CI

O difícil aumento da produtividade na soja


Amélio Dall’Agnol
A partir da década de 1970, o Brasil experimentou grande avanço na produção de soja, em razão do grande aumento da área plantada, mas, também, da produtividade. Contudo, nos últimos nove anos, os ganhos de produtividade foram modestos (2.823 kg/ha em 2007 vs 3.035 kg/ha em 2015). A produtividade média nacional da cultura está patinando no entorno dos 3.000 kg/ha, apesar de melhorias tecnológicas em variedades, máquinas e insumos. É verdade que o concurso de máxima produtividade, do Programa Soja Brasil, identificou produtores com rendimentos superiores a 6.000 kg/ha, chegando a incríveis 8.500 kg/há. Mas isso aconteceu em áreas pequenas, com manejo especial dos insumos de produção, que pode não representar lavouras comerciais de grande porte.
De qualquer maneira, esses produtores não se valeram de tecnologias secretas para alcançar tais produtividades e provaram que é possível colher mais de 6.000 kg/ha, o que, em termos de lucratividade, pode significar mais do que as tradicionais safra de soja e safrinha de milho (3.000 kg/ha de soja, mais 5.000 kg/ha de milho). Se eles conseguiram, qualquer outro produtor poderia conseguir.
Não sabemos claramente quais fatores estão inibindo o crescimento da produtividade da soja, mas tudo indica que os principais problemas relacionam-se com o manejo do solo, no sistema soja/milho em sucessão. Essa produção intensiva da soja seguida do milho, ano após ano, intensifica os problemas fitossanitários, alguns facilmente percebidos, como a infestação de buva e a proliferação de fito nematoides.
O solo é a alma de uma lavoura. Bem manejado, é o fator de produção que melhor responde em aumentos de produtividade. Mas solo de qualidade não se constrói do dia para a noite. Precisa de anos ou décadas de investimento em manejo adequado, após o que ele responde com a presença de elevados teores de matéria orgânica, fruto de uma produção abundante de palhada e raízes obtida via rotação de culturas, num Sistema de Plantio Direto bem feito. Solos ricos em matéria orgânica têm maior capacidade de reter água para ser disponibilizada às plantas numa eventual estiagem, compactam menos e oferecem menor resistência ao desenvolvimento das raízes, o que facilita o crescimento e a expressão do potencial genético da cultura. 
Tudo indica, que o sistema de cultivo da soja, com o milho em sucessão, deve ter proporcionado ganhos econômicos aos produtor, pois o sistema cresceu ao longo das últimas décadas e a produtividade do milho safrinha cresceu significativamente (1.800 kg/ha na média dos anos 90 vs. 35.400 kg/ha na safra 2015). Mas, mesmo assim, talvez precise ser repensado, visando a sustentabilidade da lavoura.
O uso racional de todas as ferramentas tecnológicas disponíveis pode indicar que, uma única cultura anual bem estabelecida, pode render mais dividendos financeiros do que duas safras meia boca.
Produtor, pare e faça as contas. Você pode estar trabalhando mais e ganhando menos. Produtores de café da região de Londrina são testemunhas de que é possível ganhar mais em área menor, mas bem conduzida. Antes da geada negra de 1975, a produtividade do café na região norte do Paraná era 10 scs/ha. Os poucos cafeicultores que restaram, desde então, reduziram a área de café, mas melhoraram o manejo do solo e da cultura e hoje colhem 25 scs/ha.
 
 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.