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O lado ruim e o lado bom da economia


Argemiro Luís Brum

O lado ruim é que, sob fundo de nova crise bancária internacional, onde o Crédit Suisse, o Silicon Valley e o Signature Bank já quebraram, a economia geral entra em uma zona ainda mais turbulenta neste início de 2023. Um dos embriões disso é que os agentes financeiros mundiais superestimaram a queda da inflação. Como ela resiste, os juros básicos continuam subindo e os Bancos Centrais tendem a não ceder às pressões políticas para baixá-los tão cedo (a crise bancária pode alterar essa postura).

Assim, não se pode descartar um quadro recessivo mundial logo adiante, talvez iniciado pela nova crise bancária. O lado bom do processo é que o PIB mundial está melhor do que o esperado para este momento. Isso sustenta o crescimento e melhora as contas externas de países como o Brasil. Mas, no nosso caso, precisamos urgentemente de um ajuste fiscal robusto. Daí a importância do novo arcabouço fiscal, com a nova âncora de gastos. Ou o mesmo vem bem construído, ou a economia desanda ainda mais. Não há mágica ou atalho.

A economia nacional (PIB) já vem recuando desde o 2º trimestre de 2022, e os fatores que a melhoraram, na primeira metade de 2022, não existem mais, porém, ficou uma inflação de serviços e de custos. Ao mesmo tempo, o endividamento e a inadimplência geral disparam. Com isso, o crédito se retrai e o juro sobe. Se é necessário gastar mais no social, torna-se imprescindível cortar em outros lugares, ou arrecadar mais (quem irá pagar a conta?).

O certo é que, se o Banco Central ceder às pressões e reduzir o juro na marra, teremos uma inflação mais alta e menos ancoragem dos gastos públicos, levando a um descontrole fiscal ainda mais perigoso. Afinal, não se pode esquecer que os governos são os grandes devedores do país e, portanto, indutores da inflação. Assim, infelizmente, se não houver correção na relação “gastos x receitas” públicas, a saída é frear ainda mais a economia para conter a inflação. A gastança pública irresponsável, acelerada nos últimos 15 anos, está cobrando o seu preço sobre a estabilidade da economia. O lado bom é que ainda dá para corrigir. O lado ruim é que o problema avançou tanto, que o ajuste vai doer, e muito! E o desafio, para um Brasil melhor, dentre as escolhas a serem feitas, é o governo conseguir dividir o custo dos ajustes entre toda a sociedade, eliminando os privilégios.

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