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Fatores que influenciam a fertilidade em rebanhos bovinos. Parte 2 - Manejo reprodutivo


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Azevedo, pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

 

Parnaíba, 21 de dezembro de 2007. Além da nutrição, sanidade e clima, algumas questões de manejo reprodutivo podem, se inadequadas, levar a falha na fertilização ou à morte embrionária, com repetição de cio logo após a cobertura ou inseminação artificial, ou falha na identificação dos cios. Alguns fatores são discutidos a seguir.

O primeiro deles é a idade da fêmea. A fertilidade aumenta até uma certa idade (pico da curva reprodutiva) e declina progressivamente nos anos seguintes. O produtor deverá, então, estar atento a este efeito, e considerar até quando uma determinada vaca deve continuar no rebanho, pesando os prós (por exemplo, a elevada produção de leite) e os contra (por exemplo, longo intervalo de partos).

O estresse também influencia a fertilidade – os bovinos são muito sensíveis às condições inadequadas no momento do acasalamento ou da inseminação. Desta forma, brutalidade na contenção, caminhadas longas, marcha acelerada imediatamente antes ou após a cobertura, temperaturas extremas, parasitismo elevado podem ocasionar estresse e afetar a fertilidade – anestro, falha na ovulação ou repetição de estro.

A identificação do estro também pode interferir na fertilidade do rebanho bovino. No Brasil, o método visual é comumente utilizado, ou seja, o próprio vaqueiro ou peão é que é responsável por identificar novilhas e vacas em cio – pela manhã e à tarde. Em grandes rebanhos é difícil observar o início do estro em muitos animais, podendo conduzir a uma perda acima de 40% dos cios. As fêmeas serão então inseminadas em momento inadequado, proporcionando a fertilização de óvulos imaturos ou muito velhos (degenerados). É importante lembrar que os melhores resultados são obtidos com a inseminação artificial cerca de 12 horas após o início do estro, utilizando-se a regra prática: estro pela manhã, inseminação à tarde do mesmo dia; estro a tarde, inseminação logo pela manhã do dia seguinte.

No Brasil, menos de 5% do rebanho de corte e poucas propriedades de leite utilizam a inseminação artificial. O principal problema, de um modo geral, não é a identificação do cio, mas a falta deste.

Outra observação importante em relação ao estro é que as melhores taxas de fertilidade são obtidas quando o primeiro serviço, monta natural ou inseminação artificial, são efetuados após os 60 dias do parto. Serviço realizado precocemente após o parto diminui as chances de concepção, pois o útero e o sistema neuroendócrino da fêmea ainda não estão totalmente restabelecidos da gestação anterior.

Em rebanhos de corte, o relacionamento mãe-cria pode exercer um efeito negativo sobre a reprodução pelo seu efeito depressor sobre as reservas corporais da fêmea.

A prática tradicional em pecuária de corte, onde o bezerro permanece com a fêmea até seis-oito meses (até a desmama), tem sido apontada como responsável pelo efeito sobre os centros hipotalâmicos, responsáveis pela liberação do GnRH (hormônio liberador das gonadotrofinas), indispensável ao desencadeamento da atividade ovariana pós-parto. Assim, onde este manejo é praticado, o anestro pós-parto pode durar enquanto durar o período de aleitamento da cria, e pode ser agravado por condições nutricionais deficientes das fêmeas no pré- e no pós-parto. A remoção temporária do bezerro ou o desmame precoce (ambas as técnicas com suas dificuldades práticas) têm levado ao retorno da atividade ovariana pós-parto mais precoce.

Apesar de pouco considerado, o reprodutor pode ser uma causa da reduzida taxa de fertilidade no rebanho bovino. O diagnóstico neste caso é feito quando há muitos animais (diferentes fêmeas...) em um mesmo rebanho repetindo o estro. Os reprodutores podem apresentar a libido reduzida ou ausência de libido, dificuldades para o salto, ereção deficiente do pênis, transtornos de ejaculação ou afecções no pênis ou prepúcio. É importante considerar que em rebanhos com monta natural (seja com reprodutores múltiplos ou monta controlada) o sêmen não é o único parâmetro a ser avaliado – um touro pode ter um sêmen excelente (com alta concentração de espermatozóides), mas não ter libido, ou pode ter sêmen de boa qualidade e libido alta (excelentes) mas capacidade de monta reduzida. Assim, um exame clínico e andrológico completo deve ser realizado também nos machos antes da estação de monta. Em adição, o reprodutor pode ser fonte de infecções para as diversas fêmeas com as quais acasalará e, portanto, seu estado sanitário deve ser sempre bem acompanhado.

Por último, a presença do macho tem sido considerada como benéfica na estimulação do estro – seja na redução da idade a puberdade em novilhas ou no período de anestro pós-parto. Fêmeas em cio no rebanho também agem como estimuladoras do estro nas outras fêmeas.

Vê-se então que a manutenção da fertilidade em níveis adequados pode ser influenciada por diversos fatores, que devem ser controlados para que a lucratividade da propriedade são seja afetada por fertilidade reduzida.

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