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Endividamento: O Desafio para a produção agrícola


Rogério de Melo Bastos

Os produtores rurais, em especial os produtores de grãos, estão vivendo um momento extremamente difícil devido ao endividamento atual, e sem precedentes na história recente, que poderá comprometer a produção da próxima safra e ainda causar um enorme problema social no campo. O endividamento dos produtores rurais vem se acumulando e sendo rolado nos últimos vinte anos.

De crise em crise, dificuldades para pagar as contas:

·       1987 – Com o fracasso do Plano Cruzado, a inadimplência dos produtores rurais atinge o patamar de 12%, comparados aos 2,5% no início daquela década;

·       1991 – Plano Collor: as dívidas dos produtores rurais são ajustadas em 84% e os preços em 42%;

·       1995 – O setor não consegue mais arcar com os juros após o Real. As vendas de máquinas agrícolas caem para 22% do total vendido em 1986. O tesouro patrocina o refinanciamento das dívidas dos produtores;

·       2001 – A dívida é novamente renegociada – PESA – Enquanto isso a fronteira agrícola no Centro-Oeste e a exportação de produtos agrícolas como Soja estão em franco crescimento;

·       2006 – Os produtores rurais aumentam a pressão para que o governo conceda novo socorro financeiro. Em Abril daquele ano o governo promove a rolagem da dívida no valor de R$ 17 bilhões. Em Maio novo pacote de rolagem das dívidas e novos créditos.

 

Em 20 anos cinco situações de impasse financeiro para os produtores rurais e com soluções apenas de rolagem das dívidas sem nunca se preocuparem com a renda para amortização das dívidas futuras. Deu no que deu. No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma estiagem histórica em 2005 associada a outra menor em 2006 e agravada pela queda de preços comprometeu consideravelmente a capacidade de pagamento dos produtores gaúchos.

A renda das lavouras é composta por três grandes variáveis, entre outras: Preço, Produção e Custos.  A primeira (Preço) não está sob o domínio do produtor. É o mercado quem determina. Embora que os preços internacionais da soja, por exemplo, esteja cotado bem acima da média histórica da commoditie, o câmbio está totalmente desfavorável à formação do preço final.   A segunda (Produção) depende das técnicas agrícolas adotadas, sob controle do produtor e que as domina muito bem, e de clima, fator não controlável. A última e mais significativa no resultado (custos) está aliada à tecnologia adotada, e a aquisição de insumos a preços e escala compatíveis com o negócio. Dentre os mais diversos itens que compõem o custo das lavouras vamos analisar apenas dois que são significativos e representativos para a obtenção de um resultado positivo.

O primeiro, no que se refere aos insumos falaremos sobre os fertilizantes que representam em média 35 a 45 por cento do custo final. Os fertilizantes tiveram variação de preço da safra 2006/2007 para 2007/2008 em média 54%. Isto por si só já compromete o lucro da próxima safra em 18 a 24 por cento, para os produtores.

No que se refere ao custo dos empréstimos para custear as lavouras os juros de 8,75% e que nem todos os produtores rurais estão tendo acesso, ou acessam apenas parcialmente é absurdamente mais alto que os índices de inflação como IGP-M/FGV medido pela Fundação Getúlio Vargas. Nos últimos três anos os índices de inflação foram: 2005 – 1,21%, 2006 – 3,83%  e os últimos dozes meses acumulados até Abril 2007 -  4,76%.

A taxa de juros do crédito rural, oficial, neste período foi 167,8% maior que a taxa de inflação medida pelo IGP-M/FGV.

Estes dois itens (Fertilizantes e juros) que compõem a variável Custo, por si só, já estão comprometendo o lucro do produtor rural para a próxima safra.

Paradoxalmente, o negócio agrícola nunca teve tantas perspectivas de oportunidades e de mercado como hoje. A Agricultura não é mais apenas destinada a produção de alimentos, mas também como fonte alternativa de energia e combustível. 

No entanto, neste momento, como nos outros de situação de endividamento dos produtores rurais vai haver mais um processo de renovação e purificação dos produtores rurais.

As correntes de filosofia socialista e dos "MS" (movimentos sociais) alardeiam que, caso continue assim, os "grandes vão engolir os pequenos agricultores".

Eu tenho outra opinião: Nesta nova realidade permanecerão na atividade somente os fortes. Quem são os fortes? Aqueles que estão bem estruturados com um sistema de gestão e controle de caixa e contas a pagar conforme o seu fluxo de caixa. Esta é a nova ordem, gestão como meio de sobrevivência.

Assim como existe algumas espécies de animais que permanecem desde o tempo jurássico até nossos dias, devido à sua capacidade de transformação e acompanhamento dos novos tempos, os produtores rurais precisam adotar outras e novas técnicas de gestão para fortalecerem-se diante dos novos tempos. A agricultura continuará sendo um grande negócio, mas talvez com outros atores.

Diante disto, as entidades de produtores rurais precisam se articular urgentemente para obter uma solução política para a questão do endividamento e renda (seguro de renda), porque se o governo for analisar a situação da agricultura num ambiente macro ou global pelas perspectivas de mercado e aumento de consumo de alimentos e energia no mundo, certamente não vai tomar nenhuma providência para atenuar a questão dos produtores. Todavia é preciso analisar a situação dos produtores.

Resumindo: A agricultura vive um bom momento, os agricultores não.

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