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Mãe não morre nunca


Arnaldo Calil Pereira Jardim
“... Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.”
(Para Sempre, Carlos Drummond de Andrade)
Mãe não tem rima, nem coletivo. Muito menos alternativa: mãe é origem, fonte, matriz, ponto de partida. E é sobre isso que deveríamos estar refletindo nas épocas em que comemoramos os dias das mães, em cada lembrança nas escolas, nos cultos religiosos, nas propagandas da televisão, do rádio, dos jornais e das revistas, nas lojas que oferecem presentes, nas redes sociais.
Como a todos antecede, a figura da mãe preside a cultura do Planeta, como a mãe Terra, e mistura-se de forma carinhosa e determinada na cultura brasileira. O doce mãe-benta, a ambulância, mãe-carinhosa que transporta os doentes; a mina, mãe-d’água; a mãe-de-família e a mãe-de-santo. A rabanada, mãe-parida; o útero, mãe-do-corpo. Maria, mãe de Cristo. Maria Escolástica da Conceição Nazaré, da Bahia, filha de Oxum, Mãe Menininha do Gantois; Maria, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil, venerada pelos católicos.
Pertenço a uma geração, nascida e criada entre dois séculos, marcada por grandes transformações sociais quando a mulher se incorporou ao mercado de trabalho, obteve o direito ao voto e a liberdade de escolha sobre a concepção, a opção do divórcio e a árdua tarefa de se tornar chefe de família. Mulheres multifacetadas, profissionais competentes, capazes de exercer várias funções ao mesmo tempo, emergiram das mesmas mães zelosas, esteios de famílias, para abraçar o mundo, os filhos e a sociedade em jornadas insones.
Mães não morrem nunca. E como percebo isso agora, pouco mais de um ano após a passagem de Dona Diana, uma simples e determinada mulher da modernidade, minha mãe e professora dedicada que enfrentou o desafio de educar e transmitir valores para seus filhos e para os filhos de tantas outras mães sob uma realidade perversa, em um país desigual, em que a educação continua sendo privilégio de poucos e as oportunidades tão raras. Não há dinheiro que pague a dedicação das mães, como não há valor monetário para se medir o empenho dos professores, assim mesmo, desde sempre, aqui no Brasil, desvalorizados e remunerados pela rama.
Ser mãe, não é padecer no paraíso: deve ser uma escolha e não um acidente. Por isso precisamos, todos os dias, nos empenhar por políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes capazes de contemplar o aspecto físico, psicológico e social dos jovens. As jovens que engravidam precocemente, em sua maioria, enfrentam sozinhas o desafio de criar seus filhos e inserem-se em circulo vicioso que as penaliza, desestrutura  as famílias e compromete toda uma geração. A quem servem essas mães senão ao desespero e à insensatez?
No sentido contrário dessa sofrida realidade registro minha contribuição para começar as mudanças como autor da primeira lei sobre sexualidade na adolescência da América Latina, ainda como deputado estadual por São Paulo. A Lei nº. 11.976/05 estabeleceu um modelo de atendimento que se tornou referência no Brasil, por tratar-se de uma atenção integral e gratuita envolvendo áreas como medicina, psicologia, assistência social, educação, sexualidade e odontologia. Também fui o autor da Lei nº. 8.893/94 que instituiu a Carteira de Prevenção do Câncer Ginecológico e Mamário no Estado de São Paulo, promovendo ações que hoje permeiam procedimentos de saúde pública em todo o País. Meu empenho, com certeza, tem o empurrão primordial de Dona Diana.
Um olhar, generosidade, pequenos gestos, permanente empenho, eterna lembrança. Oferendas pequeninas como grãos de milho, da meiga metáfora do poeta Drummond.
As mães só morrem depois da nossa morte. Isso faz a diferença. Feliz Dia das Mães!

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