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O pacto verde


Argemiro Luís Brum

As atuais manifestações dos produtores rurais europeus trazem à tona uma situação que redobra a necessidade de atenção por parte dos agricultores brasileiros, exportadores de commodities. Trata-se do Green Deal ou Pacto Verde como passou a ser chamado no Brasil. Por um lado, os produtores europeus protestam exigindo que sua aplicação seja mais lenta, mais racional em relação às tecnologias e ao seu processo produtivo. Por outro lado, mesmo a Comissão Europeia cedendo a determinadas pressões, é evidente que o Pacto será posto em prática, servindo também, mais uma vez, de arma protecionista para os europeus. Pois a partir de 2025 a Europa não deverá mais importar produtos agrícolas que não tenham comprovação formal de sustentabilidade. Para o Brasil, isso não diz respeito apenas à Amazônia, mas sim a toda a produção primária nacional. A Europa busca, com o Pacto Verde, alcançar a neutralidade climática até 2050. Com isso, busca reduzir de forma significativa a liberação de gases do efeito estufa e o consumo de produtos de alto impacto ambiental. No caso da agropecuária, tais medidas atingem sete cadeias produtivas, sendo duas de alto interesse para o Brasil: pecuária e soja. Os países fornecedores dos produtos destas sete cadeias produtivas (as outras são café, cacau, madeira, borracha e óleo de palma) serão classificados em categorias de risco para o cumprimento dos objetivos a que se propõem os europeus. E não bastará dizer que estamos fazendo uma agropecuária “mais ecológica”, pois teremos que comprovar isso. Embora ainda não esteja claro como será esta comprovação, o fato é que tais exigências também atingem os próprios produtores europeus, os quais as julgam muito intempestivas e draconianas. Porém, apoiam integralmente que as mesmas atinjam os produtos concorrentes vindos do resto do mundo em geral e do Brasil em particular. E a União Europeia é nosso segundo maior importador de produtos primários, atrás apenas da China, sendo que as sete cadeias produtivas indicadas nos renderam US$ 86 bilhões em exportações para a Europa em 2022. E não adianta acharmos que, por estarmos, hoje, mais voltados ao mercado asiático, tais medidas terão pouco efeito sobre nós. Além disso, a Ásia começa a caminhar na mesma trilha europeia, sem falar nas mudanças exigidas, bem ou mal, no próprio mercado interno brasileiro.

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