CI

Gestão Familiar Rural: da enxada ao computador


Prof. João Mariano

Era comum bate-papos como esse na porta das antigas fazendas ou sítios


Final de tarde na região do Rio Quente, o sol se pondo, por trás do riacho, criando uma cortina de cores entre o vermelho e amarelo, uma obra prima da natureza.... Tião Lapiá, mineiro de origem, paulista de localização e o capataz do rancho, Odorico, estão sentados num banco rústico cujos pés estão enterrado na terra, em frente à casa sede,enrolando um cigarrinho de palha e trocando uma prosa....

- Sabe Dorico, quando nóis chegou aqui, era tudo mato, desde lá da cidade, até onde nóis tá....abrimo tudo no braço, no machado, no traçador, um de cá, outro de lá....uma luta danada de dura...Óia tudo isso, Dorico, êta mundão de terra bonita !
- Verdade Tião !...nóis tá junto ha 30 anos e que diferença a gente tem nas coisa, tá tudo moderno, as máquina, os veneno, até os bicho !  Tão falando aí que já tem fazenda que os boi vão usar brinco !  Já pensou Tião, até o boi tá maricando !
- Eh Dorico, deixa disso !...ouvi falar que é para saber lá no açougue da cidade de onde veio a carne...coisa besta, aqui nóis mata e come e nunca teve problema...Mas, sabe Dorico, o tempo da enxada tá acabando mesmo...hoje sem máquina, a gente não dá conta...tem até uma malinha pequena que o dotor agrônomo disse que é um tar de computador....
- Pois é Tião, eu ví quando o dotor abriu uma malinha preta e tirou uma caixinha com uma tampa que parecia preta mas era colorida e cada vez que apertava um botão, tudo ficava colorido e mudava....tinha uns negócio engraçado, enroscando um desenho no outro...não entendi nada, mas era um troço bunito Tião !.... Mas o engraçado é que ele disse que tem as 5 fazendas que ele cuida tudo lá dentro...Ocê acredita que cabe tudo lá dentro ?  de um negócio tão pequeno, óia que são milhares de boi...
- É Dorico, nóis ainda vai aprender muita novidade com esses dotor que estão aparecendo para ensinar nóis aqui nos sítio...vamos torcer que dê certo, certo ?
- Certo Tião !....passe a binga, que o pito ficou pronto.....

DA ENXADA AO COMPUTADOR – A EVOLUÇÃO NATURAL

• As aberturas de novas fronteiras agrícolas, eram feitas por famílias, que se valiam da prole numerosa e seus agregados (genros, cunhados, noras), todos envolvidos obrigatoriamente na lida bruta com a terra, a partir da enxada, do enxadão, dos traçadores (serrotes antigos), da pá, dos arados mais rudimentares ainda puxados por tração animal, iam desbravando aos poucos novas regiões,  para onde íam, quase sempre por indicação de parentes ou amigos que tinham tido mais coragem e partido antes.  A terra tá barata, estive lá,  dá prá comprar muita terra por pouco dinheiro.  E lá íam os desbravadores das novas fronteiras agrícolas brasileiras, hoje nas fronteiras do nordeste e norte, onde a produção de grãos avança rápido e a pecuária vem atrás.
• Lembrando dos bandeirantes, que íam de barco nas suas “bandeiras” e quando localizavam uma região boa, fundavam vilarejos, os desbravadores das últimas décadas, também fizeram suas bandeiras, alguns indo de avião até o último ponto acessível e depois de barco ou lombo de burro, para buscar fronteiras, onde hoje as estradas permitem chegar os caminhões e vilas, que tinham alguns “gatos pingados”, se tornaram cidades que crescem  num rítmo muito rápido, seja no MS, MT, RO, PA, BA,PI,  algumas das nossas novas fronteiras agrícolas.
• Nos últimos anos, já chegam em caminhões, principalmente os gaúchos  com sua tendência de abrir novas regiões, famílias numerosas, que desbravavam, desmatavam, criavam seus núcleos, onde não poderia faltar o chimarrão e suas tradições no churrasco e festas típicas.  A seguir, vinham os paranaenses, com espírito também desbravador, os catarinenses e foram abrindo as fronteiras agrícolas do país.
• Hoje, cidades que antes eram vilas, estão importando profissionais do Sul, do RJ, de SP e outros estados, com a chegada de multinacionais de alimentos, frigoríficos com plantas visando exportação e uma transformação radical nos hábitos das pessoas....
• O antigo “retireiro”, sitiante que tinha como ferramenta a enxada, hoje opera máquinas modernas, que custam milhares de dólares, nas suas colheitas de soja e os filhos usam computadores para controlar a criação de gado.  Suas sedes são confortáveis, com Tv a Cabo, moram perto ou nas cidades mais próximas, além de ter uma sede confortável nas fazendas, onde algumas tem até campo de aviação.  Muitos profissionalizaram suas fazendas e moram em outras capitais, viajando eventualmente com aviões próprios ou locados para acompanhar vacinação de gado ou término de colheitas ou negociação.
• Em algumas regiões, as cooperativas deram certo, principalmente no Paraná, onde a tradição e cultura deste tipo de negócio é mantida pelos cooperados.  E também em Santa Catarina e Rio Grande do sul, com os mesmos comportamentos.   Eles estão levando para essas novas fronteiras essa idéia de cooperativismo, enriquecendo cada vez mais os cooperados, que tem uma segurança maior na guarda, conservação e destinação das suas safras.
• O resgate destes desbravadores, que fizeram a abertura das antigas e atuais fronteiras agrícolas do país, merece os mais sinceros cumprimentos, seja pela coragem de ir, quando muitos tiveram medo, de ficar, quando muitos recuaram, de lutar, quando muitos desistiram, que ser incansáveis na persistência pelos sonhos de uma vida melhor num novo lugar.    As pessoas precisam desta fé, desta coragem, para ignorar problemas políticos ou econômicos e seguir em frente, em busca dos seus ideais, dos seus sonhos, independente da estrada que terão que percorrer.  AOS DESBRAVADORES, NOSSOS MAIS SINCEROS CUMPRIMENTOS ! VIVAM ETERNAMENTE EM NOSSAS LEMBRANÇAS E NOSSOS CORAÇÕES !

 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.