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O desafio global da escassez de água na agricultura


Irriga Global

Por Emílio do Carmo, Diretor Global de Operações Comerciais da Irriga Global.

 

A água é essencial para a produção agrícola e segurança alimentar. É a força vital dos ecossistemas, da qual depende a nossa segurança alimentar e nutricional presente e futura.  O aumento da segurança hídrica agrícola, por meio da irrigação, para complementar o déficit de umidade do solo, tem impulsionado a melhoria da produção agrícola em grandes regiões do mundo nas últimas décadas.

De acordo com o Banco Mundial, a agricultura irrigada representa 20% do total de terras cultivadas e contribui com 40% do total de alimentos produzidos em todo o mundo. A agricultura irrigada é, em média, pelo menos duas vezes mais produtiva por unidade de terra do que a agricultura de sequeiro, permitindo assim uma maior intensificação da produção e diversificação das culturas.

No entanto, nossos recursos de água doce estão diminuindo a um ritmo alarmante. A crescente escassez de água é agora um dos principais desafios para o desenvolvimento sustentável da humanidade.

Com o aumento das temperaturas intensificando a demanda, em combinação com mais extremos climáticos frequentes e severos impactando a produção, a necessidade de abordar a escassez de água na agricultura é evidente.

De acordo com os Indicadores de Desenvolvimento do Banco Mundial, na maioria das regiões do planeta, mais de 70% da água doce é utilizada para a agricultura, número que se eleva para 72% no caso do Brasil, que é um país com forte produção nesse setor da economia. Para se ter uma ideia, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), apenas durante o século XX, a retirada de água aumentou quase duas vezes a taxa da população.

Nas próximas décadas, o desafio se tornará mais premente, pois a população mundial deverá chegar a 9,7 bilhões de pessoas até 2050.  Além disso, também de acordo com Banco Mundial, os padrões de vida da população irão aumentar e as dietas continuarão a mudar, o que levará a um aumento estimado de 50% na produção agrícola, e um aumento de 15% na retirada de água para irrigação de diferentes culturas.

Todavia, devemos enfatizar antes de tudo, que não se pode taxar a irrigação como a “vilã” do consumo de água no mundo e no Brasil, haja visto que esse método é de suma importância para a produção de alimentos, tanto para o mercado interno quanto para outras nações que dependem de nossa produção para sua segurança alimentar.

Mas, a grande questão é: como manter ou até aumentar os atuais indices de produtividade agrícola e ao mesmo tempo reduzir o consumo de recursos hídricos? Há, portanto, a necessidade de se pensar a relação entre irrigação e economia de água.

Ainda, de acordo com o relatório da FAO, a agricultura é o setor da economia que mais necessita da imposição de medidas de otimização do consumo de água, pois cerca de 60% de toda a água empregada na irrigação estaria sendo perdida por desperdício. Assim, os mesmos estudos apontam que uma redução de 10% dessa perda seria o suficiente para abastecer o dobro da população mundial atual, em termos de média estatística.

Embora a escassez de água seja predominantemente uma criação humana, também temos a capacidade de desenvolver soluções para mudar a realidade. Umas das formas de reduzir o gasto de água na agricultura passa por diversos fatores, dentre eles, a adoção de tecnologias e métodos mais eficientes de manejo, agricultura de precisão, medidas de preservação da saúde dos solos e otimização da irrigação.

Além disso, o uso de tecnologias é essencial para a economia de água na agricultura. Empresas e produtores possuem à disposição diversas opções de sistemas de monitoramento de manejo de irrigação, elaborados para fornecer informações sobre a umidade dos solos e do ar, temperatura, radiação solar entre outros fatores. Assim, consegue-se calcular mais precisamente a quantidade de água a ser utilizada na irrigação e o que contribui para uma maior estabilidade da produtividade, ao mesmo tempo que contribui para uma redução considerável do desperdício.

A segurança hídrica deve, definitivamente, ser entendida como um risco para a sociedade. Aceitando essa interpretação e percebendo a importância do ciclo da água para a biosfera, devemos entender que a escassez de água envolve vários componentes de risco em diferentes escalas. Esses riscos incluem os relacionados à água azul para a saúde humana, fornecimento de energia, produção industrial, irrigação etc., e os riscos relacionados à água verde, em particular para a produção de alimentos.

Evidentemente, a escassez de água é um dos maiores problemas globais que a humanidade enfrenta no momento e é muito provável que seja um problema cada vez maior no futuro. Portanto nós, envolvidos com a agricultura, temos a responsabilidade de pensar e executar as diversas formas de utilizar a água da forma mais eficiente possível na produção agrícola, o que será crucial para a preservação do recurso, tanto regionalmente quanto em globalmente.

 

Fontes:

WASAG Land & Water Overview: https://www.fao.org/land-water/overview/wasag/overview/en/

WASAG Strategy for 2021 – 2024: https://www.fao.org/3/cb5448en/cb5448en.pdf

Water for Sustainanle food and agriculture report: https://www.fao.org/3/i7959e/i7959e.pdf

Water in Agriculture: https://www.worldbank.org/en/topic/water-in-agriculture#1

The Contribution of Blue Water and Green Water to the Multifunctional Character of Agriculture and Land.
Background Paper 6: Water: https://www.fao.org/3/x2775e/x2775e08.htm

Feed the world: https://www.nationalgeographic.com/foodfeatures/feeding-9-billion/

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