conclui-se que o risco de represálias econômicas internacionais não incomodou as autoridades do país.

 Postura mais responsável com o desenvolvimento sustentado tem sido demonstrada por setores de um novo empresariado que vem emergindo – de forma mais ativa, sobretudo, com o advento da pandemia do coronavírus.

 

Governança com maior seriedade dos recursos naturais

Na mesma tarde da divulgação do documento dos investidores internacionais, o presidente do Itaú-Unibanco, Candido Bracher, afirmou: “O principal perigo que ameaça o Brasil é o ambiental. No momento em que a sociedade se percebe frágil, a gente deve olhar para outros perigos. As consequências ambientais podem até vir de uma maneira mais lenta do que as da saúde como a covid-19, mas são mais duradouras e difíceis de reverter."

Portanto, os passos iniciados por parte de empresários líderes em seus segmentos, mostram-se em perfeita sintonia com uma atuação de governança responsável, após os desvarios de Donald Trump, deploravelmente copiado por autoridades do governo brasileiro.

Hoje, Dia Mundial da Terra, com a realização da Cúpula do Clima convocada pelo governo norte-americano de Joe Biden, pode ser uma inflexão rumo à governança com maior seriedade dos recursos naturais.

 

*Antonio Carlos Moreira é jornalista, diretor do Instituto de Pesquisas e Educação em Saúde e Sustentabilidade - INPES; organizador do livro “Ciência da Terra”; e diretor-owner da Soma Estratégica Comunicação Corporativa (www.somaestrategica.com.br).

 

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